Marisa Matias: “Não podemos defraudar a esperança que foi criada”
Assume que “não há candidaturas neutras”, que não vê na Constituição um conjunto de “ideias vagas que podem ser violadas”. Pelo contrário, leva-as “muito a sério”. Um “bom modelo” de Presidente? “Seguramente” Jorge Sampaio.
O jornalista João Adelino Faria insistiu na questão e a candidata do Bloco de Esquerda Marisa Matias insistiu nos seus argumentos. O entrevistador queria que a candidata à Presidência da República explicasse por que não serviria os interesses do seu partido, tal como acusa o actual Chefe de Estado de fazer. E como resolverá conflitos que possam surgir neste Governo, apoiado pelo BE.
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O jornalista João Adelino Faria insistiu na questão e a candidata do Bloco de Esquerda Marisa Matias insistiu nos seus argumentos. O entrevistador queria que a candidata à Presidência da República explicasse por que não serviria os interesses do seu partido, tal como acusa o actual Chefe de Estado de fazer. E como resolverá conflitos que possam surgir neste Governo, apoiado pelo BE.
Entre outros argumentos, Marisa Matias, que é eurodeputada, lembrou que sempre “estabeleceu pontes com todos os partidos e governos”, ao longo de sua vida política: “Sei bem o que é trabalhar com toda a gente.”
E rejeita a comparação com o actual Presidente da República que, frisou, “nunca quis ser” um Presidente de todos os portugueses: “É impossível ultrapassar Cavaco Silva nesse campeonato.”
Reiterando que o fundamento da sua candidatura é dirigir-se ao país “invisível e esquecido”, Marisa Matias defendeu que é preciso estar de acordo com o “novo ciclo político” que se abriu depois das eleições legislativas: “Não podemos defraudar a esperança que foi criada.”
Assumiu sem receio que “não há candidaturas neutras” e recusou fazer o “discurso de demonização dos partidos”, contrariando a ideia de que os candidatos apoiados por um partido tenham a independência beliscada no exercício das funções presidenciais.
Para a candidata, o mais importante “em matéria de independência” diz respeito a “interesses particulares”, nomeadamente aos dos “sectores económicos e financeiros” que se “têm sobreposto” aos das pessoas.
Quanto ao papel que assumirá, caso seja eleita, diante de um conflito com o actual executivo e envolvendo o Bloco de Esquerda, Marisa Matias defendeu-se com a Constituição e com a função do Presidente, “clara e bem definida”. O cumprimento da Lei Fundamental e o respeito pelas funções “claras” dos diferentes órgãos de soberania apagam esse “dilema”, defendeu.
O essencial é, acima de tudo, a Constituição – que Marisa Matias considera não ter sido respeitada pelo actual Presidente da República e pela qual promete zelar, até porque se revê no que nela está inscrito. “Tenho uma óptima relação com a Constituição”, disse mais à frente na entrevista. Para a candidata, o que lá está não são “ideias vagas que podem ser violadas”. Pelo contrário: “Tomo-as muito a sério.”
Na televisão, voltou a sublinhar que quer disputar a segunda volta, mas que, caso não o consiga, apoiará o candidato da esquerda mais bem posicionado. Qualquer candidato ou candidata, incluindo Maria de Belém. “O meu candidato rival é Marcelo Rebelo de Sousa”, clarificou.
Sobre Sampaio da Nóvoa, reconhece que partilha com o antigo reitor da Universidade de Lisboa um “território semelhante”, mas considera que este se tem apresentado mais ao centro.
Quanto a um exemplo de “bom modelo” na Presidência da República, referiu Jorge Sampaio: “seguramente” um dos melhores presidentes que Portugal já teve, reconheceu.