Queremos fazer uma ponte entre a economia e a ciência

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O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral Daniel Rocha

Manuel Caldeira Cabral defende o reforço no investimento na ciência e propõe a alteração do perfil dos centros tecnológicos: Para o ministro, há um problema no país entre a ciência que se produz e a que está a ser absorvida pelo tecido empresarial que exige ao ministério um papel de “ponte”. 

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Manuel Caldeira Cabral defende o reforço no investimento na ciência e propõe a alteração do perfil dos centros tecnológicos: Para o ministro, há um problema no país entre a ciência que se produz e a que está a ser absorvida pelo tecido empresarial que exige ao ministério um papel de “ponte”. 

Portugal tem um sistema científico que se compara, bem, com os de muitos países desenvolvidos, mas há problemas nessa transferência de tecnologia para as empresas. Por exemplo, temos muito pouco doutorados na economia real. Vai manter a política do anterior Governo que financiava a contratação de doutorados pelas empresas?
Com o anterior Governo, no período do ajustamento um dos problemas foi o enfraquecimento do investimento em ciência. Nos últimos anos, Portugal teve uma evolução interessante com as universidades, que se afirmaram. Conseguimos ter universidades nos rankings das 500 ou das 100 melhores com menos de 50 anos. Essa foi uma evolução notável. Houve também uma maior colaboração das universidades com as empresas. Aí, houve universidades que avançaram muito, outras que avançaram menos. Há também instituições intermédias que estão a fazer muito bem o seu papel, como o Citeve no sector têxtil ou o centro tecnológico do calçado, que contribuíram para melhorar a mão-de-obra, que contribuíram para as empresas introduzirem mais design. Mas há outros casos, o UPtec no Porto, o Instituto Pedro Nunes em Coimbra…

Esse seu diagnóstico significa que não vê o acelerar da transferência de ciência e tecnologia para as empresas como uma prioridade?
Não, significa exactamente o contrário. Essa é uma aposta muito forte deste Governo, a de melhorar a transferência de tecnologia, de reconhecer o valor da ciência e do conhecimento que temos nas universidades e de acelerar a transferência desse saber para as empresas. Mas isso não se faz como fez o anterior Governo, enfraquecendo as universidades, enfraquecendo os centros tecnológicos. Faz-se, pelo contrário, reforçando estas instituições e criando incentivos para que colaborem mais com as empresas.

Mas como?
Uma das ideias é de facto pôr pessoas das universidades a trabalharem nos centros tecnológicos, é abrir emprego científico e colocar doutorados a trabalhar nos centros tecnológicos e nas empresas. Este é um programa com alguns anos, mas o número de doutorados nas empresas é muito baixo e é preciso não só ter mais doutorados nas empresas, mas também empresas que tenham dimensão ou projectos tecnológicos que justifiquem a sua contratação.

Os planos para concretizar essa intenção já estão desenhados? Em que fase estão?
Os planos estão a ser desenhados e trabalhados. Alguns estão no programa do Governo, que prevê não só o reforço dos centros tecnológicos como alterações no estilo inspiradas no modelo inglês e no modelo alemão de transferência de tecnologia. Isto foi muito discutido no nosso programa de Governo e o que estamos a fazer é um trabalho em conjunto com o Ministério da Ciência, porque o que queremos é fazer esta ponte entre a economia e a ciência, uma ponte em que no meio vão estar as empresas a beneficiar das políticas públicas para a economia e da capacidade científica e tecnológica que há no Ministério da Ciência.