Tem uma história para contar? Os rapazes do Porta dos Fundos querem ouvi-la
Quatro actores do Porta dos Fundos trazem a Portugal Portátil, uma peça de teatro improvisada que vive das histórias de quem assiste. A estreia é esta quinta-feira em Braga. Leiria, Aveiro, Coimbra, Lisboa e Porto recebem depois o espectáculo.
Atenção: a história é sua mas a interpretação é deles, por isso não se admire com o caminho que o seu episódio pode tomar. Uma coisa é certa: vai ser épico, quiçá catártico. Não somos nós que o dizemos, são eles: Gregorio Duvivier, Luis Lobianco e Gustavo Miranda. João Vicente de Castro não o disse apenas porque não chegou a tempo desta entrevista. Com o carimbo do Porta dos Fundos, os quatro actores trazem a Portugal o espectáculo Portátil, uma peça de teatro improvisada que ganha forma na história de quem a contar. A estreia acontece nesta quinta-feira perante um Theatro Circo, em Braga, já esgotado. Leiria (dia 18), Aveiro (19), Coimbra (20), Lisboa (21 e 22) e Porto (23) são as cidades que se seguem.
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Atenção: a história é sua mas a interpretação é deles, por isso não se admire com o caminho que o seu episódio pode tomar. Uma coisa é certa: vai ser épico, quiçá catártico. Não somos nós que o dizemos, são eles: Gregorio Duvivier, Luis Lobianco e Gustavo Miranda. João Vicente de Castro não o disse apenas porque não chegou a tempo desta entrevista. Com o carimbo do Porta dos Fundos, os quatro actores trazem a Portugal o espectáculo Portátil, uma peça de teatro improvisada que ganha forma na história de quem a contar. A estreia acontece nesta quinta-feira perante um Theatro Circo, em Braga, já esgotado. Leiria (dia 18), Aveiro (19), Coimbra (20), Lisboa (21 e 22) e Porto (23) são as cidades que se seguem.
Eles já não são desconhecidos - graças ao fenómeno em que o colectivo brasileiro Porta dos Fundos se tornou - a prova disso são as sete datas em Portugal deste espectáculo prestes a esgotar (entretanto foram anunciadas mais duas sessões, uma em Coimbra e outra no Porto, nos dias já marcados mas ao final da tarde). Mas se está à espera de ver ao vivo alguns dos sketches que já o fizeram rir, desengane-se porque não é nada disso que vai acontecer. E essa é, provavelmente, a única certeza. “É uma peça improvisada, as pessoas podem esperar sempre alguma coisa diferente, algo que nunca foi visto nem se vai repetir”, começa por explicar o colombiano Gustavo Miranda, contando que durante os 70 minutos de Portátil tudo pode acontecer e nem tudo pode dar vontade de rir. “Há espectáculos em que a plateia literalmente chorou”, diz.
A premissa é simples. Os quatro membros do Porta dos Fundos convidam uma pessoa da plateia a partilhar uma história pessoal e fazem-no através de um guião de perguntas pré-definido, e a partir daí inventam, literalmente. “Temos um grupo de perguntas, poucas, que é a chave e o que precisamos para fazer o espectáculo até ao fim”, explica Luis Lobianco, para quem a intenção do grupo não é ficar a saber a vida das pessoas mas simplesmente criar um espectáculo a partir de um conceito diferente. “Temos a liberdade poética de dar um novo significado às coisas e qualquer história ajuda e inspira-nos.”
E como é que surgiu esta ideia? “Exactamente da vontade de improvisar”, responde Gregorio Duvivier. “Não queríamos apenas fazer algo que fosse novo a cada espectáculo, mas também propor algo novo dentro do improviso”, diz. “Queríamos explorar o improviso como narrativa, como um meio de contar uma história, e não só como um meio de fazer rir”, continua, garantindo que a prioridade em Portátil não é a comédia – “embora a peça seja cómica em vários momentos”. “Já fazíamos muita improvisação curta, aqueles jogos de improviso, mas queríamos passar para um formato longo. Queríamos experimentar isso no Porta”, explica Duvivier, comparando com a fase que o colectivo humorístico actualmente atravessa: “Vamos ter a primeira longa [-metragem] em Janeiro e no fundo é a mesma coisa. Passámos dos jogos, dos três minutos, para um formato longo”.
E isso não é a mesma coisa, garante. “As pessoas às vezes acham que quem sabe contar uma história curta, conta uma longa mas não é assim. São coisas diferentes. É como o maratonista e o velocista. Põe o Usain Bolt a correr a maratona e ele morre no quilómetro dez.”
No entanto, para o actor brasileiro, que ainda em Outubro esteve em Portugal a apresentar o seu monólogo Uma Noite na Lua, “é o risco, o medo de fazer algo novo”, que está na base de Portátil. “O principal perigo para o Porta é a acomodação, a mesmice, como se diz no Brasil. Começar a experimentar uma linguagem nova é uma maneira também de se renovar”, defende. “Acho que uma maneira óptima para fazer alguma coisa é você não saber fazê-la. Acho que foi isso que nos motivou. Falei: ‘Cara, acho que a gente não sabe fazer isso. Vamos aprender?’”
Se estranha a ausência de outros actores do Porta dos Fundos, Duvivier explica: “Somos os mais interessados nessa pesquisa da improvisação”. “O Porta tem muitos braços. O Kibe [Antonio Tabet] foi fazer um talk-show, o Fábio [Porchat] tem uma outra peça, faz muito stand-up comedy e tem um programa. Cada um tem os seus braços e nós somos, talvez, os mais interessados em teatro, improvisação”, acrescenta. Lobianco lembra ainda que antes do colectivo, os quatro faziam teatro com outros grupos, outras pessoas. “Porque não fazer isso no Porta, porque não fazer com o nosso grupo? Porque não viver essa experiência junto? Acho que Portátil é isso também, um regresso ao teatro.”
E a avaliar pela recepção do espectáculo no Brasil, parece que os quatro se têm saído bem. “Tem sido incrível”, diz Luis Lobianco, ao mesmo tempo que Gustavo Miranda destaca como nunca antes na sua vida tinha ouvido “tantas histórias de pessoas”. “É muito louco”, diz o actor que chegou há menos tempo à Porta dos Fundos, com a certeza de que “todas as histórias são potencialmente épicas”. “Qualquer história pode ser uma grande história. Não existe uma boa história ou uma história ruim.”
Gregorio Duvivier mostra-se até espantado com o que tem ouvido nos espectáculos: “Há de tudo. Histórias muito banais a histórias épicas e surreais. Ambas são interessantes de maneiras muito diferentes. O nosso desafio é transformar qualquer história em épica”, conta, explicando que o grande desafio acontece quando a história que lhes contam já de si é épica. “Como encenar algo ainda mais interessante do que aquilo que a pessoa já contou?”, questiona o actor, para quem tem sido surpreendente o quão catártico o espectáculo consegue ser para quem assiste, e principalmente para quem conta a história. “Tem um lado que é meio terapêutico porque no fundo a pessoa deitou uma coisa dela cá para fora e todo o teatro viu. Mais do que viu, torceu por ela, gritou, riu da história dela, se emocionou junto. É uma experiência muito louca.”