A descoberta rara de um elefante esquartejado na Grécia pré-histórica
Ossos de um elefante que viveu há centenas de milhares de anos apresentam marcas de cortes.
Perto da cidade grega de Megapólis, escavações arqueológicas revelaram que os humanos comiam elefantes há 300.000 a 600.000 anos. Os resultados deste trabalho, de uma equipa do Ministério da Cultura da Grécia e da Universidade de Tübingen, na Alemanha, dão conta da descoberta de variados instrumentos de pedra usados pelos humanos daquela altura, juntamente com o esqueleto fossilizado de um elefante com sinais de esquartejamento.
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Perto da cidade grega de Megapólis, escavações arqueológicas revelaram que os humanos comiam elefantes há 300.000 a 600.000 anos. Os resultados deste trabalho, de uma equipa do Ministério da Cultura da Grécia e da Universidade de Tübingen, na Alemanha, dão conta da descoberta de variados instrumentos de pedra usados pelos humanos daquela altura, juntamente com o esqueleto fossilizado de um elefante com sinais de esquartejamento.
Há 300.000 a 600.000 anos, o clima, a vegetação e a flora eram muito diferentes de hoje, permitindo inclusivamente a existência de elefantes na Europa. “No entanto, até agora os vestígios encontrados de elefantes desta época não estavam associados a actividades humanas”, conta ao PÚBLICO Eleni Panagopoulou, arqueóloga do Ministério da Cultura grego e coordenadora do estudo, publicado este ano na revista científica Antiquity. “Esta é a primeira descoberta de vestígios de corte e processamento de carne de elefante com artefactos de pedra nos Balcãs, e uma das poucas com esta idade em toda a Europa”, sublinha a investigadora.
Durante as escavações foram descobertos objectos de pedra talhada – feitos de radiolarito, sílex, calcário e quartzo – e ossos fossilizados de vários animais (bovídeos, cervídeos, roedores, aves, repteis, anfíbios, moluscos ou insectos), datados também com 300.000 a 600.000 anos. A descoberta mais surpreendente da escavação foram ossos dispersos e com sinais de corte, que correspondiam ao esqueleto completo de um elefante. Pertencia à espécie “Elephas antiquus”, que viveu na Europa, incluindo Portugal, e que se extinguiu há mais de 30 mil anos.
“As pessoas comiam elefantes. Eles eram muito valiosos para carne, gordura e até para fazer objectos em osso”, explica Eleni Panagopoulou. No entanto, não é claro como é que os elefantes eram obtidos para consumo humano. “A questão da caça de elefantes neste tempo está ainda em aberto. Ainda não sabemos se os elefantes seriam caçados, se seriam aproveitados elefantes encontrados mortos ou ambos.”
Tudo isto se passou muito antes do aparecimento do homem moderno, ou Homo sapiens sapiens, a nossa espécie. “Naquela altura, provavelmente naquela região vivia o Homo heidelbergensis”, explica a investigadora. Esta espécie de humanos foi identificada pela primeira vez em 1907 na região de Mauer, na Alemanha, e pensa-se que terá dado origem ao homem de Neandertal, extinto há cerca de 28.000 anos do seu último reduto na Europa, a Península Ibérica.
Designado Marathousa 1, o sítio arqueológico onde estava o esqueleto do elefante fica numa mina de carvão a céu aberto, tendo sido a própria exploração mineira a pôr à mostra os primeiros vestígios arqueológicos. Pensa-se que neste local existiu há milhares de anos um grande lago e um pântano com águas pouco profundas.
Marathousa 1 é o primeiro sítio de escavação na Grécia continental do Paleolítico Inferior (período iniciado há cerca de três milhões de anos, indo até há 250.000 anos). Apesar de a Grécia ter uma grande riqueza arqueológica, os estudos têm incidido fundamentalmente no período clássico e no final da pré-história, e são raras as investigações sobre a pré-história mais recuada. A equipa vai prosseguir a investigação no local. Os estudos nesta região são centrais para a compreensão da pré-história, refere um comunicado recente da Universidade de Tübingen, uma vez que se pensa que terá feito parte das rotas de migração dos primeiros humanos de África para a Europa e também um refúgio importante para as populações humanas, a fauna e a flora durante os períodos glaciares.
Texto editado por Teresa Firmino