Irão liberta jornalista do Washington Post e três outros americanos
Gesto no dia em que se espera relatório da agência nuclear da ONU que abre caminho ao levantamento das sanções pelo desenvolvimento do programa nuclear iraniano.
O Irão libertou este sábado quatro prisioneiros norte-americanos, no que a agência noticiosa Fars diz ser uma troca de presos. Um deles é o correspondente do Washington Post Jason Rezaian, preso em Julho de 2014 e acusado de “espionagem” e “colaboração com governos hostis".
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O Irão libertou este sábado quatro prisioneiros norte-americanos, no que a agência noticiosa Fars diz ser uma troca de presos. Um deles é o correspondente do Washington Post Jason Rezaian, preso em Julho de 2014 e acusado de “espionagem” e “colaboração com governos hostis".
Todos os prisioneiros libertados têm dupla nacionalidade, iraniano-americanos. A agência iraniana IRNA noticiou também que sete iranianos que estão a cumprir penas em prisões dos EUA vão ser libertados no âmbito desta troca.
Um porta-voz da Administração americana descreveu o processo, que foi iniciado no sábado, como “um gesto humanitário” e não uma troca de espiões no sentido tradicional. Também desmentiu qualquer ligação entre a libertação dos prisioneiros e as medidas acordadas em Viena para o levantamento do embargo ao Irão: de acordo com fontes oficiais dos EUA, citadas pelas agências sob anonimato, a troca de prisioneiros foi negociada em segredo ao longo do último ano.
Os EUA já confirmaram que os quatro norte-americanos detidos pelo Irão (todos eles detentores de dupla nacionalidade) saíram da prisão e precisaram que se encontravam bem e ainda em território iraniano. Os mesmos responsáveis admitiram que outros cidadãos norte-americanos, nomeadamente um antigo agente do FBI, Robert Levinson, desaparecido durante uma viagem ao Irão em 2007, continuarão debaixo da mira da justiça iraniana, que apesar de dizer que desconhece o seu paradeiro o trata como foragido.
Jason Rezaian, de 39 anos, passou mais de 500 dias na prisão, debaixo da acusação de espionagem que o seu jornal reputou de “absurda”. Em Novembro, foi finalmente condenado, depois de um processo em que alegadamente lhe foi negada representação legal. Saeed Abedini, de 35 anos, um muçulmanos convertido ao cristianismo e que se tornou pastor evangélico, organizava sessões religiosas ao domicílio quando foi detido, em Julho de 2012, sob a acusação de tentativa de deposição do regime, pela qual foi condenado a oito anos de prisão.
Além deles, foi também libertado o antigo fuzileiro Amir Hekmati, de 32 anos, preso há mais de quatro anos no decurso de uma visita ao Irão para ver a sua avó. O marine, que era também linguista de árabe e persa, foi acusado de espionagem e colaboração com governos hostis: foi apresentado na televisão iraniana a confessar os seus crimes, numa declaração que os EUA e a sua família consideraram como “fabricada”. Condenado à morte, a sua pena foi depois revista para dez anos de prisão. Finalmente, entre os cidadãos que recuperaram a liberdade foi identificado Nosratollah Khosravi, cuja detenção era desconhecida.
Esta libertação acontece no dia em que se espera que comecem a ser levantadas as sanções impostas à república islâmica como penalização pelo desenvolvimento do seu programa nuclear, logo após a divulgação de um relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) com a confirmação do cumprimento de todos os passos negociados pelo chamado grupo 5+1 de aliados ocidentais com o Irão, aquando da assinatura do histórico acordo para a limitação e escrutínio do seu programa nuclear.
O compromisso alcançado pelo chamado grupo 5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China + Alemanha) permite levantar o véu sobre o controverso programa atómico iraniano, que se desenrolava no mais completo secretismo há mais de uma década: ao longo desses anos, o regime foi alegando que as suas actividades tinham fins pacíficos de produção de energia e investigação médica e científica, e as potências ocidentais foram contra-argumentando que o desenvolvimento dessa tecnologia permitiria a construção de uma bomba atómica.
O documento, que tem mais de 100 páginas (incluindo quatro anexos técnicos) estabelece um sistema de verificação internacional do programa atómico e da actividade das unidades nucleares iranianas, a cargo da Agência Internacional da Energia Atómica – que fica em condições de “avaliar as possíveis dimensões militares do programa iraniano até ao fim de 2015”, confirmou o seu director Yukiya Amano. “Todos os caminhos possíveis para a construção de uma bomba nuclear ficaram cortados”, salientou Barack Obama.
Em contrapartida, os aliados internacionais aceitam remover, gradualmente, as sanções que foram impostas ao Irão, e que levaram por exemplo à redução para metade das exportações de petróleo (nos mercados, o preço do crude caiu mais de 2% assim que o acordo foi anunciado). Numa comunicação formal ao país, Hassan Rohani falou no fim de uma “crise desnecessária”, que trouxe sérios prejuízos e dificuldades à vida quotidiana dos iranianos – referindo-se aos anos de contracção económica por efeito das sanções.