Objectivo: Serviço Nacional de Saúde
Novas abordagens, infra-estruturas diferentes e bases de melhoria do SNS. Estes desafios, ao contrário do que se pensa, reduziriam em muito os “custos” do SNS
O programa de “Um Futuro para a Saúde” da Fundação Calouste Gulbenkian de 2014 tinha como objectivo a reestruturação e reforma do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com o objectivo de o tornar equitativo, acessível a todos os cidadãos e universal.
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O programa de “Um Futuro para a Saúde” da Fundação Calouste Gulbenkian de 2014 tinha como objectivo a reestruturação e reforma do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com o objectivo de o tornar equitativo, acessível a todos os cidadãos e universal.
O objectivo passa por melhorar diferentes serviços componentes do SNS, entre os quais, hospitais, centros de saúde e USF (Unidades de Saúde Familiar).
O novo governo pretende incluir algumas destas medidas, em certa parte, melhorando a forma de constituição e funcionamento do SNS.
Um dos ensaios de campo que devem ser realizados para melhorar as dinâmicas hospitalares prende-se com o facto de se criarem equipas multidisciplinares fixas para os serviços de urgência, como existe em todos os outros serviços hospitalares, diminuindo a porta giratória que é a rotatividade das urgências. Este modelo já é aplicado em alguns hospitais, já que os clínicos ficam estritamente asseguradores deste serviço. É obvio que esta ideia põe em prática aquilo que se traduz como organização de trabalho, não deixando as urgências deficitárias. Esta também é uma forma de que as urgências não fiquem comprometidas, pois a existência de pessoas fixas viabiliza a especificidade de cada profissional de saúde. Outro ponto deficitário do SNS são as listas de espera dos hospitais públicos. Listas que ultrapassam "guidelines" internacionais e preconizadas para os serviços de saúde.
Assim pretende-se que a pessoa e o médico de família possam decidir qual o hospital em que vai ser seguido, pese os tempos de espera dos mesmos, tendo em conta os procedimentos que a pessoa realizar. Permite que as pessoas possam recorrer internamente dentro do SNS, ao hospital com mais eficácia no momento, e que lhe permita um melhor cuidado de saúde.
A nível de centros de saúde também é viável o aumento de profissionais de saúde e o desenvolvimento de equipas multidisciplinares, que permitam que os centros de saúde sejam eficazes também para diminuir a sobrecarga hospitalar. Entre estes novos profissionais é expectável a existência de consultas de saúde oral, oftalmológica, psicologia e nutricionismo.
As USF são mais uma vez uma forma de promoção essencial para os cuidados de saúde familiar, onde se deve investir na figura do enfermeiro de família. Esta que era uma das metas do programa “Um Futuro para a Saúde”, que até ao momento foi pouco ou nada dinamizada quer nas USF quer nos centros de saúde e unidade de cuidados à comunidade (UCC).
A enfermagem continua mais uma vez a ser desvalorizada neste aspecto, tendo em conta as capacidades e relevância europeia, pelo que esta ideia do enfermeiro de família, ser um conceito que geraria funções mais amplas e proeminentes no futuro. Temos e cabe aos enfermeiros e aos estudantes de enfermagem mudar esta representação social do papel do enfermeiro, somos mais que meros prestadores de cuidados de saúde, somos profissionais que dispõem de competências geradoras de podermos desempenhar o papel de enfermeiros de família. Nós somos, em contexto hospitalar e de outras organizações, aqueles que mais têm contacto com os seus utentes.
É necessário que estes desafios saiam do papel e se melhore definitivamente o SNS. A saúde é encarada muitas vezes num paradigma de doença e centrada no hospital, enquanto cabe também ao SNS enquadrar-se e enquadrar os profissionais num sistema de profilaxia, de prevenção e promoção de saúde. Novas abordagens, infra-estruturas diferentes e bases de melhoria do SNS. Estes desafios, ao contrário do que se pensa, reduziriam em muito os “custos” do SNS, pois estaríamos a falar de uma melhoria generalizada da qualidade e segurança dos cuidados de saúde. Quando diminuímos riscos e debatemo-nos com medidas de profilaxia, então teremos muito menos pessoas que necessitem de recorrer ao SNS.