Daqui ninguém sai vivo

2016, rentrée: vem aí mais um filme de Quentin Tarantino, Os Oito Odiados, em que há uma porta que só se abre ao pontapé e que se passa num tempo e num lugar que é… um filme de Quentin Tarantino. Citando-o, kick it down.

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Tarantino não faz filmes sobre raça, mas tenta escavar as entranhas do racismo americano

Oito pessoas numa sala, oito personagens que fazem uma versão de si mesmas. De um ambiente tão rugoso quanto os espinhos dos diálogos, do meio da neve vem um novo filme de Quentin Tarantino. E isso (ainda) é um acontecimento?

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Oito pessoas numa sala, oito personagens que fazem uma versão de si mesmas. De um ambiente tão rugoso quanto os espinhos dos diálogos, do meio da neve vem um novo filme de Quentin Tarantino. E isso (ainda) é um acontecimento?

Ele, que basta ser nomeado para evocar todo um dicionário de ideias e imagens, parece estar fadado, na sua meia-idade – tem 52 anos para Os Oito Odiados, contra os seus 29 da estreia de Cães Danados – a fazer de ponte escorregadia, manchada de sangue e com uma ou outra tábua periclitante, entre o cinema de grandes audiências, de reconhecimento imediato, e o cinema de autor. E se um novo Tarantino, nome tornado adjectivo de subgénero cinematográfico, não é um acontecimento por si só, ele faz dele um evento. 

Os Oito Odiados, western com throwback para os anos 1990 e directamente para os seus Cães Danados de auspiciosa estreia, aterrou nos Estados Unidos no dia de Natal. Contra tudo e contra todos – especialmente contra todos os milhares de milhões que farão do sétimo Star Wars o maior filme de sempre e lhe terão comido parte da bilheteira, como o seu produtor e sempiterno parceiro Harvey Weinstein admitiu –, a estreia de Os Oito Odiados fez-se num formato quase extinto. E num modelo raro, mais uma vez expressão da sua retromania. 

Filmou e estreou em 70mm e num road show à antiga. Com introdução musicada, intervalo e duração de esmagadores 187 minutos. Cem salas dos EUA e Canadá receberam durante uma semana em exclusivo a maior distribuição de um filme feito e projectado em 70mm desde 1992. O 70mm, analógico, é conhecido pela clareza arrebatadora da imagem dada à sua alta-resolução e por permitir composições longas e profundas. A operação Tarantino fez com que alguns cinemas americanos se reequipassem – e até criassem mais espaço graças a uma ou outra parede deitada abaixo – com a Weinstein Company a financiar este retrofitting com opulentos e temperamentais projectores para as pesadas (90 quilos cada uma) latas com a película de Os Oito Odiados. (A 31 de Dezembro, o road show daria lugar às cópias digitais de mais ampla e fácil distribuição e exibição – 97% de ecrãs nos EUA são digitais.)

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Filmar em 70 mm nunca foi assim tão comum – sobretudo pelo seu preço, destinava-se a filmes de prestígio como Ben Hur2001- Odisseia no EspaçoLawrence da Arábia ou West Side Story – e os seus dias de glória foram os anos 1960. E o Ultra Panavision 70 era o mais raro desses suportes. Que foi, claro, aquele que Tarantino escolheu para o seu oitavo filme, decisão prévia e infamamente registada no seu primeiro esboço do guião de The Hateful Eight que, para seu desagrado, começou a circular em Hollywood no início de 2014 – um filme “em gloriosos 70mm”, lia-se já no frontispício do documento alvo de uma fuga de informação. 

