Nuno Teotónio Pereira, um realismo sem precedentes na arquitectura e na vida
Depoimento de Ana Tostões.
Tive o privilégio de conviver com o Nuno Teotónio Pereira durante mais de 25 anos e de descobrir o arquitecto que mudou a arquitectura portuguesa. Mas também de desvendar o homem generoso, justo e desassombrado que se bateu pelas causas sociais. Construímos uma amizade intensa, solidária, feita de lealdade e admiração. Em 2005, quando o Nuno me convidou para ser madrinha do seu doutoramento honoris causa, lembro-me de ter começado o discurso de homenagem dizendo que o que mais impressiona, na arquitectura e na vida, é a sua honestidade e busca permanente de verdade. Porque são os conceitos e não as formas que estão na base da sua reflexão e prática arquitectónica. Ao rigor e exigência disciplinar aliou uma capacidade crítica, original e polémica. A uma insaciável curiosidade intelectual aliou a vontade de intervenção, de quem acredita na possibilidade de um mundo melhor.
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Tive o privilégio de conviver com o Nuno Teotónio Pereira durante mais de 25 anos e de descobrir o arquitecto que mudou a arquitectura portuguesa. Mas também de desvendar o homem generoso, justo e desassombrado que se bateu pelas causas sociais. Construímos uma amizade intensa, solidária, feita de lealdade e admiração. Em 2005, quando o Nuno me convidou para ser madrinha do seu doutoramento honoris causa, lembro-me de ter começado o discurso de homenagem dizendo que o que mais impressiona, na arquitectura e na vida, é a sua honestidade e busca permanente de verdade. Porque são os conceitos e não as formas que estão na base da sua reflexão e prática arquitectónica. Ao rigor e exigência disciplinar aliou uma capacidade crítica, original e polémica. A uma insaciável curiosidade intelectual aliou a vontade de intervenção, de quem acredita na possibilidade de um mundo melhor.
A contemporaneidade da sua obra é prova da resistência a modas e estilos. Nuno Teotónio Pereira foi o militante do moderno contra o estilo “nacional” que, sem esquecer as raízes, procurou a verdade da construção. Acreditava na possibilidade de uma terceira via, pelo que foi capaz de manter um olhar crítico em relação ao dogmatismo do ideário moderno, batendo-se pela ponte com a arquitectura vernácula e pela urgência da reconciliação com a história e a memória. A sua obra confunde-se com o magistério do pedagogo porque à margem do academismo da escola de Lisboa, o seu atelier funcionou como uma escola de inovação e discussão. Pioneiro do trabalho de equipa, sempre disponível para arriscar novas soluções, o magistério sustentou-se na pesquisa do arquitecto, na disponibilidade do pensador, na tolerância do homem; cidadão de coragem, capaz de ser solidário e interveniente, de partilhar com os outros as suas grandes inquietações.
Para entender o seu percurso é preciso ter em conta o empenhamento nas causas sociais, a que acrescentou uma dimensão, vital, a de intervenção na sociedade. Com bom desenho e coragem bateu-se pela habitação para o “maior número”. Hoje, mais do que nunca, é o lutador inconformado que sabe que “a cidade é coisa colectiva”.
Nuno Teotónio Pereira é para nós um exemplo de coerência, rigor e tenacidade. Por isso a nossa responsabilidade é imensa para podermos ser dignos da exigência do seu magistério, do desassombro da sua inteligência, da generosidade da sua acção. Nuno, obrigada pelos ensinamentos de todos estes anos, por nos ter ensinado a disciplina do rigor e da exigência, por ter partilhado connosco a sua vontade de um mundo melhor, por ter feito da sua vida um modelo de solidariedade e generosidade.