Eis um primo bizarro das girafas
Esqueleto de animal que viveu há mais de um milhão de anos foi reconstituído no computador em 3D. Pesava mais de uma tonelada.
Surpresa: um primo antigo das girafas actuais tinha patas curtas e grossas, o pescoço era pequeno e a cabeça estava ornamentada por cornos em forma de leque, revela um estudo publicado esta quarta-feira na revista britânica Biology Letters, editada pela Royal Society.
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Surpresa: um primo antigo das girafas actuais tinha patas curtas e grossas, o pescoço era pequeno e a cabeça estava ornamentada por cornos em forma de leque, revela um estudo publicado esta quarta-feira na revista britânica Biology Letters, editada pela Royal Society.
Chamado Sivatherium giganteum, viveu há mais de um milhão de anos em África e na Ásia e extinguiu-se há cerca de 10.000 anos. Este animal da família dos girafídeos evoluiu separadamente da linhagem que depois conduziu até às girafas actuais, caracterizadas por pescoços muito longos e patas fininhas, atributos que começaram a surgir há cerca de 7,5 milhões de anos.
Os primeiros fósseis do Sivatherium giganteum foram descobertos na Índia nos anos de 1830, pelo geólogo escocês Hugh Falconer e pelo engenheiro inglês Proby Thomas Cautley. No artigo científico publicado por ambos em 1836, apresentando o Sivatherium giganteum como um ruminante de um novo género para a ciência, a dupla descreveu-o como um animal cujo crânio era do tamanho do de um elefante e acreditava que possuía uma tromba. Imaginavam-no como uma criatura parecida com um alce mas com a dimensão de um elefante, uma visão que, refere a BBC online, permaneceu ao longo do tempo.
“Quando se encontraram os primeiros fósseis do Sivatherium no início do século XIX, os paleontólogos nunca tinham visto nada assim e andaram às voltas para classificar que tipo de animal seria. Devido a um crânio grande e cornos elaborados, presumiram que o Sivatherium era um elo de ligação entre os elefantes, os rinocerontes e os antílopes”, explica um dos autores do novo estudo, Christopher Basu, do Colégio Real de Veterinária da Universidade de Londres, segundo um comunicado desta instituição. “Desenvolvimentos posteriores na paleontologia revelaram que o animal de aspecto bizarro era, na realidade, um primo próximo das girafas actuais”, acrescenta o comunicado.
A equipa, que inclui também investigadores da Universidade Jonh Moores de Liverpool, no Reino Unido, fez agora a primeira reconstituição 3D em computador do esqueleto do Sivatherium graças a uma técnica chamada fotogrametria, que, utilizando fotografias, permite obter medições rigorosas de um objecto. Neste caso, a equipa tirou mais de mil fotografias a uma colecção de ossos do antigo girafídeo que está no Museu de História Natural de Londres, o que possibilitou não só reconstituir digitalmente o seu esqueleto como fazer estimativas do peso e do tamanho do animal.
“Reconstituímos o esqueleto com 26 ossos fossilizados do Sivatherium, o que nos permitiu reconstituir a cabeça, o pescoço e as patas”, explica por sua vez à agência de notícias AFP Christopher Basu. “Falta-nos [reconstituir] as costelas, as costas e a bacia.”
Resultado: “O Sivatherium giganteum não pesava tanto como um elefante-africano adulto (nem mesmo como um elefante-asiático), mas era certamente um grande girafídeo e talvez até tenha sido o maior mamífero ruminante que alguma vez existiu”, lê-se no artigo científico.
Estima-se assim que terá tido uma massa corporal à volta de 1200 quilos, sendo então mais pesado do que as girafas actuais. “O animal que reconstituímos media 1,8 metros até ao ombro. Mas pensamos que os machos adultos eram maiores, sem sabermos até que ponto”, especifica ainda Christopher Basu. “Era um animal pesado, com as pernas grossas e quatro cornos na cabeça.”
Dois dos cornos, situados no topo da cabeça, eram enormes – tinham pelo menos 70 centímetros de comprimento – e eram grossos dos lados como os dos alces. Os outros dois cornos, mais pequenos, encontravam-se por cima dos olhos. “Devia ser um animal impressionante”, resume o investigador.