Todo um acontecimento, os 70 mm e as imagens das empilhadoras usadas para carregar os exemplares do filme. Ainda assim, não evitou, no final do ano, que Os Oito Odiados surgissem na Internet, desta feita por culpa de um DVD, outro formato a caminho da obsolescência, desta feita enviado para visionamento a um produtor e rapidamente pirateado mundo fora - de forma pouco usual, o grupo responsável pela disponibilização do filme, o Hive-CM8, veio pedir desculpas e apelou a que se veja o do filme em sala. Internet à parte, Os Oito Odiados são então a edição 2015/16 da gramática Tarantino, carregada de excesso na representação da violência, na música de Ennio Morricone ou nas trocas de frases com o tradicional cariz Pinteresco, como descrevia o crítico e editor Charles McGrath no New York Times em 2012. 

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Faz parte da lenda pessoal de Tarantino a história do desistente do liceu que trabalhava no clube de vídeo Video Archives de Manhattan Beach, em Los Angeles, onde lia e via filmes. Quando, no início da década de 1990, deixou que fosse de Harvey Keitel um dos primeiros pares de olhos a ver o guião de Cães Danados, o actor perguntou-lhe sobre como escrevera aquela história – tinha de ter crescido num bairro de rufias, tinha de ter algum durão na família. Não. “‘Então como raio é que acabaste a escrever isto?’ E ele disse ‘Vejo filmes’”. O seu primeiro filme seria um primeiro acontecimento.

O futuro é vintage
Em 1992, Tarantino ainda não era “alguém”. O seu primeiro festival de cinema via-o de t-shirt nas montanhas, “como um miúdo na sua festa de anos, sem saber o que atacar primeiro, mergulhando as mãos em taças de doces, rasgando os embrulhos dos presentes ou a encher a boca de bolo”. Estava “a surfar um rush de adrenalina”, era como “Martin Scorsese no corpo de Popeye”. Cães Danados “era um indie e isto era Sundance, o santuário do espírito indie”. 

Houve palmas e reprovação para Cães Danados em Sundance, tal como dois anos depois haveria um júri presidido por Clint Eastwood na entrega da Palma de Ouro ao seu segundo filme, acompanhado por um grito sobre como “Pulp Fiction é merda” na cerimónia em Cannes. As recordações de Sundance 1992 do historiador e crítico de cinema Peter Biskind em Down and Dirty Pictures – Miramax, Sundance, and the rise of independent film misturam-se com os registos na imprensa de Cannes em 1994. A orelha que se lasca ao som de Stuck in the Middle With You motivou um coro de protestos dos acólitos do santuário indie – era “socialmente irresponsável”, descreve Biskind – e a injecção de adrenalina no coração de Uma Thurman ou os miolos estoirados por deslize no carro de Vincent Vega e Jules preocuparam a Miramax e a sua proprietária, a Disney. Mas o futuro era de Quentin Tarantino. 

E o futuro seria vintage. Depois do Grindhouse a meias com Robert Rodriguez, um road show a Oito. E pelo meio tantos regressos ao passado picando géneros, épocas e História, das artes marciais à II Guerra passando pelo Sul esclavagista de uma América relutante a olhar as suas próprias costas. A rentrée em 2016 é servida em Portugal com Tarantino como um dos pratos principais, que verá Os Oito Odiados a partir de 4 de Fevereiro e semanas antes dos Óscares (as nomeações aconteceram já após o fecho desta edição). Mas sem 70 mm. Sérgio Saruga, da distribuidora Pris, lamenta não poder exibir o western de salão com Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Tim Roth ou Jennifer Jason Leigh em 70 mm (algo que, internacionalmente, vai acontecer em seis salas na Austrália, alguns ecrãs em França, Alemanha e Reino Unido), por ausência de projectores e salas preparadas para tal em Portugal, nem sequer em 35mm por indisponibilidade de laboratórios para tal. O avanço inexorável para o digital não permite road shows à portuguesa. (O próprio formato do road show é uma Tarantinice, um regresso aos anos 1950 quando a televisão começava a fazer mossa no cinema e se faziam digressões de duração limitada com filmes projectados em 70mm como Lawrence da Arábia, A Conquista do Oeste ou Volta ao Mundo em 80 Dias com orquestra no início, intervalos longos e programas especiais.)

