Desgraças
As “presidenciais” têm escondido o estado lamentável da direita, sob a capa da popularidade de Marcelo.
Dia e noite a televisão e os jornais discutem a “ideologia” e o “posicionamento” dos candidatos presidenciais. É uma conversa fátua que despreza a realidade e obscurece a verdadeira situação do país. O futuro Presidente não contará muito na política do país. Se for uma das nove personagens da esquerda, não terá outro remédio senão seguir e apoiar o governo de Costa. Se for Marcelo, também não. Nenhum Presidente pode correr o risco de dissolver a Assembleia da República, sem a certeza de que o eleitorado lhe devolverá uma nova maioria. Marcelo não promete ajudar o inominável Costa porque gosta especialmente da criatura, mas porque se o mandasse embora ele voltaria uns meses depois mais sólido e mais forte; e Belém perderia toda a espécie de autoridade no regime e no país.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Dia e noite a televisão e os jornais discutem a “ideologia” e o “posicionamento” dos candidatos presidenciais. É uma conversa fátua que despreza a realidade e obscurece a verdadeira situação do país. O futuro Presidente não contará muito na política do país. Se for uma das nove personagens da esquerda, não terá outro remédio senão seguir e apoiar o governo de Costa. Se for Marcelo, também não. Nenhum Presidente pode correr o risco de dissolver a Assembleia da República, sem a certeza de que o eleitorado lhe devolverá uma nova maioria. Marcelo não promete ajudar o inominável Costa porque gosta especialmente da criatura, mas porque se o mandasse embora ele voltaria uns meses depois mais sólido e mais forte; e Belém perderia toda a espécie de autoridade no regime e no país.
Marcelo precisa portanto para sobreviver de se dar bem com Costa. A direita, como de costume, não percebeu isto. Tirando Paulo Portas, que não só saiu da direcção do CDS, mas sibilinamente explicou aos restos da coligação a razão fundamental que o movia. Disse ele que para recuperar o poder a direita precisava de uma maioria absoluta, repito, absoluta. As manobras de Costa, que ofereceram de repente ao PC e ao Bloco meios de acção e de influência, dividiram Portugal ao meio; e numa época de crise, com a memória recente de Passos Coelho, a esquerda ganharia qualquer eleição contra o regresso da “austeridade”. Resta assim à direita esperar que o arranjo de Costa se dissolva por si próprio e, se conseguir, enquanto espera fazer uma tentativa para se reorganizar mental e materialmente.
De qualquer maneira, as coisas não serão fáceis, nem Marcelo estará em posição de ajudar. Qualquer gesto de Marcelo a favor do CDS e do PSD passaria inevitavelmente por uma intolerável provocação ao governo de Costa e dos seus sócios. E, por outro lado, a ambiguidade interna da direita, agora dividida e desorientada, e o desprestígio geral dos partidos tradicionais não prometem nada de bom. As queixas dos jornais da facção, com títulos berrantes, não transmitem uma sensação de força, muito pelo contrário, transmitem uma sensação de impotência. As “presidenciais” têm escondido o estado lamentável da direita, sob a capa da popularidade de Marcelo, mas quem olhar bem verá o apodrecimento e o desespero de metade de Portugal, temporariamente preso num beco sem saída.