Médicos Sem Fronteiras vão construir campo de refugiados a sério em França

Perto de Calais, Grande-Synthe era menos conhecido mas as condições de vida conseguiam ser ainda piores. O novo acampamento vai cumprir todas as regras internacionais, como numa zona de conflito.

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O campo de Grande-Synthe está numa zona alagada Pascal Rossignol/REUTERS

Na cidade de Grande-Synthe, a cerca de 50 km da “selva” de Calais, onde milhares de pessoas se acumulam em condições deploráveis enquanto tentam cruzar uma fronteira do espaço Schengen e entrar no Reino Unido, legal ou ilegalmente, vai nascer o primeiro campo de refugiados em França que respeita as normas humanitárias internacionais. Vai ser construído pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em quatro semanas, com os mesmos materiais e técnicas usados para prestar apoio a refugiados em zonas de conflito.

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Na cidade de Grande-Synthe, a cerca de 50 km da “selva” de Calais, onde milhares de pessoas se acumulam em condições deploráveis enquanto tentam cruzar uma fronteira do espaço Schengen e entrar no Reino Unido, legal ou ilegalmente, vai nascer o primeiro campo de refugiados em França que respeita as normas humanitárias internacionais. Vai ser construído pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em quatro semanas, com os mesmos materiais e técnicas usados para prestar apoio a refugiados em zonas de conflito.

As dimensões do campo Basroch, que já existia ali desde 2006, ao lado da auto-estrada A16, no sentido França-Bélgica, dispararam desde o fim do Verão: de 80 pessoas, passaram para cerca de 3000, entre elas bastantes crianças e mulheres, muitas delas grávidas. A maioria dos que para ali foram são curdos, vindos da Síria ou do Iraque, onde a guerra tomou conta de tudo. Muitos vieram para ali quando foram desalojados de outro campo próximo, que foi arrasado pelas autoridades.

Estão numa zona sujeita a cheias e, com as chuvas fortes do Inverno, vivem no meio da lama e de grandes poças de água. Segundo os MSF, as condições de vida ali são ainda piores do que no campo de Calais, a que chamam “a selva”. O presidente da Câmara de Grande-Synthe, o ecologista Damien Carême, classificou-o como “o campo da vergonha” – por isso pediu ajuda aos MSF.

Estes mostraram-se dispostos a ajudar, mas faltava a concordância da prefeitura – semelhante aos antigos governos civis, em Portugal – que não se mostrou muito de acordo, inicialmente. Receava a construção de estruturas de carácter mais permanente, que atraíssem mais pessoas, a insegurança provocada pelos passadores, que vendem a promessa de fazer entrar estas pessoas ilegalmente no Reino Unido, e o facto de estarem perto da auto-estrada e ferrovias, as quais os migrantes vão atravessar, provocando situações de perigo.

O projecto dos Médicos Sem Fronteira, no entanto, acabou por ter luz verde nesta segunda-feira. Vão ser erguidas 500 tendas com aquecimento, cada uma com capacidade para cinco pessoas, num terreno mais seco. Terão capacidade para cerca de 2500 pessoas, e sanitários e duches de acordo com as normas do Alto Comissariado para os Refugiados da ONU. Haverá espaço para uma clínica dos MSF e também dos Médicos do Mundo.

Tudo deverá estar pronto dentro de quatro semanas – e enquanto a obra não está terminada, as pessoas serão alojadas em contentores aquecidos. Os trabalhos, no valor de 1,5 milhões de euros, serão financiados pelo Estado, diz o jornal La Voix du Nord. “Quando uma família deixar o campo, a sua tenda será desmontada, e não será montada outra”, diz o presidente da câmara.

“Vai respeitar todas as normas internacionais. Terá sanitários em número suficiente, pelo menos 20 litros de água por pessoa por dia, espaço entre as tendas para evitar contaminações, e estas serão aquecidas no Inverno”, congratulou-se François Corty, director das em missões em França dos Médicos do Mundo, citado pelo mesmo jornal.

Promete avançar a passos bem mais largos do que em Calais, onde só no fim do ano começaram a ficar disponíveis os primeiros 1500 lugares de alojamento digno prometidos por Manuel Valls a 30 de Agosto. Em Novembro, o Estado francês foi condenado por causa das condições de vida em que vivem as pessoas na “selva” de Calais. Mais locais de abastecimento de água, mais casas-de-banho, recolha de lixo e vias de acesso que permitam a entrada dos serviços de urgência devem ser garantidas pela Administração Pública, afirmaram os magistrados do Conselho de Estado.