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Tarantino nasceu no ano em que Kennedy foi morto e mudou-se com a mãe para a Califórnia para se tornar numa espécie de fora da lei acolhido pelo sistema Larry Hirshowitz/Corbis Outline

Como seria a experiência? O CinemaScope, o formato mais comum de wide screen, tem um rácio de 2.35:1 - ou seja, é 2.35 vezes mais largo do que alto; o Ultra Panavision 70 tem um rácio de 2.75:1. Como foi a experiência nos EUA? Depois de em 2014 Interstellar se ter estreado em 70 mm em 11 ecrãs e em 2012 O Mentor ter estreado em 16 – Christopher Nolan e Paul Thomas Anderson, os seus autores, são também apologistas da película –, os primeiros relatos nas redes sociais foram de flop. O som não acompanhava a imagem, havia riscos, o formato é temperamental. Erik Loomis, responsável da distribuição da Weinstein Company, já montara uma operação 70mm para Paul Thomas Anderson, mas agora eram precisos mais projectores e lentes. “Entrámos na visão de Quentin”, recorda, e ou a fariam acontecer ou morreriam "a tentar”. 

Um ano e meio de garimpo depois – e com os preços a aumentar à medida que se sabia que eram para um “Tarantino movie” - tinha 120 projectores 70mm, 70% de todos os que existirão no mundo, recrutou os poucos projeccionistas com formação e montou uma operação de centenas de milhares de dólares a juntar aos 60 milhões que custou Os Oito Odiados

“Não é possível ter um argumento inteligente que ponha o digital, mesmo na melhor das situações IMAX, à frente dos 70 mm”, defendeu Tarantino no dia de estreia do filme, uma reacção também à ideia, que o deprime, de ver filmes em ecrãs de tablets ou telefones. “Pode ser a salvação da película, pode ser o último bastião da película, pode ser a última noite da película na arena... veremos”, diz, esperançoso na coexistência do digital e do analógico. 

A experiência de Os Oito Odiados será também de diálogo fervoroso e murros em várias partes de corpo e intelecto, o regresso do autor e de actores que gosta que existam no seu “próprio universo Quentin”. E que o vêem, como comenta Kurt Russell, mais maduro. “Já não ouvimos aquele puto espertalhão doido por filmes atrás do diálogo. Os seus ritmos são extremos e perfeitos. Informam o que ele quer que o público sinta, e as pessoas estão a ouvir a música quase mais do que as palavras, mas a música sobressai nas palavras”, disse há dias ao Guardian

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Raça de homem
Quando o seu director de fotografia, Robert Richardson, descobriu, numa visita à Panavision e num dos seus armazéns, a lente original anamórfica de 65mm usada para filmar Ben-Hur (1959) ou O Mundo Maluco, de Stanley Kramer (1963), o puzzle de Os Oito Odiados parecia estar a completar-se. Depois de quase ter desistido de o filmar, dizendo-se “traído” quando o guião lhe fugiu das mãos, uma leitura ao vivo num teatro em Los Angeles para fins de beneficência reaproximou-o do seu western. Queria também usar os 70mm fora do seu suposto meio ideal – “os travelogues”, como disse na Comic-Con de 2015. “Achei que seria muito cool nesta situação claustrofóbica”, oito fechados numa sala a tentar encontrar todos os sinónimos ofensivos possíveis para se referirem a negros ou mulheres; usar os 70mm para forçar a “intimidade” das cenas, disse à Variety.

Fazer Os Oito Odiados foi um processo turbulento, mas “havia qualquer coisa de excitante nisto, e senti-o quando fizCães Danados, e quando estava na quinta francesa e na taberna da cave de Sacanas sem Lei ou à mesa de jantar em Django Libertadodisse ao site Deadline. O novo filme “é tudo o que eu poderia alguma vez ter esperado que fosse”, “é uma peça literária. Acho que pode ser o meu melhor guião e, consequentemente, acho que pode ser a minha melhor realização do meu próprio material. O que não quer necessariamente dizer que é o meu melhor filme”.

