Nova raça de cães portuguesa prestes a ser reconhecida
Era conhecido como “felpudo” ou “abandeirado”. Agora, é o cão do barrocal algarvio e o processo de reconhecimento salvou-o da extinção. Para ser oficial, só falta que a aprovação da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária.
O estalão do cão do barrocal algarvio já foi aprovado pelo Clube Português de Canicultura (CPC). Agora só falta o reconhecimento por parte da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) para que exista oficialmente uma nova raça portuguesa, a juntar às dez já existentes, como o cão da serra da Estrela ou o podengo português. Apesar de a raça não ter surgido recentemente, só há uns anos é que Rogério Teixeira, presidente da Associação de Criadores do Cão do Barrocal Algarvio, reparou que se poderia tratar de uma raça diferente e decidiu “pôr mãos à obra”.
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O estalão do cão do barrocal algarvio já foi aprovado pelo Clube Português de Canicultura (CPC). Agora só falta o reconhecimento por parte da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) para que exista oficialmente uma nova raça portuguesa, a juntar às dez já existentes, como o cão da serra da Estrela ou o podengo português. Apesar de a raça não ter surgido recentemente, só há uns anos é que Rogério Teixeira, presidente da Associação de Criadores do Cão do Barrocal Algarvio, reparou que se poderia tratar de uma raça diferente e decidiu “pôr mãos à obra”.
Ainda que seja necessária a avaliação da DGAV, Filomena Afonso, chefe de divisão do Gabinete de Recursos Genéticos Animais desta direcção-geral, refere que a proposta para esta nova raça está “bem orientada para obter despacho favorável e ser aprovada, tendo em consideração o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido".
Recentemente aprovado, o estalão corresponde às características comuns a todos os cães de uma mesma raça, como a dimensão ou a forma da cauda. Foi elaborado pela comissão técnica do Clube Português de Canicultura, através de apreciações morfológicas, como as medidas do animal.
De acordo com este registo, o cão tem uma corpulência média, pêlo liso e uma cauda “como a dos lacraus, muito peluda e em forma de bandeira”, exemplifica Rogério. Os machos podem atingir os 58 centímetros e 25 quilogramas e as cadelas podem ter até 55 centímetros e 20 quilogramas. Rogério Teixeira refere que o cão é sobretudo de caça, mas também pode ser de companhia.
Filomena Afonso explica que o projecto do estalão “foi ratificado na última assembleia geral do CPC”, a 8 de Dezembro de 2015. A DGAV é a autoridade responsável pelo reconhecimento e preservação de todas as raças autóctones portuguesas.
O procedimento que falta para que o processo esteja terminado corresponde a um pedido que tem de ser feito pelo CPC junto da Direcção Regional de Alimentação e Veterinária e que até já “poderá ter dado entrada na sede da DGAV recentemente”, explica Filomena Afonso, adiantando que, se for o caso, o seu gabinete ainda não tem disso conhecimento.
Salvo da extinção
“O reconhecimento enquanto raça autóctone vem enriquecer o nosso património genético vivo, também símbolo da nossa cultura”, considera a responsável da DGAV. Rogério Teixeira é da mesma opinião e acredita que o reconhecimento “é importante de uma perspectiva cultural”. “É um património que deve ser conhecido e a verdade é que salvámos uma espécie que se encontrava perto da extinção”, observa.
O presidente da Associação de Criadores do Cão do Barrocal Algarvio conta que quando começaram o processo só existiam cerca de 20 ou 30 cães desta raça. Hoje, “presume-se que haja mais de 1500 exemplares, afirma Filomena Afonso.
O presidente da associação desta futura raça adianta que existem “sete ou oito criadores destes cães” e que nunca venderam nenhum exemplar. Porém, já ofereceram alguns cães desta raça a pessoas de vários pontos do país, com o objectivo de divulgar a espécie.
Como o cão era conhecido como “guedelhudo, abandeirado, fraldado, felpudo”, Rogério Teixeira conta que, numa primeira reunião da associação, foi considerado que o nome “barrocal algarvio” era o que melhor caracterizava a raça, “em grande parte porque o cão habita esta zona entre a serra e o litoral”, nomeadamente entre São Brás de Alportel e a cidade de Faro.
Apesar de a sua classificação só necessitar do parecer da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, Filomena Afonso refere que “não é possível estabelecer uma data” para a sua conclusão, que Rogério Teixeira espera “não demorar muito”.
Contudo, o processo já vem de longe: “Há uns 15 anos que andamos de volta desta questão”, afirma o presidente da associação de criadores, acrescentando que os primeiros passos foram dados através da criação da associação e de um website. “Na altura, caiu mal a muita gente, diziam que não poderia haver uma nova raça”, conta.
A restante família lusa
Até ao momento, existem dez raças portuguesas reconhecidas pelo CPC, se bem que só oito são reconhecidas internacionalmente pela FCI (Federação Cinológica Internacional). Essas oito são: cão da serra de Aires, cão da serra da Estrela, cão de fila de São Miguel, cão de Castro Laboreiro, rafeiro do Alentejo, podengo português, cão-d’água português e perdigueiro português. As duas reconhecidas a nível nacional mas não internacional são o barbado da Terceira e o cão de gado transmontano. De acordo com Filomena Afonso, estas duas raças foram as últimas a ser reconhecidas, em 2005, pela então Direcção-Geral de Veterinária (DGV).
Em relação à possibilidade de distinção internacional dos cães do barrocal algarvio, Filomena Afonso explica que “a raça, após a sua aprovação em Portugal, continuará a ser trabalhada e serão identificadas todas as possíveis e diferentes linhas de sangue”, acrescentando que, para que tal aconteça, têm de ser “preenchidos os requisitos da Federação Cinológica Internacional”.
Por parte do gabinete, foi feito um estudo genético com vista a caracterizar o genoma da população de cães existente. Pensava-se que o cão do barrocal algarvio pudesse estar relacionado com o podengo português, dada a sua fisionomia semelhante, “mas um teste genético provou que não eram parentes”, explica Rogério Teixeira.
Filomena Afonso esclarece que mais importante do que o número de exemplares da raça é o número de linhas de sangue diferentes, de forma a acautelar a diversidade genética, ainda que preservando as características morfológicas e funcionais.
De acordo com o website da associação, presume-se que as origens do cão do barrocal algarvio remonte ao tempo dos faraós, altura em que o galgo egípcio se espalhou por toda a bacia mediterrânica.
Texto editado por Ana Fernandes