De Riad a Teerão, sem passar por Damasco
O aumento da tensão no Médio Oriente vai minar os esforços diplomáticos na Síria e no Iémen.
No fundo são dois países que lutam para ser a potência regional dominante ou, pelo menos, para evitar que o outro o consiga ser. Como se de dois jogadores de xadrez se tratasse, a Arábia Saudita e o Irão vão fazendo um jogo perigoso de luta pela supremacia regional, tendo como tabuleiro uma região fracturada por séculos de confronto entre sunitas e xiitas. E cada movimento, cada jogada, cada execução são feitos com uma frieza e um calculismo com o único intuito de perseguir esse fim e tentar, em nome da religião e da suposta luta contra o terrorismo, arregimentar aliados e conseguir benesses e cumplicidades em Washington e Moscovo. E pelo meio ainda se aproveita para desviar as atenções para os problemas domésticos.
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No fundo são dois países que lutam para ser a potência regional dominante ou, pelo menos, para evitar que o outro o consiga ser. Como se de dois jogadores de xadrez se tratasse, a Arábia Saudita e o Irão vão fazendo um jogo perigoso de luta pela supremacia regional, tendo como tabuleiro uma região fracturada por séculos de confronto entre sunitas e xiitas. E cada movimento, cada jogada, cada execução são feitos com uma frieza e um calculismo com o único intuito de perseguir esse fim e tentar, em nome da religião e da suposta luta contra o terrorismo, arregimentar aliados e conseguir benesses e cumplicidades em Washington e Moscovo. E pelo meio ainda se aproveita para desviar as atenções para os problemas domésticos.
Nesse jogo de poder, a Síria e o Iémen têm servido de palco bélico, onde a Arábia Saudita e o Irão apoiam lados opostos. E naturalmente que uma desavença com os contornos dramáticos actuais vem apenas hipotecar a possibilidade de se vir a encontrar uma solução pacífica e equilibrada na Síria e no Iémen com o beneplácito das duas maiores potenciais da região. E assim os radicais jihadistas do chamado Estado Islâmico vão continuar a aproveitar o vazio de poder para plantar e exportar o terror.
A relação entre Riad e Teerão nas últimas décadas tem sido fértil em altos e baixos. A Reuters recordava o facto de as relações terem também chegado a um ponto de quase não retorno em 1987 quando 402 peregrinos, 275 dos quais iranianos, morreram durante confrontos na cidade de Meca. Ou a aproximação em 1999, quando o então Presidente Muhammad Khatami foi recebido na Arábia Saudita, interrompendo um clima de tensão que vinha desde a revolução islâmica de 1979, culminando com a assinatura de um pacto de segurança em 2001.
Nesta montanha-russa diplomática, as relações voltaram a azedar com o acordo nuclear que os EUA firmaram com Teerão e com o levantamento das sanções económicas que Riad diz que servirá para libertar fundos que o Irão canalizará para expandir a sua influência na região. Curiosamente, os últimos sinais de diplomacia entre Riad e Teerão até foram positivos, com representantes dos dois países a reunirem-se pela primeira vez em Dezembro em Viena para tentar servir de intermediários para um encontro entre a oposição síria e representantes de Bashar al-Assad. Ficou acordado um calendário de transição.
O Irão, tal como a Rússia, tem sido o principal aliado do Presidente sírio (membro da minoria alauita, uma seita xiita), enquanto a Arábia Saudita tem apoiado grupos rebeldes que combatem Assad. Mas só o facto de Riad ter começado a escolher alguns representantes dos rebeldes e das milícias que poderiam participar num hipotético diálogo diplomático foi visto por Teerão como uma traição, já que, ao escolherem os interlocutores, os sauditas estariam já a acautelar e a transferir a sua influência para a Síria do pós-guerra. Enquanto isso, os sírios, há cinco anos em guerra, olham para o dito calendário e desesperam.