Papa autoriza canonização da Madre Teresa de Calcutá

Cerimónia deverá realizar-se em Setembro, no âmbito das celebrações do Jubileu da Misericórdia

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O Vaticano reconheceu um segundo milagre atribuído à religiosa, beatificada já em 2003 Jayanta Shaw/Reuters

O Papa abriu caminho à canonização da Madre Teresa de Calcutá, ao reconhecer um segundo milagre que terá sido realizado por intercessão da pequena freira de origem albanesa que se tornou um das figuras mais reverenciadas do catolicismo no século XX. A elevação aos altares deverá acontecer em Setembro, numa jornada que Francisco já lhe tinha dedicado no âmbito das celebrações do Jubileu da Misericórdia.

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O Papa abriu caminho à canonização da Madre Teresa de Calcutá, ao reconhecer um segundo milagre que terá sido realizado por intercessão da pequena freira de origem albanesa que se tornou um das figuras mais reverenciadas do catolicismo no século XX. A elevação aos altares deverá acontecer em Setembro, numa jornada que Francisco já lhe tinha dedicado no âmbito das celebrações do Jubileu da Misericórdia.

O Vaticano, preservando o sigilo em que decorrem os processos de canonização, não divulgou ainda a identidade da pessoa que terá sido inexplicavelmente curada. Mas o arcebispo de Calcutá, Thomas D'Souza, tinha já revelado que o miraculado é um cidadão brasileiro a quem, em 2008, tinham sido diagnosticados vários tumores cerebrais que desapareceram depois de os seus familiares terem rezado à Madre Teresa pela sua cura. O processo foi finalizado no início da semana, com uma última audição de um painel de peritos na Congregação para a Causa dos Santos, adianta a AFP.

Filha de pais albaneses nascida em 1910 no que é hoje a Macedónia, Agnes Gonxha Bojaxhiu partiu em 1928 para a Índia, onde iniciou a sua vida religiosa e fundaria, duas décadas mais tarde, as Missionárias para a Caridade, com o compromisso de ajudar “os mais pobres entre os pobres”, os doentes e os moribundos deixados ao abandono nas zonas mais miseráveis daquela grande metrópole indiana. A ordem – reconhecível pelo sari branco de bordas azuis que se tornou símbolo da sua fundadora – espalhou-se a mais de uma centena de países, num trabalho que transformou a madre Teresa numa figura venerada em todo o mundo e que em 1979 lhe valeu o prémio Nobel da Paz.

O Papa João Paulo II, que partilhava com ela o carisma e uma visão ortodoxa da doutrina católica, beatificou-a em 2003, um processo realizado em tempo recorde com o reconhecimento de um primeiro milagre – a cura de uma mulher bengali de 30 anos, curada de um tumor abdominal. No dia em que foi declarada venerável, 300 mil pessoas acorreram à Praça de São Pedro, para assistir às cerimónias, num testemunho da sua enorme popularidade que deverá repetir-se com a canonização.

Não se sabe ainda se a cerimónia irá decorrer no Vaticano ou na Índia. Mas, apesar de ainda não ser oficial, tudo indica que a canonização acontecerá a 4 de Setembro de 2016, data que o Vaticano já lhe tinha reservado no calendário das celebrações previstas para o jubileu (Ano Santo) que o Papa decidiu dedicar à misericórdia, iniciado no passado dia 8. Francisco, que como ela quer a Igreja focada nos mais pobres, conheceu-a durante um sínodo em Roma em 1994 e, no ano passado, disse ter ficado impressionado pela sua força de carácter, ao mesmo tempo que confessou: “Eu teria medo se ela fosse minha superiora”.

“Estou verdadeiramente feliz por isto ter acontecido no meu tempo de vida”, reagiu a irmã Sunita Kumar, porta-voz das Missionárias e muito próxima da fundadora, lembrando-a como alguém que, “lia a Bíblia, certamente, mas que tinha como compromisso principal o serviço aos mais pobres”. O processo canónico para a sua beatificação revelou que a madre Teresa atravessou profundas crises de fé, manifestando as suas dúvidas em cartas escritas ao longo de décadas. “Onde está a minha fé? Mesmo no mais profundo de mim não há nada, excepto vazio e escuridão”, lê-se numa carta transcrita no livro “Vem, Sê a Minha Luz” (2008, Alêtheia), do padre Brian Kolodiejchuck.

Mas a “a santa das sarjetas”, como muitos lhe chamaram ainda em vida, despertou também muitas críticas, quer de quem a acusou de aceitar todas as doações, mesmo a de ditadores ou políticos corruptos, de prestar cuidados medíocres aos doentes acolhidos pela sua ordem, de exaltar a pobreza e o sofrimento sobre a denúncia das injustiças, ou ainda por manter-se intransigente em relação à contracepção ou o aborto.