Comunidades auto-suficientes: é possível viver de outra forma
Em Que Estranha Forma de Vida, Pedro Serra viaja por três comunidades, em Portugal e Espanha, que criaram alternativas à sociedade actual. Depois de exibições em festivais nacionais e internacionais, o documentário está online.
Nos primeiros cinco minutos de documentário, chegamos a Cabrum: árvores e vegetação rasteira, construções antigas em pedra, muita água. Um espanta-espíritos, um gato e alguns brinquedos perdidos na berma de um caminho mostram-nos que, no meio da natureza, vivem adultos e crianças, que se passeiam sem roupa num dia de Verão. É assim o início de Que Estranha Forma de Vida, documentário de Pedro Serra e Laura Pazo que acompanha a vida em três comunidades sustentáveis e auto-suficientes da Península Ibérica: Cabrum e Tamera, em Portugal, e a Cooperativa Integral Catalana em Barcelona, Espanha. Depois de ter sido exibido em festivais nacionais e internacionais, está disponível online.
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Nos primeiros cinco minutos de documentário, chegamos a Cabrum: árvores e vegetação rasteira, construções antigas em pedra, muita água. Um espanta-espíritos, um gato e alguns brinquedos perdidos na berma de um caminho mostram-nos que, no meio da natureza, vivem adultos e crianças, que se passeiam sem roupa num dia de Verão. É assim o início de Que Estranha Forma de Vida, documentário de Pedro Serra e Laura Pazo que acompanha a vida em três comunidades sustentáveis e auto-suficientes da Península Ibérica: Cabrum e Tamera, em Portugal, e a Cooperativa Integral Catalana em Barcelona, Espanha. Depois de ter sido exibido em festivais nacionais e internacionais, está disponível online.
Em 2014, o realizador e a produtora passaram cerca de uma semana em cada um dos grupos. Decidiram reduzir a equipa de filmagens ao mínimo indispensável para proporcionar “uma maior aproximação das pessoas”, algo que não seria possível com “uma equipa dita ‘normal’ para uma longa-metragem”, explica Pedro ao P3. Fizeram questão de experimentar, de facto, a vida em comunidade; nem sempre filmavam, aproveitavam para passar tempo com os habitantes. É por essa razão que, em Que Estranha Forma de Vida, espreitamos as refeições — com produtos biológicos —, ouvimos as músicas e as conversas e vemos as actividades destas “formas de vida paralelas à sociedade tal como a conhecemos”.
“Quando se vive num espaço assim, é bastante intenso”, descreve o jovem realizador de 24 anos, para quem tudo foi novidade. “Quem vive numa cidade não tem que falar com as pessoas com quem se cruza na rua. Ali estás sempre a lidar com egos e o tempo ganha outro sentido.” A produção do documentário foi totalmente independente e a exibição em festivais nos Estados Unidos, no Brasil, em Inglaterra, na Croácia, na Estónia e na Roménia mostrou o interesse do público no tema. No Cinantrop — Festival Internacional de Cinema Etnográfico de Leiria-Lisboa, venceu o prémio revelação.
Pedro, “vegan há três anos e meio”, já tinha presente os ideias destas comunidades (auto-sustentabilidade, paz, auto-suficiência, harmonia e cooperação entre ser humano, animal e natureza). A pesquisa sobre o tema fê-lo perceber que é “realmente possível criar alternativas positivas” e ver a aplicação prática dos ideais entusiasmou-o.
Se em Cabrum — uma aldeia portuguesa abandonada e recentemente habitada por um grupo de pessoas com vontade de criar um projecto sustentável — as filmagens foram complicadas, em Tamera entrevistou vários habitantes (sobretudo alemães). A eco-aldeia de Cabrum é “bastante fechada”, revela, por uma questão de preservação da privacidade e da autonomia da mesma, mas o trabalho que fizeram “é impressionante”. Quatro anos depois, Cabrum viu nascer quatro crianças. Já Tamera, no Alentejo, vê-se como um “biótipo para a cura global de consciência” e é a mais antiga aldeia do género na Europa, pois já perfaz 20 anos.
De Portugal para Espanha, Pedro e Laura viajaram até Barcelona, onde, bem perto da Sagrada Família, uma cooperativa ocupou um prédio no qual promovem várias actividades. O objectivo da Cooperativa Integral Catalana é provar que esta filosofia de vida sobrevive ao (e no) meio urbano. Praticam uma “auto-gestão com moeda própria”, o Eco, e procuram usar o euro apenas em situações indispensáveis. Aconselhamento por advogados, aulas de informática e de permacultura são apenas alguns dos serviços que oferecem ou trocam.
O jovem natural de Proença-a-Nova e formado em realização pela ETIC falou, ainda, com Rui Vasques, que criou um modelo de vila ecológica e sustentável aplicável em qualquer parte do mundo, a Eco-Village Community. “Um dia gostava de viver desta maneira, numa comunidade, de acordo com os meus ideais, onde pudesse produzir o meu próprio alimento”, confessa Pedro. Enquanto esse momento não chega, está já a pensar em dois temas que gostava de abordar: o “freeganismo” e o movimento Okupa.