A deriva polaca
Do Tribunal Constitucional às forças armadas, das secretas às escutas, o novo Governo polaco tenta agora controlar os media. É fundamental que Bruxelas trave a deriva polaca.
Há três anos, o director da revista Foreign Affairs começou uma entrevista ao então ministro dos Negócios Estrangeiros polaco perguntando-lhe se a Polónia, após “muitos conflitos épicos”, estava a chegar a um “ponto de equilíbrio” que lhe permitiria “uma vida normal”. A resposta de Radek Sikorski foi entusiástica: “Queremos produzir menos História. Há 300 anos que não vivíamos uma fase tão boa. E já estamos a ser fonte de soluções europeias.”
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Há três anos, o director da revista Foreign Affairs começou uma entrevista ao então ministro dos Negócios Estrangeiros polaco perguntando-lhe se a Polónia, após “muitos conflitos épicos”, estava a chegar a um “ponto de equilíbrio” que lhe permitiria “uma vida normal”. A resposta de Radek Sikorski foi entusiástica: “Queremos produzir menos História. Há 300 anos que não vivíamos uma fase tão boa. E já estamos a ser fonte de soluções europeias.”
Isso foi em Março de 2013, quando a Polónia crescia e se abria à Europa e à democracia. Depois das legislativas de Outubro, ganhas pelo Partido Direito e Justiça – de uma direita nacionalista, ultracatólica e eurocéptica que faz lembrar o Governo húngaro –, a Polónia afasta-se dos valores europeus a passo rápido. Já não é matéria de interpretação: as coisas mudaram em Varsóvia.
O novo regime já não valoriza o “template civilizacional” que a Europa representa. Não passaram sequer três anos e temos a Polónia a aprovar uma lei que dá ao governo o controlo efectivo dos media estatais. Em vez de se tornar um país que contribui para as soluções dos problemas europeus, a Polónia está a tornar-se ela mesma em mais um problema europeu, colocando-se claramente ao lado da Hungria na incapacidade de interpretar e viver os valores do Velho Continente.
A Europa tem de levar este tema a sério e até ao fim. Não pode encolher os ombros, como tem feito repetidamente em relação à Hungria. Os nossos sistemas estão longe de ser perfeitos e há episódios de interferência estatal nos media em vários países democráticos, incluindo Portugal – mas tornar o erro a regra não é aceitável.
A primeira boa notícia é que Bruxelas tem ferramentas para evitar “perigos sistémicos” nas leis dos Estados-membros e garantir que “os valores europeus fundamentais” são respeitados. A segunda boa notícia é que, depois do arrastar de pés em relação à Hungria, os sinais do desnorte polaco estão a ser lidos e verbalizados sem rodeios. Basta agora aquilo que falta tantas vezes em Bruxelas – força política.