Previsões para 2016: Romeo Castellucci divide o Rivoli com um espectáculo de choque
Sul Concetto di Volto nel Figlio di Dio, aventura escatológica que gerou violentas acusações de "cristianofobia", chega ao Porto em Maio. Bouchra Ouizguen, Amir Reza Koohestani, Raimund Hoghe e Gilles Jobin também serão visitas da próxima temporada.
Não é fácil encontrar no currículo recente de Romeo Castellucci uma encenação que não divida radicalmente o público – e também não é fácil encontrar uma encenação que tenha didivido tanto como Sul Concetto di Volto nel Figlio di Dio (2010), o espectáculo de choque que a mítica companhia fundada em 1981 pelo encenador italiano, a Socìetas Raffaello Sanzio, trará ao Porto em Maio. O corpo de Cristo (observando fixamente os espectadores desde o fundo do palco, ocupado por uma gigantesca amplicação do Ecce Homo de Antonello de Messina), sangue, hemodiálise e muita matéria fecal: em Paris, o grafismo totalmente in-yer-face da aventura escatológica do encenador italiano (Sul Concetto di Volto nel Figlio di Dio é, diz, sobre "o espírito da merda") deu direito a invasão de palco, ataques com facas e pedras e a acusações violentas de "cristianofobia". Mas calma, ainda estamos em Portugal, portanto é provável que estas notícias se revelem muito exageradas (não houve drama em 2006, quando Castelucci trouxe um dos episódios da sua monumental Tragédia Engonidia ao Alkantara Festival).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Não é fácil encontrar no currículo recente de Romeo Castellucci uma encenação que não divida radicalmente o público – e também não é fácil encontrar uma encenação que tenha didivido tanto como Sul Concetto di Volto nel Figlio di Dio (2010), o espectáculo de choque que a mítica companhia fundada em 1981 pelo encenador italiano, a Socìetas Raffaello Sanzio, trará ao Porto em Maio. O corpo de Cristo (observando fixamente os espectadores desde o fundo do palco, ocupado por uma gigantesca amplicação do Ecce Homo de Antonello de Messina), sangue, hemodiálise e muita matéria fecal: em Paris, o grafismo totalmente in-yer-face da aventura escatológica do encenador italiano (Sul Concetto di Volto nel Figlio di Dio é, diz, sobre "o espírito da merda") deu direito a invasão de palco, ataques com facas e pedras e a acusações violentas de "cristianofobia". Mas calma, ainda estamos em Portugal, portanto é provável que estas notícias se revelem muito exageradas (não houve drama em 2006, quando Castelucci trouxe um dos episódios da sua monumental Tragédia Engonidia ao Alkantara Festival).
Entretanto, até ao previsível acontecimento que será a vinda de um dos mais controversos encenadores europeus à cidade, muita coisa passará pelo Rivoli. Já a 23 de Janeiro, o teatro festeja o seu 84.º aniversário (o primeiro desde o seu regresso à vida, depois dos anos Rui Rio) com uma maratona de 17 horas que inclui um celebrado espectáculo (já visto em Portugal) da coreógrafa marroquina Bouchra Ouizguen, Ha!, uma criação para crianças da coreógrafa croata Ivana Muller, Partituur, e uma especialíssima actuação dos HHY & The Macumbas num espaço que já se inscreveu no circuito local de concertos, o subpalco. Em Março, outra visita emocionante, a de Amir Reza Koohestani (o encenador iraniano trará ao Porto um poderoso Ivanov feito à escala das frustrações da geração que fez a revolução falhada de 2009), e uma exploração das fronteiras de género com o Foco Homem ou Mulher, com espectáculos do francês François Chaignaud e da filipina Eisa Jocson. A dança continua, de resto, a ser o centro de gravidade da programação de Tiago Guedes, que inaugura em Abril um novo festival, Dias da Dança (28 de Abril a 7 de Maio), em colaboração com as cidades vizinhas de Gaia e Matosinhos: Raimund Hoghe e Ambra Senatore serão as âncoras internacionais de um programa muito apostado em dar visibilidade acrescida às estruturas e aos coreógrafos da cidade, alguns deles bolseiros do Teatro Municipal do Porto, que ao longo do último ano lhes disponibilizou condições inéditas de trabalho. Outra residente temporária da cidade, Meg Stuart, fechará a temporada em Julho, com Violet.
2016 não será, portanto (ainda!), ano de abrandamento: "Em teoria sim, achamos que temos de diminuir o ritmo. Na prática, o ritmo não vai diminuir muito", antecipa ao Ípsilon o director artístico Tiago Guedes, para quem os dois pólos complemetares do Teatro Municipal do Porto (Rivoli e Campo Alegre) têm estado a trabalhar na justa medida do que "a cidade precisava e pedia". Não estará muito enganado: pelas enchentes das últimas semanas, parece que a cidade também não tem grande vontade de abrandar.