Oliva acaba de entrar no roteiro turístico que mostra o miolo de fábricas

Turismo Industrial de São João da Madeira celebra quarto aniversário com o novo circuito do ferro, entradas gratuitas, e 80 mil visitantes.

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Adriano Miranda

António Ribeiro nunca tinha subido à torre da Oliva. Trabalhou 36 anos na metalúrgica e em vários sectores, na mecânica geral, nas máquinas de costura, nos motores a petróleo para rega, na oficina das ferramentas. “A torre é um adorno que se fez no edifício para se ver ao longe”, conta.

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António Ribeiro nunca tinha subido à torre da Oliva. Trabalhou 36 anos na metalúrgica e em vários sectores, na mecânica geral, nas máquinas de costura, nos motores a petróleo para rega, na oficina das ferramentas. “A torre é um adorno que se fez no edifício para se ver ao longe”, conta.

Era uma área restrita de onde se via todos os pavilhões e a cidade à volta. António sobe, ansioso, até ao alto da torre. Chega lá acima e aprecia a vista das janelas envidraçadas, as instalações da empresa que já não funciona. “Vê, ali, foi onde a Oliva começou, naquelas casinhas mais pequenas”, aponta. 

António Ribeiro, de 82 anos, é um dos novos guias do projecto Turismo Industrial de São João da Madeira que acaba de inaugurar o circuito do ferro, que inclui uma apresentação da história da Oliva, a subida à torre e uma visita à zona 2 da metalúrgica, onde está agora instalada a Oliva Creative Factory, espaço de indústrias criativas e de iniciativas culturais. 

No edifício da torre da Oliva, onde funciona a recepção do Turismo Industrial, há fotos antigas nas paredes, que mostram o esplendor da antiga fábrica. António Ribeiro e o outro guia, Magalhães dos Santos, vão-se completando na visita feita pela primeira vez nesta segunda-feira. 

A Oliva tinha cooperativa, orfeão, creche, refeitório. Tinha um ramal da linha do Vouga por onde entravam e saíam comboios com material. Terá sido a primeira empresa a oferecer prendas aos filhos dos funcionários nas festas de Natal e chegou a empregar 3346 trabalhadores. 

“Havia um complemento de ordenado para quando se estava de doença”, recorda Ribeiro. “Era uma empresa que se antecipou a medidas do Estado”, acrescenta Magalhães dos Santos. Ribeiro está contente com a reabertura desta parte da Oliva. 

“Não se deve perder a memória da Oliva na nossa terra”. E lembra-se dos “banquetes”, pelo menos de dois, quando a secção das máquinas de costura Oliva foi inaugurada, em 1948, e quando o patrão, o senhor António Oliveira, fez 80 anos. “O fato de macaco azul era o nosso orgulho”, confessa. 

Há quatro anos, São João da Madeira criou um roteiro turístico com fábricas em plena laboração. Quatro anos depois, 80 mil visitantes, seis empresas, três instituições e a Oliva. Numa fase posterior, o primeiro piso do edifício da torre terá uma exposição com peças, fotos, vídeos. Na cave, o Museu do Calçado prepara-se para receber mobiliário e conteúdos. 

A indústria da colchoaria anda debaixo de olho para integrar o roteiro e já há novidades à mesa através das gastroformas com sapatos, chapéus e lápis comestíveis. E em época de aniversário, este roteiro tem visitas gratuitas na quinta, na sexta e no sábado – as inscrições podem ser feitas através do 256 200 204 ou do email turismoindustrial@cm-sjm.pt. 

O balanço de quatro anos de actividade é positivo e o roteiro turístico sanjoanense, dizem os promotores, já é cobiçado dentro e fora do país. Em Outubro do ano passado, uma comitiva brasileira esteve em São João da Madeira a analisar o funcionamento destes percursos por fábricas que se mostram tal como são. 

“É um projecto pioneiro a nível nacional, não pelo facto de abrirmos as portas das fábricas, mas sim pelo nosso modelo de gestão, de funcionamento”, adianta Alexandra Alves, responsável pelo Turismo Industrial. É o município que gere as visitas dentro das empresas e instituições que se disponibilizam a mostrar o seu processo de fabrico. 

“Estamos a ser copiados pelo modelo de gestão”, garante, acrescentando que São João da Madeira é considerado “o centro do turismo industrial a nível nacional”. “E o número de visitantes mostra que estamos a ter bastante procura”. Há também procura do exterior, embora seja uma percentagem residual, de cerca de 5%. Os visitantes estrangeiros chegam sobretudo de França, Itália, Bélgica e Alemanha. 

 “O que éramos e o que somos”

“Temos de mostrar o que temos de mais genuíno: a nossa matriz industrial, que faz parte de nós e das nossas famílias”, sublinha Ricardo Figueiredo, presidente demissionário da câmara e recandidato às eleições intercalares do próximo domingo, na abertura do circuito do ferro. 

Na opinião do autarca, o roteiro pela indústria sanjoanense mostra duas realidades. “Aquilo que nós éramos e aquilo que nós somos”. A Viarco, a única fábrica de lápis do país, e o Museu da Chapelaria, único na Península Ibérica, são os locais mais procurados pelos visitantes. 

Na lista deste percurso estão mais fábricas: a Fepsa, líder mundial na produção de feltros para chapéus; a Cortadoria Nacional de Pêlo, que fornece pêlo de animais para os feltros dos chapéus; as empresas de calçado Helsar, que fabrica sapatos femininos de alta qualidade, e a Evereste, de calçado masculino; e a empresa têxtil Heliotextil. A Academia de Design do Calçado e o Centro Tecnológico do Calçado também fazem parte deste “passeio” que cada visitante escolhe à medida das suas preferências.