Raif Badawi, mais um Prémio Sakharov que deixou a cadeira vazia

O blogger saudita galardoado pelo Parlamentro Europeu está a cumprir uma pena de dez anos de prisão.

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Ensaf Haidar pediu à Europa para pressionarem mais a Arábia Saudita PATRICK HERTZOG/AFP

Vestida de negro e com um retrato do marido, Raif Badawi, Ensaf Haidar recebeu esta quarta-feira o Prémio Sakharov de liberdade de pensamento, que o Parlamento Europeu atribuiu ao blogger saudita, que está preso.

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Vestida de negro e com um retrato do marido, Raif Badawi, Ensaf Haidar recebeu esta quarta-feira o Prémio Sakharov de liberdade de pensamento, que o Parlamento Europeu atribuiu ao blogger saudita, que está preso.

"Ele não fez mais do que usar do seu direito de liberdade de expressão. Apesar do risco que enfrentava, enquanto blogger encorajou a liberdade de pensamento e exerceu o seu direito de liberdade de expressão, preenchendo o vazio deixado pela inexistência de imprensa livre no seu país", disse o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz. "Os países europeus podiam pressionar mais pela liberdade de expressão" na Arábia Saudita, criticou Ensaf Haidar.

Raif Badawi foi detido em 2012 e depois julgado e condenado a uma multa de perto de 200 mil euros, dez anos de prisão e a um castigo de mil chicotadas por ter um blogue que falava de religião, de secularismo e de separação de poderes na Arábia Saudita. Foi considerado culpado de insulto ao islão e ao rei e 50 das chicotadas chegaram a ser dadas, tendo o resto do castigo sido suspenso.

Badawi não foi o primeiro premiado a não poder estar presnete na cerimónia de entrega do prémio. A birmanesa Aung San Suu Kyi só recebeu o prémio 23 anos após ter sido galardoada e o cubano Guillermo Fariñas, que esteve recentemente em Portugal, só foi autorizado a viajar até Estrasburgo três anos depois da atribuição do prémio, em 2010.

Ensaf Haidar explicou que o marido sabe "há algumas semanas" que o Parlamento Europeu lhe atribuiu este prémio, mas acrescentou que desde que Raif foi transferido para outra prisão é mais difícil comunicar com ele.

"Peço mais uma vez ao rei Salman que liberte imediatamente Raif Badaoui, sem qualquer restrição", disse Martin Schulz. A família de Badawi vive no Canadá (a sua mulher e três filhos), mas a sentença proferida contra o blogger diz que não poderá abandonar o país depois de cumprir a pena.

"Raif Badawi foi suficientemente corajoso para levantar a sua voz e dizer não à barbárie. Foi por isso que o chicotearam", disse a sua mulher no Parlamento Europeu.

Na Arábia Saudita, "um pensamento livre e esclarecido é considerado uma blasfemia", disse Ensaf Haidar, de 31 anos. "O resultado disto é uma fuga de cérebros árabes que vão à procura de ar fresco noutros locais". Antes de discursar, em nome do marido, Haidar pediu aos deputados para fazerem um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos atentados de Paris porque esse era "um desejo" do marido.

Na sua intervenção, o presidente do Parlamento Europeu pediu também às autoridades sauditas para "acabarem com a repressão sistemática da liberdade de expressão pacífica" e referiu-se a cidadãos como Waleed Abu al-Khair (advogado defensor dos direitos humanos) e Ali Mohammed al-Nimr — ao mencionar este último, um adolescente que participou nas manifestações da chamada Primavera Árabe e foi preso, em 2012, e condenado à morte, Schulz foi aplaudido pelos eurodeputados.