Bial aplica um quinto da sua facturação no desenvolvimento de novos produtos
Maior grupo farmacêutico nacional factura 200 milhões de euros, e aplica 40 milhões por ano em I&D e vende medicamentos em 55 países. O problema no ensaio clínico em França pode afectar seriamente a reputação da empresa e prejudicar o negócio.
Começou como um pequeno laboratório familiar, fundado em 1924, e hoje é a maior empresa portuguesa da área farmacêutica, vende medicamentos em mais de 55 países, tem uma facturação superior a 200 milhões de euros e emprega mais de 950 trabalhadores em todo o mundo.
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Começou como um pequeno laboratório familiar, fundado em 1924, e hoje é a maior empresa portuguesa da área farmacêutica, vende medicamentos em mais de 55 países, tem uma facturação superior a 200 milhões de euros e emprega mais de 950 trabalhadores em todo o mundo.
Nas últimas duas décadas, o grupo tem alocado sempre cerca de um quinto da sua facturação em projectos de investigação e desenvolvimento (I&D) focados nas áreas do sistema nervoso central, no sistema cardiovascular e no tratamento de alergias.
Foi essa aposta em I&D que lhe permitiu, 15 anos e 300 milhões de euros investidos depois, ter autorização para comercializar o primeiro medicamento de raíz patenteado por uma farmacêutica portuguesa, o acetato de eslicarbazepina, um antipiléctico que é vendido sob o nome comercial de Zebinix. A apenas dois anos de alcançar o objectivo de começar a pagar as contas do investimento feito na investigação e desenvolvimento deste produto – algo que estava apontado para 2017 e 2018 – as noticias que chegam de França com um dos seus ensaios pode vir a abalar seriamente a sua reputação. No ano passado, o laboratório também enfrentou más noticias, com buscas da Judiciária por suspeitas de corrupção que recaíam sobre alguns dos seus delegados comerciais.
O pedido de patente do Zebinix foi feito em 1996, mas a atribuição de licença para os mercados europeus só chegou em 2009. Nos Estados Unidos, um mercado com um potencial “enorme”, como admitiu na altura a empresa, a licença só chegou em 2014, e trouxe um importante impulso à política de internacionalização da empresa que esteve sempre, até então, muito centrada na Europa.
Depois de ter em Luís Portela o rosto da gestão da empresa durante décadas, desde 2011 (o ano da chegada da troika em Portugal) que os destinos da Bial são comandados pelo filho, Antonio Portela, que, sem se afastar das directrizes desenhadas pelo pai, manteve na investigação de novas soluções terapêuticas a base da sua expansão internacional.
Faltava a "complexa" França
Na Europa a Bial tem uma filial em Espanha há quase 20 anos, comprou uma empresa em Itália há cinco, e no ano passado montou duas filiais, já operacionais na Alemanha e no Reino Unido. Na última entrevista que deu, publicada há menos de uma semana no Diário Económico, António Portela referia que ainda lhe faltava conseguir uma presença mais expressiva em França, país onde apenas tinha “parceiros”. “A situação em França é muito complexa”, admitiu Portela na referida entrevista, referindo a “regulamentação proteccionista”, “os preços muito baixos” e o investimento que é necessário fazer e que é muito grande”
Todos juntos, os mercados de Espanha, Itália, Alemanha e Reino Unido representam entre 75% a 80% do mercado europeu. “O que pretendemos é que as vendas possam crescer e ter uma presença própria que nos permita continuar a desenvolver medicamentos como o Zebinix, mas também preparar já o lançamento do medicamento para o Parkinson”, afirmou António Portela, na já referida entrevista.
O presidente da Bial refere-se ao Opicapone, um novo medicamento para tratar a doença de Parkinson e o primeiro que permitiu à empresa celebrar um acordo de licenciamento para o Japão, o terceiro maior mercado farmacêutico, depois dos Estados Unidos e da União Europeia. Hoje, a Bial tem oito projectos (de novas vacinas e fármacos) em desenvolvimento (pipeline), três estão já registados após passarem as três fases de ensaio, um está na última fase (III), e dois na fase I (entre os quais a molécula que estava a ser testada em França com o nome de código Bia 10-2474) e ainda há outros dois em fase de ensaio pré-clínico.
Depois da comercialização do Zebinix (cujas vendas, em 2015, e depois da entrada no mercado norteamericano, vão significar 100 milhões de euros, ou seja, cerca de metade da facturação registada em 2014), a Bial caminha a passadas largas para ver começar a ver os resultados da comercialização do seu segundo medicamento na europa comercialização do seu segundo medicamento no mercado europeu. As expectativas do laboratório farmacêutico era a de conseguir no primeiro trimestre deste ano a licença de comercialização do Opicapone no mercado europeu.