Casa Branca pede ajuda a Silicon Valley para combater jihadistas nas redes sociais
Representantes de empresas como a Apple, a Google e o Facebook vão ser mais uma vez instados a facilitar o acesso à informação dos seus utilizadores.
Os líderes das maiores empresas de tecnologia do mundo, como o Facebook, a Google e a Apple, foram convocados para uma reunião, esta sexta-feira, com altos representantes da Casa Branca e dos serviços secretos norte-americanos. Oficialmente o objectivo do encontro é pedir a colaboração de Silicon Valley na luta contra a radicalização e recrutamento de potenciais jihadistas através das redes sociais, mas o prato principal está a ser preparado há muito tempo: pressionar as empresas para que facilitem cada vez mais o acesso das autoridades à informação partilhada e guardada pelos seus utilizadores.
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Os líderes das maiores empresas de tecnologia do mundo, como o Facebook, a Google e a Apple, foram convocados para uma reunião, esta sexta-feira, com altos representantes da Casa Branca e dos serviços secretos norte-americanos. Oficialmente o objectivo do encontro é pedir a colaboração de Silicon Valley na luta contra a radicalização e recrutamento de potenciais jihadistas através das redes sociais, mas o prato principal está a ser preparado há muito tempo: pressionar as empresas para que facilitem cada vez mais o acesso das autoridades à informação partilhada e guardada pelos seus utilizadores.
Depois das revelações feitas por Edward Snowden a partir de Junho de 2013 sobre os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA, na sigla original), as grandes empresas de tecnologia e as operadoras de telecomunicações começaram a ser pressionadas pelos utilizadores e clientes a reforçarem os sistemas de segurança, para protegerem a privacidade – em causa estavam programas de espionagem que permitiam aos serviços secretos dos EUA terem acesso à informação partilhada por qualquer cidadão, norte-americano ou estrangeiro, mesmo sem indícios de envolvimento em planos terroristas ou em outras actividades criminosas.
Se, por um lado, empresas como o Twitter e o Facebook reforçaram a sua política de apagar contas e vídeos que promovem a ideologia extremista de grupos como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, por outro lado, os iPhones e os telemóveis com o sistema operativo Android transformaram-se em aparelhos mais protegidos contra quem tenta aceder ao conteúdo guardado pelos seus proprietários – sejam eles ladrões ou agentes do FBI a investigar um crime.
A colaboração entre os serviços secretos norte-americanos e as grandes operadoras de telecomunicações já é conhecida há décadas, e o aparecimento de redes sociais como o Facebook e o Twitter, em meados da década passada, fez com que as autoridades alargassem os seus poderes de vigilância – sempre, segundo se pensava antes das revelações de Edward Snowden, mediante uma ordem de um tribunal, ainda que secreto, e com fundadas suspeitas de que a pessoa vigiada estava envolvida em alguma actividade criminosa.
As empresas eram obrigadas a entregar as informações pedidas pelos serviços secretos (NSA e CIA) ou pela polícia federal (FBI), mas o que foi revelado em 2013 é que essas agências conseguiam aceder aos servidores directamente, sem nenhum pedido.
Ainda que esses acessos possam ser feitos com o conhecimento de algumas das empresas, a resposta de Silicon Valley foi pôr-se do lado dos seus utilizadores e clientes na exigência de mais privacidade, argumentando que as autoridades já tinham instrumentos suficientes para vigiar e perseguir quem era realmente suspeito de estar envolvido num crime ou numa organização terrorista.
Foi por causa desta resposta das maiores empresas de tecnologia – sincera ou a reboque das sondagens, receando prejuízos para as suas actividades – que a Casa Branca, o Congresso e os serviços secretos abriram uma espécie de guerra surda com Silicon Valley: para as autoridades norte-americanas, chegou a hora de as empresas optarem claramente pela segurança dos cidadãos em detrimento da privacidade, um argumento que figuras como o patrão da Apple, Tim Cook, consideram ser demagógico.
Na reunião desta sexta-feira deveriam estar presentes representantes de empresas como Facebook, Twitter, LinkedIn, Apple, Microsoft e Google, mas também da Dropbox (de armazenamento de ficheiros na chamada "nuvem", e não fisicamente em aparelhos como telemóveis), numa indicação de que os serviços secretos não estão apenas interessados no combate à propaganda através das redes sociais.
Do lado do governo dos EUA vão estar presentes figuras como a procuradora-geral, Loretta Lynch; o director do FBI, James Comey; e o responsável por todas as agências de segurança dos EUA, James Clapper.
"Como podemos dificultar o trabalho dos terroristas para usarem a Internet como meio de recrutamento, radicalização e mobilização de seguidores para a violência?", perguntam os responsáveis do governo norte-americano que convocaram a reunião. Um outro ponto em discussão é a melhor forma de "criar, publicar e amplificar conteúdo alternativo que possa frustrar o ISIL [um dos acrónimos mais usados na língua inglesa para fazer referência ao autoproclamado Estado Islâmico]".
Em suma, a Casa Branca e os serviços secretos pedem ajuda às empresas de tecnologia para lançarem uma estratégia conjunta séria contra o uso de redes sociais como o Twitter e o Facebook por grupos jihadistas, mas o documento de convocatória da reunião, divulgado esta sexta-feira, mostra logo no início que a discussão vai ser muito mais abrangente: "Partilha de informação desclassificada sobre o uso de tecnologias por terroristas, incluindo encriptação."