Frances Morris, a primeira mulher e a primeira britânica a dirigir a Tate Modern

Substituta de Chris Dercon vem de dentro da instituição e é muito elogiada no sector. Membro do Conselho Consultivo do Museu de Serralves, no Porto, é defensora da divulgação das mulheres artistas, da fotografia e da instalação.

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Frances Morris tem 57 anos e está na Tate desde 1987 Tate Photography

Membro da equipa fundadora do mais visitado museu de arte moderna e contemporânea do mundo, Frances Morris será a próxima directora da Tate Modern. A primeira mulher e a primeira britânica no cargo foi até agora responsável pela sua colecção internacional. A nomeação está a ser saudada de forma positiva no sector.

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Membro da equipa fundadora do mais visitado museu de arte moderna e contemporânea do mundo, Frances Morris será a próxima directora da Tate Modern. A primeira mulher e a primeira britânica no cargo foi até agora responsável pela sua colecção internacional. A nomeação está a ser saudada de forma positiva no sector.

Dada a saída anunciada do belga Chris Dearcon da Tate Modern para, em 2017, dirigir a Volksbühne de Berlim, um dos mais importantes teatros alemães, a posição vai ser então ocupada por esta curadora que em 1987 se juntou à Tate (a instituição-mãe que alberga as colecções nacionais britânicas de arte britânica e contemporânea). Foi a primeira responsável de exposições da Tate Modern entre 2000 e 2006, estando desde então à frente da colecção internacional. Com um currículo preenchido, Frances Morris ocupa, entre outros cargos internacionais, um lugar de membro no Conselho Consultivo do Museu de Serralves, no Porto.

Frances Morris tem 57 anos e tomará posse “ainda este ano”, como indica a Tate Modern em comunicado divulgado sexta-feira. “Entusiasmada” com esta nomeação para um novo cargo numa “instituição verdadeiramente única”, Morris diz-se “ansiosa por assumir este novo papel numa altura tão excitante para o museu” – este ano, a Tate Modern inaugura uma extensão de dez andares no valor de 340 milhões de euros, novamente projectada pela dupla de arquitectos Herzog & de Meuron, e ganhará mais 60% de espaço expositivo.

Morris apostou na fotografia, na instalação ou na performance ao logo da sua carreira na Tate Modern, e é também apontada como uma das grandes responsáveis pelo reforço da representação de mulheres artistas na instituição. Foi, como lembra o diário britânico Guardian, curadora das retrospectivas (de grande sucesso) dedicadas a Yayoi Kusama, Agnes Martin e Louise Bourgeois – o seu novo projecto para a colecção Artists Rooms (na tal nova extensão de dez andares que o museu vai ganhar em Junho) terá exactamente como primeira exposição um conjunto de obras da artista franco-americana. “É verdade que os feitos de mulheres nas artes não foram reconhecidos ao longo de muitos anos… tentámos tirar das sombras pessoas que têm sido negligenciadas."

O director da Tate, Nicholas Serota, descreve Morris como “uma pensadora inovadora que moldou e desenvolveu a colecção internacional” e que ajudou “a estabelecer a Tate Modern como uma das galerias de arte contemporânea e moderna de primeira linha do mundo”. O crítico de arte do Guardian, Adrian Searle, elogia Frances Morris como uma conhecedora “que se preocupa com a arte”, que “tem opiniões” e que “não é influenciável”. O director do Festival Literário Internacional de Edimburgo, Nick Barley, considerou esta “a melhor notícia” que teve este ano por Morris ser, “absolutamente, a escolha certa”. A South London Gallery também recorreu ao Twitter para elogiar as “fantásticas novidades – a Tate nomeou uma mulher como directora para a Tate Modern”.

O seu perfil académico fez-se na História de Arte na Universidade de Cambridge e no Courtauld Institute of Art. É especialista em arte contemporânea do pós-Guerra e comissariou projectos de artistas como Miroslaw Balka, Chris Burden, Mark Dion, Luciano Fabro ou Nicholas Pope. A sua ascensão ao cargo de directora da Tate Modern está também a ser vista no sector museológico do Reino Unido como sendo estratégica e “imaginativa” para o futuro – tendo em vista a sucessão na própria Tate Britain “Quando Nick Serota decidir retirar-se”, defende no Financial Times Thomas Marks, director da revista internacional de arte Apollo, “vai ser muito importante ter pessoas em posições verdadeiramente seniores que saibam as prioridades da instituição nos últimos 15, 20 anos”.

A saída do actual director, Chris Dercon, que deve concretizar-se este ano, foi anunciada em Abril passado. E foi mal recebida no seu novo país de destino, a Alemanha. O terceiro director da Tate Modern (precederam-no o espanhol Vicente Todoli, que vinha de Serralves, e o sueco Lars Nittve) tem uma experiência totalmente feita no meio das artes plásticas e foi visto por muitos críticos e agentes do sector em Berlim como uma escolha problemática para a direcção dos destinos de uma das mais importantes salas do mundo  a Volksbühne (Teatro do Povo) existe há um século com orçamentação pública destinada a promover teatro naturalista a preços acessíveis e acolhe projectos com linguagens mais experimentais.

A Tate Modern foi inaugurada em 2000 e foi dirigida por Lars Nittve até 2002, entrando depois em cena Vicente Todoli em 2002 e até 2010, quando chegou Dercon. Também no ano passado, Penelope Curtis, directora da Tate Britain, abandonou o seu cargo para vir ocupar a direcção do Museu Gulbenkian, em Lisboa. Foi substituída por Alex Farquhason, fundador da Nottingham Contemporary.