“Um milhão veio a Portugal e ficou alojado através da Airbnb”

Arnaldo Muñoz, director ibérico da Airbnb, avança que a plataforma duplicou o número de hóspedes em 2015. Casas disponíveis para alugar aumentaram 65% à boleia do boom no turismo e da nova lei para o alojamento local.

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Arnaldo Muñoz é director ibérico da Airbnb Rui Gaudêncio

Arnaldo Muñoz, director ibérico de Airbnb, veio a Lisboa e ficou alojado numa das 34 mil casas que a plataforma tem registadas em Portugal. A empresa norte-americana alojou um milhão de pessoas em 2015, um número recorde que se junta aos 65 milhões que, no ano passado e em todo o mundo, alugaram casa online através do seu site. Pondo o número em perspectiva, até Outubro o país registou um total de 15 milhões de hóspedes, o que significa que, caso fosse incluída nas estatísticas do INE, a Airbnb já alojaria mais de 6% do total de visitantes. A “normalização” da economia colaborativa é o objectivo.

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Arnaldo Muñoz, director ibérico de Airbnb, veio a Lisboa e ficou alojado numa das 34 mil casas que a plataforma tem registadas em Portugal. A empresa norte-americana alojou um milhão de pessoas em 2015, um número recorde que se junta aos 65 milhões que, no ano passado e em todo o mundo, alugaram casa online através do seu site. Pondo o número em perspectiva, até Outubro o país registou um total de 15 milhões de hóspedes, o que significa que, caso fosse incluída nas estatísticas do INE, a Airbnb já alojaria mais de 6% do total de visitantes. A “normalização” da economia colaborativa é o objectivo.

Quantas pessoas recorreram à Airbnb para reservar alojamento em Portugal em 2015 e qual o seu perfil?
Terminámos o ano com um milhão de pessoas que vieram a Portugal e ficaram alojadas através da Airbnb. É um número espectacular e praticamente o dobro do que registámos em 2014. O que fazemos é pôr em contacto hóspedes e proprietários e, quando olhamos para quem viaja, o primeiro facto que surpreende é que o perfil não é apenas de pessoas jovens. Cerca de 20 a 25% dos hóspedes têm mais de 50 anos, já criaram os filhos e descobriram a plataforma. Mas em média as reservas que recebemos são para três ou mais pessoas, com idades entre os 30 e os 35 anos. Têm vontade de, quando viajam, viverem como um local e é essa a promessa que fazemos aos nossos clientes. Este milhão de visitantes que esteve em Portugal em 2015 o que queria era ir a restaurantes, visitar sítios e lojas que os lisboetas ou os portuenses frequentam. E Lisboa já é o 14.º destino mais importante para a Airbnb em termos de anúncios.

A nível mundial?
Sim. A Airbnb já tem dimensão global e a importância de Lisboa é muito elevada. É uma cidade onde é possível fazer muitas coisas, um destino onde se pode, sair, ir a restaurantes, frequentar sítios como os habitantes fazem e isso atrai o tipo de hóspedes que utilizam a plataforma.

Em 2014 Lisboa já era o 14.º destino mais importante?
Sim. Mas este ano registámos um grande crescimento em termos globais. Lisboa está em 14.º em número de anúncios e em 10.º em número de hóspedes. Olhando para o Porto, é interessante verificar que durante o mês de Dezembro, o destino mais procurado foi o Porto, sobretudo por parte de norte-americanos, o que é espectacular. Os quatro países [que mais reservam para Portugal através da Airbnb] são França (24,8%), Alemanha (10,5%), Reino Unido (9,3%) e Espanha (9,1%). Mas em quinto, com 6,8% em número de hóspedes, estão os Estados Unidos. A maioria vem para uma escapadela urbana mas há muitos que vêm dos Estados Unidos.

Quantos proprietários têm em Portugal?
No total temos 34 mil anúncios. Cerca de 12 mil são na área da Grande Lisboa (mais 60% face a 2014) e uns 3700 no Porto, mais 90% do que no ano anterior. Temos também muitos anfitriões no Algarve, região que atrai muitos turistas britânicos. Penso que em 2015 houve um impacto muito positivo da nova regulação [para o alojamento local], que deu segurança jurídica aos particulares para alugarem as suas casas. Penso que é um daqueles casos em que a oferta gerou a procura. Para crescer, precisamos de anfitriões dispostos a receber os hóspedes.

Quantos anúncios de casas portuguesas tinham em 2014?
A evolução em 2015 face ao ano anterior foi de 65%. Portugal está 11.º lugar mundial em termos de anúncios na Airbnb, num ranking liderado pelos EUA. Como há muito boa oferta em Lisboa, isso permite que haja cada vez mais visitantes. A Airbnb não funciona através de grandes campanhas de publicidade, não verão campanhas na TV nem nas redes digitais. Mas usamos um mecanismo básico que é o boca a boca. Se o utilizador tiver uma boa experiência, partilha-a.

Qual foi o contributo da nova lei para este crescimento? Ou foi mais uma conjugação de factores?
Não temos dados que nos permitam analisar esse contributo. Mas penso que é a soma de vários factores. Portugal teve uma visão estratégica clara, que considerou as novas formas de turismo, quer por canais digitais, quer através da economia colaborativa. Lisboa não é o 14.º destino a nível mundial. Mas é-o na Airbnb porque entre várias coisas, gerou-se um terreno favorável que permitiu regular a oferta e uma procura que, consequentemente, cresceu.

