Pequenos confrades da fogaça vestem-se de cortiça para divulgar um doce

Crianças tornam-se escudeiros para proteger o genuíno pão doce de Santa Maria da Feira. Há uma nova geração que quer preservar a tradição de um voto feito em 1505.

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Renato Barros tem nove anos, anda no 4.º ano, e sabe a história da fogaça da Feira. Já lá vão cinco séculos. “Há muitos anos, apareceu a peste e as pessoas foram falar com os condes. Falaram com uma velhinha que fazia um pão doce, ela foi à missa e deu a fogaça a S. Sebastião. Passados alguns anos, a peste voltou e os condes decidiram que sempre, nos dias 20 de Janeiro, se oferecia a fogaça para a peste não voltar”, conta. Renato e mais 47 crianças, dos três aos 11 anos, da Escola Básica do Farinheiro, em Fornos, são agora escudeiros da Confraria da Fogaça da Feira. Uma estreia que nesta segunda-feira aconteceu no salão nobre do castelo da Feira, durante o único dia do ano em que a fogaça feirense é cozida no forno desse castelo. As 48 crianças vestiam réplicas dos fatos dos confrades adultos feitas em cortiça, material nobre do município que detém o estatuto de líder mundial da transformação da casca do sobreiro. Até mesmo o chapéu em forma de fogaça é de cortiça. Um dia em grande e com promessas para cumprir: divulgar, proteger e defender o pão doce típico de Santa Maria da Feira – e que a 20 de Janeiro é transportado por meninas vestidas de branco e oferecido, numa cerimónia religiosa, a S. Sebastião.

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Renato Barros tem nove anos, anda no 4.º ano, e sabe a história da fogaça da Feira. Já lá vão cinco séculos. “Há muitos anos, apareceu a peste e as pessoas foram falar com os condes. Falaram com uma velhinha que fazia um pão doce, ela foi à missa e deu a fogaça a S. Sebastião. Passados alguns anos, a peste voltou e os condes decidiram que sempre, nos dias 20 de Janeiro, se oferecia a fogaça para a peste não voltar”, conta. Renato e mais 47 crianças, dos três aos 11 anos, da Escola Básica do Farinheiro, em Fornos, são agora escudeiros da Confraria da Fogaça da Feira. Uma estreia que nesta segunda-feira aconteceu no salão nobre do castelo da Feira, durante o único dia do ano em que a fogaça feirense é cozida no forno desse castelo. As 48 crianças vestiam réplicas dos fatos dos confrades adultos feitas em cortiça, material nobre do município que detém o estatuto de líder mundial da transformação da casca do sobreiro. Até mesmo o chapéu em forma de fogaça é de cortiça. Um dia em grande e com promessas para cumprir: divulgar, proteger e defender o pão doce típico de Santa Maria da Feira – e que a 20 de Janeiro é transportado por meninas vestidas de branco e oferecido, numa cerimónia religiosa, a S. Sebastião.

Leonor Assunção, de nove anos, sabe a responsabilidade que tem em cima dos ombros. No seu traje de escudeira, depois da entronização, confessa que é importante defender a genuína fogaça. “Aprendi várias coisas que não sabia e é uma experiência divertida. E é com muito orgulho que temos de divulgar a fogaça”, diz. E as fogaças saem quentes do forno do castelo. Uma vez mais, os produtores locais juntam-se para mostrar com as mãos que manter a receita e respeitar as técnicas de confecção são princípios inabaláveis.

Os miúdos-escudeiros não têm apenas a missão de divulgar a fogaça. Na escola, na freguesia de Fornos, são donos da empresa Far&Queijo que produz kits de lanches saudáveis com queijos e fogaça. O invólucro é de cortiça e tem a forma do castelo. Trata-se de um projecto que espicaça competências de cidadania e prepara os mais pequenos, do pré-escolar e 1.º ciclo, para uma visão alargada de diferentes realidades. E iniciativa é coisa que não lhes falta. O repto para entrar na confraria partiu da própria escola.

Cristina Silva, coordenadora da escola, garante que entusiasmo não falta e que os alunos “reagiram muito bem” aos desafios. “Trabalhamos os valores, o empenho, a inovação. Tentamos preservar tudo o que é de valor da nossa terra”, diz, sublinhando que sem o trabalho de equipa nada seria possível. O presidente da Câmara da Feira, Emídio Sousa, está satisfeito com esta passagem de testemunho aos mais novos, com a utilização da cortiça nos trajes, com esta junção de uma “tradição secular à modernidade”. E o mestre da confraria, Joaquim Gonçalves, também está contente. “É uma forma de perpetuar um voto”. E avisou os mais pequenos: “Vocês agora têm uma grande responsabilidade”. Eles sabem disso.

26 eventos nas Fogaceiras
A Festa das Fogaceiras acontece a 20 de Janeiro, feriado municipal, mas o programa cultural associado à festividade já arrancou e termina no final do mês. Ao todo, 26 eventos que celebram a mais antiga e simbólica festa feirense. Esta quarta-feira, às 21h30, o foyer do Cineteatro António Lamoso recebe um concerto dos Dreamers que ligam indie e electrónica, e na sexta-feira, no mesmo local, é inaugurada a exposição 70 Cavaquinhos, 70 Artistas, uma reinvenção do instrumento português. Nesse dia, o projecto musical MusicOrba, que junta os pianistas Ricardo Vieira, da Feira, e Tomohiro Hatta, do Japão, apresenta o seu primeiro CD com obras inéditas e dá um concerto no salão nobre da câmara, às 21h30. Júlio Pereira, o homem dos sete instrumentos, chega no sábado para um espectáculo no auditório do cineteatro às 22h. No domingo, a soprano Catarina Vita canta música clássica e lírica, acompanhada pelo quarteto de cordas Opus Quatro, na capela do castelo da Feira às 17. 

O programa prossegue com uma estreia mundial de Symphonic Clapton a 23 de Janeiro no Europarque às 21h30. Uma banda de rock, a Clapton’s Addiction, a única banda portuguesa de tributo a Eric Clapton, as quatro bandas filarmónicas da Feira, e 250 músicos juntam-se para um tributo inédito ao compositor Eric Clapton. Rita, Sid e Simão são os Shared Files e tocam no foyer do cineteatro no dia 27, às 21h30. A 29, no cineteatro, estão os Aurora para apresentar o seu primeiro EP num concerto marcado para as 21h30. Os museus também têm propostas. No Museu de Santa Maria de Lamas, crianças e seniores têm uma oficina de expressão plástica com a fogaça no centro das atenções. No Museu Convento dos Lóios, há visitas e uma oficina para os visitantes conhecerem a história e os símbolos da Festa das Fogaceiras. Além disso, os mais pequenos dos jardins-de-infância podem assistir, nas suas escolas, à peça O Mago das Guimbras e a História das Fogaceiras, protagonizada pelo Teatro em Caixa.