Fundador do cartel La Familia Michoacana encontrado morto numa auto-estrada
Carlos Rosales Mendoza, conhecido como El Tísico, era um dos nomes da lista dos homens mais procurados da agência antidroga dos EUA. Terá sido torturado, mutilado e executado quando participava numa reunião de capos do narcotráfico.
O corpo de Carlos Rosales Mendoza, um dos fundadores do violento cartel do narcotráfico La Familia Michoacana, foi encontrado com ferimentos de bala e sinais de tortura no estacionamento de uma base de vigilância da polícia federal mexicana numa movimentada auto-estrada, ao lado de outros três cadáveres, também com marcas de terem sido mortos a tiro.
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O corpo de Carlos Rosales Mendoza, um dos fundadores do violento cartel do narcotráfico La Familia Michoacana, foi encontrado com ferimentos de bala e sinais de tortura no estacionamento de uma base de vigilância da polícia federal mexicana numa movimentada auto-estrada, ao lado de outros três cadáveres, também com marcas de terem sido mortos a tiro.
Rosales Mendoza, conhecido como “El Tísico”, era um dos nomes da lista dos homens mais procurados pela agência antidroga norte-americana, DEA: o cartel por ele fundado, no início do milénio, acabou por se impor no Oeste do México e tornar-se uma das mais violentas e nefastas organizações criminosas daquele país, tendo chegado até a deter o monopólio da produção de drogas sintéticas e do tráfico de marijuana com destino aos Estados Unidos. Mas além do negócio da droga, o seu grupo tornou-se uma poderosa máquina de extorsão, sequestros e homicídios, sempre reivindicados como “justiça”.
A sua morte foi anunciada pela procuradoria do estado de Michoacán, que não adiantou qualquer explicação relativamente ao ocorrido, excepto que a identificação do corpo foi feita por dois dos seus filhos. Os restantes cadáveres, que foram encontrados ao lado de Rosales Mendoza, já foram identificados – segundo a imprensa mexicana, seriam seus “associados” ou colaboradores. Os quatro homens, mortos a tiro e mutilados, terão sido torturados antes de ser executados, num ponto distinto daquele onde foram encontrados na auto-estrada Siglo 21 – na chamada caseta de Santa Casilda, usada como posto de vigilância pelas forças da polícia federal, no município de Gabriel Zamora.
Apesar de se recusarem a especular sobre o crime, os investigadores citados pela imprensa local dizem que a encenação aponta “inequivocamente” para o envolvimento do narcotráfico no crime. Segundo o jornal El Universal, os corpos foram encontrados pouco mais de uma hora depois de moradores e grupos de autodefesa terem dado conta da realização de uma “reunião de capos” no rancho de Las Cortinas, interrompida por pelo menos três rondas de tiroteio. Citando fontes consultadas na região, o jornal diz que El Tísico teria sido convidado para participar num encontro por “líderes de outros grupos armados” – seria, provavelmente, uma emboscada.
A ligação de Rosales Mendoza ao mundo da droga e da criminalidade remonta à juventude, quando era apenas mais um dos muitos miúdos que integravam gangues e traficavam drogas. Mas foi “subindo” na carreira, e alargando a sua área de actuação ao associar-se ou firmar alianças com alguns dos cartéis do narcotráfico já estabelecidos na região. Na mudança do século, era o “representante” do cartel do Golfo para os estados de Jalisco, Michoacán e Guanajuato, a parte ocidental do México: El Tísico tornara-se um dos homens de confiança do líder do cartel, Osiel Cárdenas Guillén.
A sua missão era conquistar a produção de marijuana e metanfetaminas e garantir as rotas de distribuição de cocaína que estavam sob o domínio do cartel do Milénio. Para tal, inventou, com outros dois “sócios”, a sua própria organização, que inicialmente se chamou La Empresa mas depois evoluiu para La Familia Michoacana – um cartel que, segundo a descrição da diplomacia norte-americana revelada pela Wikileaks, operava num sistema de “delírio narco-sacramental”. “Um fervor quase religioso, próximo do culto, inspira La Familia, cujos integrantes se referem ao mercado da marijuana e da cocaína como ‘dádivas do céu’”, lia-se num dos telegramas.
O chefe do cartel do Golfo foi preso em 2003 e, um ano depois, Rosales Mendoza foi o mentor de um plano para a fuga de Cárdenas Guillén da prisão de alta segurança de Almoloya. O “assalto” redundou em fracasso, apesar da fuga de 25 reclusos (ex-soldados de elite que acabariam por constituir o cartel Los Zetas), e ditou a sua própria detenção. Acusado de envolvimento no crime organizado, foi condenado a dez anos numa prisão do estado de Jalisco – a gestão da Familia Michoacana passou para os outros sócios, que imprimiram ao cartel um carácter mais violento e ainda mais místico.
Em 2006, o cartel executou uma das suas acções mais espectaculares: um grupo de encapuzados entrou numa movimentada discoteca e atirou para a pista de dança cinco cabeças decapitadas, com uma explicação: “La Familia não mata por dinheiro, não mata mulheres, não mata inocentes. Só morre quem deve morrer. Isto, para que toda a gente saiba, é justiça divina.” Em cumprimento de preceitos religiosos, na defesa dos “valores tradicionais” ou em nome do combate às injustiças e desigualdades, os membros do cartel arrogavam-se o direito de matar e desmembrar os seus inimigos.
Muito rapidamente, depois do seu apogeu, a Familia Michoacana passou a viver tempos difíceis. A prisão de vários dos seus capos foi enfraquecendo a organização: primeiro foi José de Jesús de Méndez Vargas, ou El Chango, detido em 2011; depois Nazario Moreno González, conhecido tanto por El Chayo como “El más loco”, alvo de várias acções do Exército até ser finalmente morto, em 2014.
Mas o declínio deveu-se, principalmente, à concorrência e guerra territorial de outros cartéis, nomeadamente os Zetas e o de Sinaloa: o conflito resultante deixou o México à beira da guerra civil, levando o Governo do Presidente Felipe Calderón a lançar uma intervenção militar contra o narcotráfico e inúmeras comunidades a organizarem milícias populares designadas como grupos de autodefesa. Entretanto, o antigo professor primário e fanático do tarot, Servando Gómez Marínez, ou La Tuta, que se tinha juntado à cúpula dirigente da Familia, aproveita o desmembramento do cartel para, em 2010, autonomizar os Cavaleiros Templários, um grupo ultra-violento. Nos anos seguintes, seria declarado como inimigo número um do México.
Em 2014, depois de uma ofensiva sobre o quartel-general de Apatzingan, coração da chamada Terra Caliente, o Governo proclamou a dissolução do cartel fundado por Carlos Rosales Mendoza, que acabava de sair da prisão. Com El Chayo morto e La Tuta preso (a sua captura, em Fevereiro deste ano, foi realizada sem que fosse disparado um tiro), a imprensa mexicana dizia que Mendoza estava interessado em assumir a liderança dos Cavaleiros Templários e reerguer o negócio de venda de drogas leves e drogas sintéticas que pertencera ao seu discípulo.