Os proprietários são particulares ou também há empresas?
Em toda a Europa (são os dados que tenho), 70% dos utilizadores só têm um anúncio E 50% dos que têm a casa na plataforma fazem-no por motivos económicos. Porque é a única forma de manterem as suas casas, porque têm empréstimos e assim conseguem chegar ao final do mês e suportar a despesa. Este é um negócio essencialmente entre particulares. São pessoas como as que eu contactei para ficar alojado em Lisboa, têm um anúncio e que hoje às sete da tarde me recebem para mostrar a casa e o bairro.

Em Madrid os proprietários conseguem ter um rendimento médio de 320 euros. E em Lisboa?
Ainda não temos esses dados, mas em Junho vamos ter um estudo de impacto económico. Fazemo-lo para todos os destinos que têm, de facto, importância na plataforma.

Há casos de pessoas que ganham a vida apenas com o aluguer de casas a turistas?
Quando tivermos o estudo saberei dar a resposta, mas olhando para os dados de Espanha, nomeadamente Madrid e Barceloha, serão uma minoria. Considerando os 320 euros de ganho médio, diria que a quantia não é muito elevada. E a maioria tem apenas uma casa na plataforma.

Mas há novos negócios que estão a nascer à boleia da Airbnb e outros sites semelhantes, empresas que já fazem a gestão do aluguer, limpezas, entrega de chaves, etc. Está a ficar mais profissional?
Não. O que se está a passar é um sector que começa por ser um nicho e, agora, por já trazer um milhão de pessoas a Portugal, torna-se num nicho relevante. Há quem se encarrega da limpeza, quem guarda as malas quando o proprietário não pode, etc. Em muitos casos são mais exemplos de economia colaborativa em que os anfitriões, para chegar ao fim do mês, estão a fazer serviços adicionais de lavandaria, vão buscar os hóspedes ao aeroporto, entre outros. São novos nichos que nascem de um fenómeno que está a ganhar mais força. E é mais um fenómeno urbano. Esses serviços não surgem na plataforma, o que fazemos é colocar proprietários e utilizadores em contacto.

A Airbnb captou um milhão de pessoas em 2015, pessoas que não se hospedaram na hotelaria mais convencional. Como é a vossa relação com o sector? Mais tranquila do que em Espanha?
Somos novos e qualquer fenómeno que é novo gera inquietude. O que o tempo mostra é que essa inquietude é injustificada. Se olharmos para as taxas de ocupação hoteleira em Lisboa, verificamos que têm atingido recordes. Há duas métricas básicas na hotelaria: a ocupação, porque tens um edifício e tens de o ocupar, e o revpar, as receitas por quarto. No último ano, as taxas de ocupação e o revpar de Lisboa e do Porto foram mais altas do que nunca. Se estivéssemos a afectar a procura dos hotéis, as taxas baixariam. Isso demonstra que somos completamente compatíveis. O que o home sharing fez foi gerar novas oportunidades para viajar, que não estão a ter impacto negativo na ocupação e rentabilidade hoteleiras. Posso entender que se tenha receio do desconhecido, mas agora já não somos desconhecidos e não estamos a ter impacto negativo. Por isso, as coisas deveriam acalmar.

Argumenta então que não estão a “roubar” pessoas aos hotéis. Há, sim, mais pessoas a viajar.
Sim, quem viajava duas vezes ao ano, passou a fazê-lo quatro vezes. Novas oportunidades, novos destinos. São pessoas que querem outra experiência, que viajam com filhos e que, assim, não correm o risco de ficarem em quartos localizados em pisos diferentes, por exemplo.

Quantos portugueses utilizaram a Airbnb no último ano?
Foram 120 mil [52 mil em 2014, 7500 em 2012]. São dados muito bons. Há oito anos nem sequer existíamos e, muito rapidamente Lisboa, passou a fazer parte dos destinos pesquisados. Aqui também há a juntar o fenómeno de responder à crise com empreendedorismo e a economia entre particulares. As pessoas tentaram juntar dinheiro extra através da plataforma. Em 2008 não existíamos, hoje 1% da população portuguesa está a usar Airbnb.

Quanto facturam em Portugal?
Não divulgamos dados financeiros, nem por país, nem a nível mundial.

Cobram uma comissão de 2,3%, correcto?
Sim, ao particular que quer alugar a sua casa cobramos cerca de 3% de comissão. Ao que quer viajar entre 9 a 12%. A comissão total ronda os 12 a 15%.

Como é que garantem que todos os proprietários pagam impostos?
Regemo-nos pela normativa das plataformas. Quando chega a altura de comunicar as obrigações fiscais, enviamos aos anfitriões toda a informação sobre as suas reservas e recordamos quais são as suas obrigações fiscais. A partir daí a responsabilidade é de cada particular.

Mas a maioria cumpre ou não?
Tendo a assumir que sim. Não tenho nenhum dado estatístico, mas o que tentamos fazer é que as pessoas cumpram. Não podemos é assumir essa responsabilidade.

Já discutiram esse tema com a Autoridade Tributária?
Estamos em contacto com as autoridades. E queremos favorecer o pagamento de impostos. É a nossa obrigação.