Edgar Silva, o padre que roubava maçãs e fugia da polícia
A campanha do candidato presidencial lançou esta quinta-feira a biografia oficial em vídeo. Obra fala de um padre que chegou a ser preso no adro da Sé Catedral do Funchal.
Um menino que nasceu na Rua Levada do Cavalo, Funchal, que se fez padre em Almada, que assumiu o sacerdócio na Madeira, que se tornou num dos principais inimigos de Alberto João Jardim e que depois abandonou a Igreja pelo Partido Comunista. Agora quer ser o próximo Presidente da República Portuguesa. Não é uma história comum a de Edgar Silva, mas uma nova biografia lançada na quinta-feira pretende desvendar a vida do “padre dos meninos das caixinhas”.
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Um menino que nasceu na Rua Levada do Cavalo, Funchal, que se fez padre em Almada, que assumiu o sacerdócio na Madeira, que se tornou num dos principais inimigos de Alberto João Jardim e que depois abandonou a Igreja pelo Partido Comunista. Agora quer ser o próximo Presidente da República Portuguesa. Não é uma história comum a de Edgar Silva, mas uma nova biografia lançada na quinta-feira pretende desvendar a vida do “padre dos meninos das caixinhas”.
Nasceu em 1962, no Funchal, no seio de uma família “operária” e muito religiosa, e foi essa formação católica que o levou a viajar para Lisboa aos 18 anos, ingressando no Seminário de Almada e de Olivais. Depois de uma licenciatura em Teologia e um mestrado em Teologia Sistemática, regressou à Madeira para criar o MAC – Movimento do Apostolado das Crianças.
Ser padre “era uma opção radical, uma ideia de que ser padre era nada ter a perder. Era um atrevimento total na entrega à causa dos mais pobres”, diz Edgar Silva, que desde cedo se envolveu em projectos alternativos de apoio a crianças de rua.
Os chamados “meninos das caixinhas” vinham “aos bandos com umas caixas pedir dinheiro aos turistas” e foram protagonistas do primeiro grande escândalo de pedofilia nacional. Edgar Silva denunciou o caso na década de 1990 e é ainda considerado por muitos como o “herói” dos meninos.
Sempre muito crítico do executivo regional liderado por Alberto João Jardim, acabaria por ser detido num dia em que jogava futebol com os “miúdos”, no adro da Sé Catedral do Funchal. As crianças “reuniram o grupo todo das caixinhas” e foram para a frente da esquadra “fazer barulho, com tampas de panela”. Enquanto “a polícia não mandava o Edgar para a rua”, eles não pararam.
“A rua é um lugar de grandes desconfianças, demora muito tempo a entrar naquele mundo”, explica o antigo padre. “Como é que se faz: levando cores, papéis, lápis, jogar à bola com eles, mergulhar lá no mar, do cais da cidade, roubar uma maçã com eles também, fugir à polícia”, revela Edgar Silva com um sorriso.
O candidato a Belém defende que os pobres não podem ser “o receptáculo da boa vontade de quem tem mais”. “A única forma de os mais explorados, dos mais pobres, poderem aceder à justiça social” é através da sua organização. “Os pobres enquanto realidade dispersa tinham de formar um sujeito colectivo, orgânico. E é como sujeito devidamente organizado que os pobres podiam alcançar mais direitos, mais justiça e ter perspectivas libertadoras”, considera o dirigente comunista.
Em 1996, surge a proposta para ser candidato independente nas listas da CDU ao parlamento regional. O padre desvincula-se de todos os compromissos que tinha na Igreja e assume essa candidatura. “Conseguimos erigir o grupo parlamentar e aí inicia-se outro nível de intervenção, política partidária”, conta.
Depois de conseguir o melhor resultado de sempre do partido na Madeira, filia-se definitivamente no PCP em 1998. Em 2000, é promovido ao Comité Central do partido e responsabiliza-se pela organização comunista na Região Autónoma. Agora, é altura de ser Presidente. Texto editado por Leonete Botelho.