Socialistas espanhóis dizem não a Governo de Rajoy e a novas eleições
Encontro entre os líderes dos dois partidos com mais deputados eleitos durou 20 minutos. Líder socialista rejeitou grande coligação e mostrou-se disponível para encontrar solução alternativa.
Para acabar de vez com as dúvidas, o líder socialista espanhol, Pedro Sanchéz, fechou definitivamente a porta à negociação de um pacto com o Partido Popular (PP) para a viabilização de um segundo mandato de Mariano Rajoy, que fica assim praticamente sem alternativas para garantir o apoio necessário a um novo governo maioritário.
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Para acabar de vez com as dúvidas, o líder socialista espanhol, Pedro Sanchéz, fechou definitivamente a porta à negociação de um pacto com o Partido Popular (PP) para a viabilização de um segundo mandato de Mariano Rajoy, que fica assim praticamente sem alternativas para garantir o apoio necessário a um novo governo maioritário.
“Dissemos que não a Rajoy e às suas políticas. Não vamos apoiar a continuidade de Rajoy e do PP porque os cidadãos votaram pela mudança”, resumiu Sánchez, que foi chamado à sede do Governo pelo líder conservador (e presidente do Governo em funções) para analisar o cenário político e discutir as diferentes soluções para a investidura de um novo executivo. Bastaram vinte minutos de reunião para se perceber que não haveria negociação entre os dois.
O encontro entre os dirigentes dos dois partidos com mais deputados eleitos no domingo – e os únicos dois partidos que governaram a Espanha em alternância depois do regresso da democracia – foi tão rápido que Sánchez já respondeu às perguntas dos jornalistas na sede dos socialistas, e não no palácio da Moncloa, onde decorreu a reunião.
Mais ou menos à mesma hora, Albert Rivera apresentava, em nome dos Cidadãos, uma solução para ultrapassar o impasse saído das urnas: um “acordo a três”, assinado pelo PP, o PSOE e o seu partido, a que chamou um “Pacto por Espanha” – e que, explicou, seria um “pacto de regime, pela unidade e estabilidade do país”. “Proponho não reuniões bilaterais, mas uma mesa de negociação [a três] para dar estabilidade a Espanha", declarou Rivera, sublinhando que o novo executivo resultante desse pacto teria como prioridade a realização de “reformas democráticas e urgentes”.
Mas na mesma penada em que afastou um acordo de governo com Rajoy, o líder do PSOE declinou também negociar (por enquanto) qualquer solução que viesse a ser sugerida pelos Cidadãos ou o Podemos. “Respeitemos os procedimentos da democracia. Por agora, o tempo é do partido que ganhou as eleições. É à primeira força política que cabe a responsabilidade de tentar formar governo”, lembrou Pedro Sánchez. “Passada essa etapa, cumpriremos o mandato dos cidadãos para que haja um governo de mudança”, continuou, prometendo “continuar a trabalhar” para que esse novo governo “tenha ideias progressistas e capacidade de diálogo”.
As palavras de Sánchez não deixam margem de dúvidas quanto aos cálculos, a estratégia e a expectativa dos socialistas. De acordo com o El País, no “brevíssimo” encontro com Rajoy, o secretário-geral do PSOE frisou que se os populares conseguirem os números para garantir uma maioria, assumirá as suas responsabilidades como líder de uma “oposição leal e construtiva”.
A margem de manobra de Mariano Rajoy é muito reduzida. Descartada a hipótese de uma grande coligação, restam eventuais acordos com os restantes partidos com representação parlamentar. O líder do PP recebe na segunda-feira o secretário-geral do Podemos, Pablo Iglesias, e Albert Rivera. Mas, se depois de testadas as diferentes hipóteses para a construção de alianças, o PP continuar longe dos 176 votos que garantem o suporte parlamentar ao governo, Pedro Sánchez diz estar pronto para encabeçar os esforços para formar um “governo que garanta a pluralidade expressa pelos cidadãos nas urnas”. “O PSOE vai abrir pontes de diálogo e acordo”, garantiu.
Nessa altura, talvez Sánchez queira revisitar o pacto proposto pelos Cidadãos – embora noutros moldes. Parece pouco plausível. O mais provável é que os socialistas espanhóis tentem replicar o modelo inaugurado por António Costa em Portugal, e negociar acordos para formar um governo sustentado numa maioria de esquerda. Para tal, precisará de esbater as diferenças que ainda afastam o PSOE do Podemos, e de negociar com os pequenos partidos do País Basco e da Catalunha que elegeram deputados – um cenário designado como a “solução regional”.
Existe, claro, uma outra possibilidade. Ao fechar a porta ao PP, o líder socialista deixou entreaberta a janela (de oportunidade) para a repetição das eleições, que se tornarão inevitáveis se no espaço de dois meses após a entrada em funções do novo parlamento, em Janeiro, não existir nenhuma solução de governo que obtenha os votos de pelo menos 176 deputados. Essa é uma perspectiva que não agrada a Pedro Sánchez: “Não vamos aceitar essa hipótese; é a última das opções”, ressalvou.