A nova canção Tarantino, que quer marcar a temporada 2015/16, não deixou toda a gente satisfeita. Embora Richard Brody reconheça que Os Oito Odiados “exibe uma jovialidade narrativa que excede qualquer outra que mostrou desde Pulp Fiction”, o crítico da New Yorker considera estar a assistir à involução de Tarantino, à substituição das “imagens altamente infectadas da sua carreira inicial” por “uma insipidez auto-imposta, uma entrega visual monótona dos seus próprios mecanismos de guião”. No fundo, acredita, Tarantino “tornou-se uma vítima do seu próprio gosto”.

O enciclopedismo com grão de Tarantino afirmou-se primeiro em 1992, e depois em 1994, quando Pulp Fiction o tornou num herói do culto, num ícone desbragado, numa outra versão do film nerd e do genre movie geek. “Os seus primeiros dois filmes”, escreveu o romancista Bret Easton Ellis numa entrevista que lhe fez há meses para a T Magazine do New York Times, “estão, até hoje, entre as mais puras expressões de uma sensibilidade irónica da Geração X que existem na cultura cinematográfica norte-americana”. 

Foi nessa conversa com o amigo Ellis que disse uma frase que voltou a irritar aqueles que chama os “críticos sociais”: “Se [você] fez dinheiro sendo um crítico sobre cultura negra nos últimos 20 anos, tem de lidar comigo”, atirou, colocando-se sem pruridos num púlpito para falar de raça. Desde Cães Danados que a palavra nigger se mistura com a misoginia, Samuel L. Jackson e Uma Thurman são os seus amuletos mas o politicamente correcto não é com ele. Já com Django o tema da raça tinha estado na berlinda, não só por ser um dos temas do filme, mas também pela reacção adversa de Spike Lee ao “desrespeito” aos seus antepassados que considerara que o filme (que ele não viu) representava. “A escravatura não foi um western spaghetti!”.

E “seis ou oito ou 12 anos depois da Guerra Civil” americana, como situam no tempo as notas de produção de Os Oito Odiados, o tema da raça e da escravatura não desaparecem. Muito pelo contrário. Nem Samuel L. Jackson. Nem recrudesceu o crepitar das tensões raciais na América. O autor que tem em Obama o seu Presidente favorito considera que o western enquanto género diz algo “sobre a década na América em que foram feitos” - “os westerns dos anos 1950 reflectiam a era Eisenhower”, nos anos 1970 “eram basicamente westerns anti-mito – westerns Watergate”, enumera numa entrevista ao site Vulture. Para Quentin Tarantino, o seu novo filme “tornou-se mais relevante do que alguma vez poderia ter imaginado”, como confessou ao britânico Telegraph há dias, com Ferguson ou o tiroteio de Charleston a acontecerem durante a produção. Não tentou fazer um western contemporâneo, mas já era um filme no tempo do “rescaldo racial”. Os temas de Ferguson ou Baltimore “já estavam no guião. Já estavam no que filmámos. Acontece ser oportuno neste momento. Não estamos a tentar torná-lo oportuno. É oportuno.”

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Há um círculo que se vai fechando, como se Tarantino regressasse aos tempos e aos seus actores dos anos 90: os de Cães Danados
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Uma nota: pela primeira vez, diz, Tarantino mudou o guião por causa do que se passava fora do mundo Tarantino, do mundo que não o dos filmes em que se passam os seus filmes. Um diálogo entre a personagem de Walter Goggins e a de Samuel L. Jackson envolve tiradas como “Quando os pretos estão com medo, é então que os brancos estão seguros”, diz uma das personagens no embate no meio da neve. A ideia tem uma resposta, mais tarde, uma rima solta no argumento – “A única altura em que os negros estão seguros é quando os brancos estão desarmados”. De fora ficou uma fala em que o partidário da Confederação, esclavagista, dizia algo sobre a insegurança dos brancos na Carolina do Sul – Charleston é na Carolina do Sul.

