O 6 a 0 não é ainda a derrota de Le Pen
A miragem de vitória da Frente Nacional em França desfez-se, mas a semente do seu voto permanece.
Marine Le Pen tinha feito, no final da primeira volta, declarações gongóricas: com seis regiões “ganhas” pela Frente Nacional (seis em treze, quase metade), invocou o estatuto de “maior partido da França” e anunciou o que parecia ser uma marcha imparável. Mas o calafrio sentido por muitos franceses levou a um apelo do PS a uma união anti-FN na segunda volta, e este funcionou: a FN não ganhou nenhuma das 13 regiões, repartidas entre Os Republicanos de Sarkozy (com sete) e a União de Esquerda que engloba o PS (que ficou com as restantes seis). Mesmo assim, a Frente Nacional teve a maior votação de sempre, 6,5 milhões de votos, ultrapassando o seu recorde até à data, os 6,4 milhões que obteve na primeira volta das presidenciais de 2012. Ou seja, se a sua miragem de vitória se desfez nesta segunda volta da regionais, com o PS a abdicar do voto nalgumas regiões para que o partido de Sarkozy pudesse derrotar ali a FN, num horizonte próximo a semente do seu voto permanece. Manuel Valls, o primeiro-ministro de Hollande que deu a cara pela estratégia da desistência no lugar do Presidente francês, reconheceu isso mesmo ontem, depois de serem conhecidos os resultados: “Esta noite, não há espaço para alívio ou triunfalismo. O perigo que representa a extrema-direita não desapareceu, muito pelo contrário”, disse ele numa declaração ao país. E essa declaração corrobora aquilo que, numa entrevista que ontem publicámos, afirmou Jacques Rupnik. Ou seja, que aquela Europa que durante meio século representou a paz, a segurança, é hoje para muitos cidadãos europeus uma fonte de medo e uma forma de insegurança. Em França, hoje mais à direita do que nunca, esse sentimento vai ganhando terreno e o seu reflexo espelha-se nos votos da Frente Nacional. Sarkozy, para lhe fazer frente, apresentará soluções políticas cada vez mais à direita. E isso deverá suceder nas presidenciais. Até que ponto cavaremos este abismo? Depende, e muito, dos decisores europeus.
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Marine Le Pen tinha feito, no final da primeira volta, declarações gongóricas: com seis regiões “ganhas” pela Frente Nacional (seis em treze, quase metade), invocou o estatuto de “maior partido da França” e anunciou o que parecia ser uma marcha imparável. Mas o calafrio sentido por muitos franceses levou a um apelo do PS a uma união anti-FN na segunda volta, e este funcionou: a FN não ganhou nenhuma das 13 regiões, repartidas entre Os Republicanos de Sarkozy (com sete) e a União de Esquerda que engloba o PS (que ficou com as restantes seis). Mesmo assim, a Frente Nacional teve a maior votação de sempre, 6,5 milhões de votos, ultrapassando o seu recorde até à data, os 6,4 milhões que obteve na primeira volta das presidenciais de 2012. Ou seja, se a sua miragem de vitória se desfez nesta segunda volta da regionais, com o PS a abdicar do voto nalgumas regiões para que o partido de Sarkozy pudesse derrotar ali a FN, num horizonte próximo a semente do seu voto permanece. Manuel Valls, o primeiro-ministro de Hollande que deu a cara pela estratégia da desistência no lugar do Presidente francês, reconheceu isso mesmo ontem, depois de serem conhecidos os resultados: “Esta noite, não há espaço para alívio ou triunfalismo. O perigo que representa a extrema-direita não desapareceu, muito pelo contrário”, disse ele numa declaração ao país. E essa declaração corrobora aquilo que, numa entrevista que ontem publicámos, afirmou Jacques Rupnik. Ou seja, que aquela Europa que durante meio século representou a paz, a segurança, é hoje para muitos cidadãos europeus uma fonte de medo e uma forma de insegurança. Em França, hoje mais à direita do que nunca, esse sentimento vai ganhando terreno e o seu reflexo espelha-se nos votos da Frente Nacional. Sarkozy, para lhe fazer frente, apresentará soluções políticas cada vez mais à direita. E isso deverá suceder nas presidenciais. Até que ponto cavaremos este abismo? Depende, e muito, dos decisores europeus.