Alex é o quarto furacão que chega aos Açores no século XXI
Sete ilhas dos Açores estão sob alerta de mau tempo, devido a ventos e chuvas fortes. A formação de um furacão em Janeiro no Atlântico é muito raro, o que pode dever-se as temperaturas anormalmente altas da água.
Depois de ter começado como tempestade subtropical, Alex chegará esta quinta-feira à noite — pelas 23h dos Açores, meia-noite em Lisboa — ao arquipélago açoriano já como um furacão. A sua passagem afecta as ilhas do grupo oriental (São Miguel e Santa Maria) e do grupo central (Terceira, São Jorge, Graciosa, Pico e Faial). No século XXI, este é o quarto furacão a passar pelos Açores, ainda que globalmente o fenómeno seja considerado raro nestas paragens pelos meteorologistas.
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Depois de ter começado como tempestade subtropical, Alex chegará esta quinta-feira à noite — pelas 23h dos Açores, meia-noite em Lisboa — ao arquipélago açoriano já como um furacão. A sua passagem afecta as ilhas do grupo oriental (São Miguel e Santa Maria) e do grupo central (Terceira, São Jorge, Graciosa, Pico e Faial). No século XXI, este é o quarto furacão a passar pelos Açores, ainda que globalmente o fenómeno seja considerado raro nestas paragens pelos meteorologistas.
Na sexta-feira à tarde, por volta das 14h, o furacão já estará a deixar para trás os Açores, caminhando para norte no Atlântico, informou o meteorologista Pedro Viterbo, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O Alex dirigiu-se para os Açores vindo de Sudoeste em relação ao arquipélago, onde nesta quinta-feira os meteorologistas previam que os ventos, no máximo do fenómeno, chegassem a velocidades de 100 a 130 quilómetros por hora. As ilhas dos grupos oriental e central vão estar amanhã, sexta-feira, sob “alerta vermelho” (o mais grave de quatro níveis e que significa uma situação meteorológica de risco extremo) para precipitação e vento, e o grupo central estará sob o mesmo alerta para a agitação marítima. Hoje, quinta-feiram, as ilhas do grupo oriental já estavam para a chuva sob “alerta laranja”, o segundo mais grave.
Devido às previsões de agravamento do estado do tempo, o Governo Regional dos Açores recomendou para sexta-feira o encerramento de todos os jardins-de-infância, creches e escolas dos diferentes ciclos das ilhas dos grupos central e oriental. “A decisão abrange os estabelecimentos públicos de ensino de sete das nove ilhas e estende-se por todo o dia de sexta-feira”, informou um comunicado da Secretaria Regional da Educação e Cultura.
Também o Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores emitiu um alerta e recomendou a desobstrução dos sistemas de escoamento das águas e a retirada de inertes e outros objectos que possam ser arrastados ou criem obstáculos ao livre escoamento, bem como a adequada fixação de estruturas soltas, como andaimes ou placards e outras estruturas montadas ou suspensas.
A Protecção Civil açoriana aconselhou ainda a manter limpos os sistemas de drenagem e a consolidar telhados, portas e janelas, devendo a população ter especial cuidado na circulação junto da orla costeira e zonas ribeirinhas, não devendo praticar actividades relacionadas com o mar, nomeadamente pesca desportiva, desportos náuticos e passeios à beira-mar.
O Alex começou como uma tempestade subtropical, mas devido às velocidades que o vento atingiu esta quinta-feira à tarde acabou por ser classificado pelo Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos como um furacão de classe 1 — a mais baixa de cinco classes, com velocidade de vento entre 119 a 153 quilómetros por hora.
Depois da sua passagem pelos Açores, o furacão vai esmorecer e transformar-se numa depressão extratropical, explicou Pedro Viterbo: “O furacão morre ao encontrar águas mais frias, porque perde a fonte de energia.” O seu desaparecimento dar-se-á no meio do Atlântico, à latitude das Ilhas Britânicas.
Pedro Viterbo nomeou ainda os três furacões que anteriormente ao Alex passaram pelos Açores: o Gordon (em 2006), outro Gordon (em 2012) e o Nadine (também em 2012). Quanto às tempestades tropicais e subtropicais que atingiram o arquipélago açoriano, houve até agora três desde o início do século XXI (em 2003, 2005 e 2009), ainda segundo Pedro Viterbo.
“Apesar de tudo, os furacões [nos Açores] são raros”, frisa o meteorologista. Para o século XX, Pedro Viterbo diz que, neste momento, sem uma análise mais pormenorizada, os dados existentes sobre os furacões que passaram pelo arquipélago açoriano lhe suscitam “fortíssimas dúvidas”.
Um Janeiro muito invulgar
Mas o Alex de 2016 trouxe ainda outra novidade, que o torna raro: há quase 80 anos que não ocorriam furacões no Atlântico em Janeiro, informa o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos. “A ‘época dos furacões’ no Atlântico termina no final de Outubro. Temos geralmente furacões desde meados de Agosto até ao fim de Outubro, mas em Novembro passado tivemos vários”, explicou Pedro Viterbo.
Além disso, o furacão Alex é ainda raro devido ao local onde começou a formar-se: numa região subtropical. “Este furação tem uma origem subtropical, o que é raríssimo”, sublinhou o meteorologista. “Geralmente, os furacões formam-se entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio. Para se formar um furacão, são necessárias águas superficiais muito quentes, acima dos 22 a 23 graus [Celsius].”
Ora acontece que, durante este Inverno, as águas onde começou a nascer o furacão que agora está nos Açores têm estado mais quentes do que o habitual. “A bacia do Atlântico está 1 a 1,5 graus acima do normal. Basta esta diferença de temperatura para gerar fenómenos como este a latitudes acima do habitual.” O resultado foi assim o Alex.
Texto editado por Teresa Firmino