Em Outubro e Novembro, o realizador e argumentista esteve num protesto da organização BlackLivesMatter e fez críticas à polícia, que por seu turno apelou ao boicote do filme e do trabalho em futuros Tarantinos.  

“Tarantino não faz filmes que são ‘sobre raça’, mas tenta sim escavar as entranhas do racismo americano com a sua câmara e caneta. Não há forma de o fazer e ficar limpo. Alguma da fealdade do filme é portanto um sinal de integridade, e de relevância”, escreve o crítico do New York Times A.O. Scott sobre Os Oito Odiados. Ética e artisticamente é traiçoeiro, “mas nas mãos de Tarantino nunca é desinteressante”.

Nasceu no ano em que Kennedy foi morto e mudava-se com a mãe para a Califórnia para se tornar numa espécie de fora da lei acolhido pelo sistema, um bad boy que guia um Mustang amarelo e que em 2007 comprou o New Beverly Cinema, perto de sua casa, para programar filmes da sua colecção. Prefere sentar-se algures pela quarta ou quinta fila e há anos contempla publicamente a ideia da reforma. “Acho que tenho mais dez anos sendo um artista com a vitalidade que tenho agora e daqui a dez anos penso que se verá um cordão umbilical completo de Cães Danados até seja qual for o último filme que acabe por fazer”, dizia ao New York Times em 2012.  

Os Oito Odiados é um western mas também um mistério de salão tipo Agatha Christie, mais uma ideia da enciclopédica experiência de Tarantino do western - desta vez também televisivo, como o que via em Bonanza ou The Virginian, em que haveria sempre um episódio com bandidos a tomar o rancho de assalto. “Não podia senão dar numa situação tipo Cães Danados: fechá-los todos numa sala e [depois] deixa-me livrar-me de todas as personagens de herói até não haver um centro moral”, contou a Bret Easton Ellis. 

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Também, mas sem nostalgia, “havia algo muito adequado no que toca ao ponto em que estou na minha carreira – uma qualidade de fechamento de um círculo. Para mim, algo neste filme gritava 90s” e daí vieram os seus actores 90s, Michael Madsen, Tim Roth, mas também Kurt Russell ou a solitária mulher deste “vasto épico quase numa só sala”, nas palavras do crítico Peter Bradshaw, a dorida e sardónica Jennifer Jason Leigh.

Para Peter Biskind, no início da carreira “a sua rebelião era em grande medida cultural, uma estética de bad boy”; para o historiador David Thomson esse percurso inicial foi “suficiente para o pôr na mesma linha que os assombrosos jovens prodígios no cinema” como Lynch, De Palma, Scorsese e Welles. Mas em 2013 e a propósito de Django Libertado, pedia-lhe que crescesse ou deixasse os temas com gravidade histórica para os mais maduros.

Django foi o Tarantino mais rentável, profusamente nomeado para os Óscares e batido por Argo de Ben Affleck na corrida ao Melhor Filme – ainda assim, deu a Tarantino o seu segundo Óscar de Argumento. O primeiro, por Pulp Fiction, não chegou para o manter no palco mais uns minutos – Forrest Gump levou-lhe o Óscar de Melhor Filme. 

Os Oito Odiados não estão a correr tão bem nas bilheteiras, mas a par das críticas insatisfeitas – “Tarantino também se está a repetir” na violência e no prazer orgiástico com o sangue que põe no seu cinema, defende A.O. Scott – há quem identifique ainda nele o charme inicial daquele que tem no criminoso o seu guia preferido até à fonte da moral, que vê em cada personagem um actor. “Brilhante e impiedoso”, “escritor de filmes superlativo”, elogia Peter Bradshaw no Guardian. 

Vem aí mais um filme de Quentin Tarantino, em que há uma porta que só se abre ao pontapé e que se passa num tempo e num lugar que é… um filme de Quentin Tarantino. Citando-o, kick it down.