ONU: deslocalização é responsável por 55% da perda de empregos no curto prazo em Portugal

Consequências a longo prazo da prática do offshoring são menos claras do que os impactos de curto prazo.

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Portugal está na 43.ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano Sandra Ribeiro

O Relatório do Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU), apresentado nesta segunda-feira na Etiópia e dedicado ao tema do emprego, indica que a deslocalização da produção é, no curto prazo, responsável por 55% das perdas de empregos em Portugal.

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O Relatório do Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU), apresentado nesta segunda-feira na Etiópia e dedicado ao tema do emprego, indica que a deslocalização da produção é, no curto prazo, responsável por 55% das perdas de empregos em Portugal.

No relatório O Trabalho como Motor do Desenvolvimento Humano, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) chama a atenção para alguns impactos no emprego dos processos de offshoring, ou seja, quando a produção de uma empresa é realizada no estrangeiro, pela filial de um grupo ou por uma outra empresa local (ou a filial de uma multinacional, por exemplo).

Citando as conclusões da Organização Internacional de Trabalho (OIT) de 2014, o relatório sublinha que “as perdas de empregos a curto prazo devido ao offshoring variam de zero em alguns países, para 0,7 na Holanda e quase 55% de todas as perdas de empregos em Portugal”.

“As consequências do offshoring para os trabalhadores nos países desenvolvidos variam, e os impactos de longo prazo são menos claros do que os impactos de curto prazo”, refere o relatório, sublinhando que “enquanto o offshoring parece benéfico para desenvolver regiões de alguns países, tem consequências para os trabalhadores de países desenvolvidos”. Aqui, a perda de empregos por esta razão é mais visível na indústria do que nos serviços.

Portugal é ainda referido no capítulo dedicado ao desemprego entre os jovens. “Hoje, mais de metade da população mundial tem menos de 30 anos. Esta população é tendencialmente mais saudável, tem melhor educação e consegue tirar melhor partido das tecnologias de comunicação que permitem interagir numa sociedade global. Por isso, têm expectativas mais altas em relação a trabalho, mas muitos deles não conseguem arranjar trabalho”, explica o relatório.

Em 2015, 74 milhões de jovens entre os 15 e os 24 anos estavam sem emprego e o rácio entre jovens e adultos com emprego estava no seu ponto mais alto de sempre, com níveis recorde nos estados árabes, países do sul da Europa, América Latina e Caraíbas.

“Por exemplo, o desemprego jovem em 2014 era 3,4 vezes mais alto do que o adulto em Itália, quase três vezes mais alto na Croácia e quase 2.5 vezes mais alto na República Checa, Portugal e Eslováquia. Em termos absolutos, também era alto – 53% em Espanha, 46% na Croácia, 35% em Portugal e 30% na Eslováquia”, indica o relatório.

Portugal mantém-se na posição 43 no Índice de Desenvolvimento Humano de 2015. No relatório, o PNUD diz que as “respostas políticas ao novo mundo do trabalho serão diferentes de país para país”, mas identifica três grupos de políticas estratégicas para “criar oportunidades de trabalho e assegurar o bem-estar dos trabalhadores”.

O programa pede “Um Novo Contrato Social”, um novo acordo entre os governos para assegurar “os direitos e benefícios dos trabalhadores em todo o mundo” e uma “Agenda para o Trabalho Digno” que abranja “todos os trabalhadores e contribua para promover a liberdade de associação, a igualdade, a segurança e a dignidade humana na vida profissional”.