NSA espiou Netanyahu e apanhou conversas com membros do Congresso americano

Administração Obama quis acompanhar os planos de Israel para frustrar o acordo com o Irão. Escutas a diplomatas israelitas incluem tentativas de aliciamento a membros da Câmara dos Representantes e do Senado.

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Casa Branca evitou fazer um pedido oficial à NSA, para não deixar rasto SAUL LOEB/AFP

Quando o Presidente dos EUA prometeu que as conversas dos seus aliados internacionais iriam deixar de ser escutadas pela Agência de Segurança Nacional (NSA), em resposta às revelações feitas por Edward Snowden, não estava a pensar no primeiro-ministro de Israel.

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Quando o Presidente dos EUA prometeu que as conversas dos seus aliados internacionais iriam deixar de ser escutadas pela Agência de Segurança Nacional (NSA), em resposta às revelações feitas por Edward Snowden, não estava a pensar no primeiro-ministro de Israel.

Desde esse anúncio de Barack Obama, feito em Janeiro de 2014 (depois de se ter descoberto que a chanceler alemã, Angela Merkel, tinha sido escutada pela NSA), Benjamin Netanyahu e os seus conselheiros e corpo diplomático foram mantidos sob escuta pelos norte-americanos por causa das negociações sobre o programa nuclear do Irão, às quais sempre se opuseram, noticia o Wall Street Journal.

Na verdade, Obama disse no seu discurso de 2014 que as comunicações dos líderes estrangeiros aliados dos EUA não seriam monitorizadas, "a não ser que haja razões de segurança nacional convincentes".

Mas essa decisão da Casa Branca explodiu agora nas mãos dos membros do Congresso dos EUA, e vem criar ainda mais tensão entre o poder executivo e o poder legislativo: a rede de escutas da NSA apanhou tudo, incluindo as conversas entre a liderança política de Israel e vários representantes do Partido Republicano e do Partido Democrata, que foram aliciados a votarem no Congresso contra o acordo sobre o programa nuclear do Irão, que Netanyahu classificou como um "erro de proporções históricas".

O facto de Israel ser um dos alvos da espionagem dos EUA – e vice-versa – não é propriamente uma novidade. Não é preciso perder muito tempo na Web para encontrar os dez mandamentos da espionagem segundo James L. Olson, um antigo agente do departamento de operações clandestinas da CIA: "Devemos actuar de forma agressiva tanto contra os adversários tradicionais como contra os não-tradicionais. De quantos exemplos de operações contra a América lançadas pelos chamados países amigos vamos precisar para nos convencermos de que o velho adágio dos serviços secretos está correcto: há nações amigas, mas não há serviços secretos amigos?"

Mas o que aconteceu nos últimos anos entre os EUA e Israel, principalmente desde que o Presidente Barack Obama definiu como uma das suas prioridades a obtenção de um acordo com o Irão, vem reforçar a ideia de que os poderes e a liberdade de actuação da NSA não têm limites.

Preocupada com a possibilidade de o Governo de Israel destruir as hipóteses de um acordo com o Irão, a Administração Obama decidiu passar a pente fino todas as conversas que envolvessem Netanyahu e os seus conselheiros mais próximos, incluindo o embaixador israelita em Washington, Ron Dermer.

O problema, segundo as "mais de duas dezenas de actuais e antigos responsáveis dos serviços secretos e da Casa Branca" que o Wall Street Journal diz ter entrevistado para a notícia publicada esta quarta-feira, é que a Administração Obama estava bem ciente dos riscos que corria, e deixou que a NSA tratasse do assunto.

"Os responsáveis da Casa Branca acreditavam que a informação interceptada poderia ser valiosa para contrariar a campanha de Netanyahu. Mas eles também sabiam que fazer um pedido [à NSA] era politicamente arriscado. Por isso, para evitar um rasto de papéis que resultaria de um pedido, a Casa Branca deixou a NSA decidir o que partilhar e o que reter", escrevem os jornalistas Adam Entous e Danny Yadron, citando um alto responsável cuja identidade não é revelada: "Não dissemos 'Façam-no'. Não dissemos 'Não o façam'."

Abuso de poder?

A investigação do Wall Street Journal levanta duas questões. Por um lado, poderá acentuar as divergências entre Washington e Telavive; por outro – mais importante para a política interna norte-americana –, deixou muitos membros do Congresso indignados por terem sido escutados pela NSA.

A identidade dos congressistas escutados e o conteúdo das suas conversas com políticos e diplomatas israelitas não são conhecidos, mas uma das fontes do jornal disse que a frase que os israelitas mais usavam nos diálogos com os membros da Câmara dos Representantes e do Senado que estavam indecisos era: "Como é que podemos garantir o seu voto? O que é preciso fazer para isso?"

Um dos mais indignados com as revelações sobre estas escutas da NSA é Peter Hoekstra, que foi membro da Câmara dos Representantes até 2011 e presidente da Comissão de Serviços Secretos entre 2004 e 2007, durante a Administração de George W. Bush. Na rede social Twitter, Hoekstra disse que os EUA podem estar perante "um abuso de poder sem precedentes".

"A NSA e a Administração Obama têm de ser investigados e acusados se a notícia do WSJ for verdadeira. A NSA perde toda a credibilidade. É assustador", escreveu o antigo congressista do Partido Republicano, que foi um dos mais ferozes críticos de Edward Snowden quando o antigo analista revelou os programas de vigilância da NSA que recolhem informações sobre cidadãos norte-americanos e estrangeiros, mesmo que não tenham qualquer ligação a planos terroristas ou outros crimes.

Aproveitando esta aparente contradição, o jornalista Glenn Greenwald (que escreveu no jornal britânico The Guardian muitas das notícias sobre as revelações de Edward Snowden) respondeu ao antigo congressista também no Twitter: "Como é que é aquela frase divertida? Se estes representantes não fizeram nada de mal quando falaram com Netanyahu, o que é que têm a esconder?"