Estado Islâmico ataca pela primeira vez coração do turismo na Turquia
Atentado suicida mata nove turistas alemães e um peruano. Até agora os jihadistas atingiram sempre alvos políticos no país.
A Turquia sente novamente a proximidade com a guerra na Síria. Na manhã desta terça-feira, um bombista suicida que o Governo turco diz pertencer ao grupo Estado Islâmico fez-se explodir num dos locais turísticos mais populares de Istambul. Matou dez pessoas e feriu 15, duas delas em estado grave. O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão diz que pelo menos oito mortos e nove feridos são turistas alemães. Fontes turcas asseguram que são nove vítimas alemãs. Há, de resto, um morto e um ferido peruanos e um norueguês no hospital.
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A Turquia sente novamente a proximidade com a guerra na Síria. Na manhã desta terça-feira, um bombista suicida que o Governo turco diz pertencer ao grupo Estado Islâmico fez-se explodir num dos locais turísticos mais populares de Istambul. Matou dez pessoas e feriu 15, duas delas em estado grave. O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão diz que pelo menos oito mortos e nove feridos são turistas alemães. Fontes turcas asseguram que são nove vítimas alemãs. Há, de resto, um morto e um ferido peruanos e um norueguês no hospital.
A identidade do bombista ainda não foi confirmada pelo Governo, mas a imprensa nacional dá como certo de que se trata de Nabil Fadli, cidadão de ascendência síria nascido em 1988 na Arábia Saudita. Segundo Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro turco, o homem cruzou recentemente a fronteira e as autoridades não o conheciam. “Até eliminarmos o Daesh [acrónimo depreciativo em árabe para o Estado Islâmico], a Turquia continuará a sua luta em casa e com as forças de coligação”, prometeu o primeiro-ministro, num discurso ao país.
O homem fez-se explodir perto de um grupo de turistas que visitavam o bairro histórico de Sultanahmet. É um dos lugares mais movimentados e conhecidos em Istambul, embora terça-feira não tenha sido um dia muito concorrido, segundo disseram comerciantes e moradores. É em Sultanahmet que se encontram a grande Mesquita Azul e outras importantes heranças dos impérios Romano, Bizantino e Otomano.
A explosão ocorreu perto da Fonte Alemã, levada para a então Constantinopla pelo Kaiser Wilhelm II e à beira de um obelisco egípcio construído por volta de 1500 anos antes de Cristo – a única imagem que captura o momento do atentado é tirada precisamente a essa peça, herdeira do Império Romano. “Havia imensos turistas a ouvirem o seu guia”, disse um condutor de táxis ao Wall Street Journal. “De repente, uma grande explosão.”
An Islamic State suicide bomber has killed ten western tourists in Istanbul. Details @TheTodayShow pic.twitter.com/hKZ5CA4deN
— Tom Steinfort (@tomsteinfort) January 12, 2016
A maior parte das testemunhas fala surpreendida de como foi forte o som da explosão. “Estava no armazém a verificar o stock quando ouvi um grande impacto, e o edifício inteiro tremeu”, contou Fehmi Ozyurt, vendedor, ao New York Times. “Corremos todos para fora e pudemos ver corpos no chão, mas estávamos demasiado amedrontados para nos aproximarmos no caso de haver outra explosão. Já passámos por isto antes em Sultanahmet e por isso esperamos o pior: que será outra vez um bombista suicida.”
Alvo turístico
Ozyurt refere-se a um atentado de Janeiro de 2015 contra uma estação de polícia no bairro histórico. O ataque matou um polícia e foi inicialmente associado aos militantes curdos do grupo separatista PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Soube-se mais tarde que a bombista era uma mulher russa com possíveis ligações ao Estado Islâmico. Mas se o alvo do ataque de há um ano foi a polícia, o atentado desta terça-feira é o primeiro do grupo jihadista a atingir deliberadamente turistas na Turquia.
Até agora, os grandes atentados do Estado Islâmico na Turquia atingiram sempre alvos com ligações políticas. O primeiro, em Julho, de um bombista suicida em Suruç, junto à fronteira com a Síria, matou 33 pessoas e feriu mais de cem. Atingiu um grupo de jovens curdos que partia para ajudar na reconstrução de Kobani, cidade conquistada por milícias curdas ao Estado Islâmico. Mais tarde, em Outubro, um duplo atentado suicida em Ancara matou 102 pessoas e fez mais de 400 feridos, tornando-se assim no mais mortífero na história da Turquia. O alvo foi uma marcha pela paz, convocada por grupos de esquerda e simpatizantes com a causa curda.
Em qualquer destes casos há objectivos políticos evidentes: a vingança por Kobani, primeiro; e criar instabilidade dentro da Turquia, no caso de Ancara. A explosão desta terça-feira é distinta. “É diferente das bombas em Diyarbakir [contra o partido pró-curdo, quatro mortos], Suruç e Ancara, onde os bombistas do Estado Islâmico atingiram grupos de cidadãos pró-curdos ou pró-paz na oposição ao Governo”, afirma Esra Ozyurek, antropóloga política na London School of Economics. “Neste, o alvo é incerto.”
O que é, por enquanto, evidente é que o atentado terá impacto na indústria do turismo turca, já debilitada por ataques passados e pela proximidade com a guerra na Síria – os alemães, para além disso, são responsáveis por quase 15% das visitas ao país. “O turismo já secou desde a explosão do último ano, mas depois disto será 'game over'”, diz ao New York Times o lojista Ayse Demir. “Ninguém vai querer arriscar a vida pela História e por compras.”
É mais raro os jihadistas do Estado Islâmico atacarem grandes locais turísticos próximos do seu território. Nesses casos, o grupo concentra-se sobretudo em alvos étnicos, militares e políticos rivais, como acontece na Síria e Iraque – o duplo atentado bombista de Novembro em Beirute, no Líbano, por exemplo, atingiu uma zona habitada predominantemente por xiitas.
Mas essa tendência tem-se alterado em ataques recentes: há uma semana, dois militantes jihadistas esfaquearam três turistas europeus no Egipto; em Outubro, no mesmo país, uma bomba dos jihadistas destruiu um avião e matou 224 turistas russos; e no ataque de Junho num resort em Sousse, na Tunísia, um combatente do Estado Islâmico matou 37 estrangeiros (entre eles uma portuguesa), poupando pelo caminho habitantes locais.