Glicínias para José da Cruz Santos
Uma antologia reunindo 71 escritores e 29 artistas celebra os 50 anos de actividade editorial do fundador da Inova e da Modo de Ler.
“Um homem gostava de glicínias, de ver, de respirar/ o seu arabesco perfumado pelas tardes de verão,/ e também gostava de palavras, do modo como elas/ se afirmam contra a morte. E das palavras fez/ a sua catedral (…)”. Vasco Graça Moura conhecia bem o homem a quem dedicou estes primeiros versos de um poema em que lhe traça a biografia justa. Miguel Veiga identifica-o por extenso, em prosa afectiva: “Cultivador de flores, deleitado com as subtis e delicadas glicínias da sua afeição, e do seu encantamento, Cruz Santos é, da cabeça aos pés, um criador fascinado e silencioso das glicínias, o objecto desejado dos seus desejos". António Ramos Rosa vai à raiz das coisas: “Vi uma vez/ ou duas/ uma única vez// uns grãozinhos de chuva/ num imóvel voo/ de mínima brancura/ não sabia o nome/ glicínias/ era o nome delas”.
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“Um homem gostava de glicínias, de ver, de respirar/ o seu arabesco perfumado pelas tardes de verão,/ e também gostava de palavras, do modo como elas/ se afirmam contra a morte. E das palavras fez/ a sua catedral (…)”. Vasco Graça Moura conhecia bem o homem a quem dedicou estes primeiros versos de um poema em que lhe traça a biografia justa. Miguel Veiga identifica-o por extenso, em prosa afectiva: “Cultivador de flores, deleitado com as subtis e delicadas glicínias da sua afeição, e do seu encantamento, Cruz Santos é, da cabeça aos pés, um criador fascinado e silencioso das glicínias, o objecto desejado dos seus desejos". António Ramos Rosa vai à raiz das coisas: “Vi uma vez/ ou duas/ uma única vez// uns grãozinhos de chuva/ num imóvel voo/ de mínima brancura/ não sabia o nome/ glicínias/ era o nome delas”.
Enfim, José da Cruz Santos gosta de glicínias. E se este “inventor de livros” é sobejamente conhecido por se resguardar nos bastidores das suas edições, e dos eventos que em volta delas promove, por uma vez assume a exposição pública da sua relação enamorada com esta flor que não tem sido muito dada à poesia ou à pintura, nem mesmo à decoração de interiores. “A glicínia é flor de exterior; não se deixa enclausurar numa jarra, num arranjo, numa sala. Como o Zé, um homem do lado de fora da janela, assim ela, ali onde o seu cheiro doce se dá a quem passa (como os ‘seus’ livros numa montra), mas onde não se deixa prender”, escreve Isabel Pires de Lima.
Vasco Graça Moura, Miguel Veiga, António Ramos Rosa, Isabel Pires de Lima – são quatro dos 71 autores e 29 artistas (de Alberta Cruz a Zulmiro de Carvalho) que aceitaram “plantar” uma glicínia no belo livro-álbum Alameda das Glicínias. Inicialmente pensado para assinalar os 50 anos de actividade editorial do criador da Inova, da Oiro do Dia e da Modo de Ler, tornou-se uma espécie de “prenda” para este Natal, mas vale também para o tempo todo das glicínias.
Editado em duas versões – capa dura com fotografia de João Menéres e capa normal decorada com o bordado de uma artesã do início do século XX – Alameda das Glicínias tem prefácios da ensaísta e crítica de arte Laura Castro e do jornalista do PÚBLICO Luís Miguel Queirós.