O Tea Party brasileiro vai à rua pedir impeachment de Dilma

As mobilizações deste domingo em várias cidades brasileiras são as primeiras desde que o processo de impeachment foi accionado.

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O Brasil que veio para a rua é maioritariamente branco, de classe média, acima dos 50 e revoltado Lunae Parracho/Reuters

Uma mulher estava desapontada com o tamanho da multidão que se formou à beira da praia, em Copacabana, no domingo à tarde, para exigir o impeachment da Presidente Dilma Rousseff. O país está caindo ladeira abaixo, era para ter vindo mais gente. "Sabe quando vai encher? No dia em que ela cortar o Bolsa Família daqueles filhos da puta. Aí vai encher", disse a mulher, referindo-se ao programa de assistência a famílias de baixo rendimento que tem sido uma bandeira dos governos do PT, o partido que há 12 anos governa o Brasil.

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Uma mulher estava desapontada com o tamanho da multidão que se formou à beira da praia, em Copacabana, no domingo à tarde, para exigir o impeachment da Presidente Dilma Rousseff. O país está caindo ladeira abaixo, era para ter vindo mais gente. "Sabe quando vai encher? No dia em que ela cortar o Bolsa Família daqueles filhos da puta. Aí vai encher", disse a mulher, referindo-se ao programa de assistência a famílias de baixo rendimento que tem sido uma bandeira dos governos do PT, o partido que há 12 anos governa o Brasil.

O Brasil que veio para a rua protestar a favor do impeachment em várias cidades do país é maioritariamente branco, de classe média, acima dos 50 e revoltado – uma versão brasileira do Tea Party norte-americano. "No outro dia ouvi na televisão que os políticos têm medo é do povo na rua", disse Márcia Deschamps, 66 anos, artista plástica, depois de cantar o hino do Brasil na manifestação carioca. Foi um protesto com ares de torcida de futebol, uma massa de gente de verde e amarelo, com a bandeira do Brasil ou a camisola da selecção nacional, marcando passo na orla de Copacabana. "O PT é vermelho, para a gente é comunismo. Verde e amarelo é patriotismo", resumiu Carmen Campos, terapeuta, 60 anos. "Não é o Brasil que o PT defende, é o partido. Eles acabaram com o país", diz a amiga Márcia Deschamps.

Não há limite para o que vai mal no Brasil. A corrupção na política, a inflação, a falta de educação, o preço da t-shirt de Lula vestido com farda prisional ("20 reais? Isso aí não vale mais do que 10"). "Nem sombra existe neste país", desabafou uma mulher, 34 graus sob o sol de Copacabana.

As mobilizações deste domingo são as primeiras desde que o processo de impeachment foi accionado no Congresso brasileiro, há uma semana e meia. Convocadas pelos movimentos Brasil Livre e Vem Pra Rua, elas foram menores do que as que tiveram lugar em Agosto. No Rio, apenas cinco mil participaram na manifestação; em Agosto, chegaram aos 100 mil. O objectivo é pressionar o Congresso a votar a favor do impeachment de Dilma. Os organizadores disseram à imprensa brasileira que as manifestações de domingo foram só um "aquecimento" para protestos maiores no próximo ano, quando o processo estiver numa fase mais crítica.

Ângela Puciarelli, 61, reformada, não acredita que o impeachment vai acontecer. "Eu queria, mas acho que não." A sua amiga Lívia Montanari, 58, diz que mesmo que isso aconteça, "o substituto vai ser do mesmo nível, infelizmente". "Só jogando uma bomba e começando de novo. O Brasil não tem solução", diz Ângela, sorrindo.

Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados que abriu o processo de impeachment para se vingar do governo e que é suspeito de corrupção, quase não foi mencionado no protesto do Rio. "Ás vezes é preciso ser criminoso para tirar os criminosos de lá", justifica Maria das Graças, advogada, 60 anos. Num cartaz lia-se: "Fora Cunha, mas primeiro as damas."

"Nós já derrubámos uma vez o Collor", lembra Lívia Montanari, referindo-se ao impeachment presidencial de 1992. Mas, ao contrário dos protestos actuais, havia muitos estudantes na rua, de cara pintada, exigindo a saída de Collor. Não há jovens nos protestos de domingo. "O meu filho, que tem 24 anos, disse que vinha, mas não sei se veio", conta Lívia. "Antes de eu sair de casa, ele virou para mim e disse: 'Só vai velho'." Lívia sorri como quem pede desculpa.