Espanhóis querem dar nome de Trás-os-Montes a estação do comboio de alta velocidade

Estação de Sanábria fica a 35 quilómetros de Bragança e poderá pôr cidade de Trás-os-Montes a duas horas e meia de Madrid

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Manuel Roberto

“Consideramos que a estação do AVE servirá dois territórios e duas povoações. Por isso, deverá chamar-se Porta Sanabria/Trás-os-Montes”. José Rodriguez Ballesteros, porta-voz da Associação de Defesa da Sanabria e Carballeda, entende que dois territórios desertificados juntos têm mais força e justificam a construção de uma estação do comboio de alta velocidade que lhes seja dedicada.

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“Consideramos que a estação do AVE servirá dois territórios e duas povoações. Por isso, deverá chamar-se Porta Sanabria/Trás-os-Montes”. José Rodriguez Ballesteros, porta-voz da Associação de Defesa da Sanabria e Carballeda, entende que dois territórios desertificados juntos têm mais força e justificam a construção de uma estação do comboio de alta velocidade que lhes seja dedicada.

A linha do AVE (Alta Velocidade Espanhola) que ligará Madrid à Galiza quase toca a fronteira portuguesa, perto de Rio de Onor e Bragança, quando atravessa a zona de Sanabria. O projecto desta linha prevê a construção em Otero de Sanabria de uma estação que servirá os comboios que circulam a 300 Km/hora, mas são os próprios habitantes locais que vêem vantagens em que a sua estação inclua o nome de Trás-os-Montes.

“Sanabria e Carballeda têm 7000 habitantes, mas Bragança é um território de 40 mil habitantes, pelo que faz todo o sentido que a estação sirva toda esta região fronteiriça”, disse José Rodriguez Ballesteros ao PÚBLICO.

Bragança fica a 35 quilómetros da futura estação do TGV espanhol, numa estrada com muitas curvas, mas aquele dirigente associativo não defende uma auto-estrada a ligar a cidade transmontana a Sanabria para não interferir com o Parque Natural de Montesinho. Em sua opinião, basta melhorar a estrada existente a fim de encurtar o tempo de viagem até à estação ferroviária. A partir daí, os transmontanos chegarão mais depressa a Madrid do que a Lisboa, porque bastarão duas horas e meia sobre carris para chegar ao centro da Meseta Ibérica.

Em Maio deste ano realizou-se uma manifestação reivindicativa no local onde ficará situada a estação de Otero de Sanabria, organizada pela Associação de Defesa da Sanabria e Carballeda à qual se juntou também um movimento cívico português — o DART (Defender, Autonomizar e Rejuvenescer Trás-os-Montes).

Francisco Alves, deste movimento, disse ao PÚBLICO que o importante é que a estação do AVE se construa em Sanabria e que depois os comboios lá parem. “É que, do lado sanabrés, a estação não se justifica, com excepção talvez do Verão em que há mais gente, mas, contando com Trás-os-Montes, o cenário muda de figura”.

O documento entregue ao governo espanhol reivindicando a paragem do comboio de alta velocidade em Sanabria assume um claro divórcio da região transmontana com o resto de Portugal no que concerne às acessibilidades: “a estação de Puebla/Bragança [nome alternativo a Sanabria/Trás-os-Montes] permitirá aos residentes da região o acesso ao aeroporto de Madrid pelo facto de encurtar o tempo de viagem, constituindo assim uma alternativa mais rápida e mais segura relativamente ao terminal do Porto, para já não falar no de Lisboa”. 

Esta proximidade de Barajas, dizem, “representa um potencial inestimável para todos quantos pretendem visitar a região, ou para os residentes viajarem para outras partes do mundo”.

Esta apetência do Nordeste português para Madrid é ainda potenciada pelo facto de se constar que a TAP vai acabar com os voos de longo curso a partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Mas, para chegar à estação do AVE que levaria os transmontanos para o mundo, é necessário uma via rápida entre Bragança e Sanabria, que encurtaria a viagem dos actuais 45 minutos para 20 minutos. Francisco Alves diz que, desta forma, a capital do Nordeste Transmontano ficaria a poucas horas das principais cidades do centro e norte de Espanha.

José Rodriguez Ballesteros acrescenta que o ideal até seria uma ligação ferroviária a Bragança, cidade que viu partir um comboio pela última vez em Dezembro de 1991, aquando do encerramento da linha do Tua, entre esta cidade e Mirandela. Mas esse é o mais improvável dos cenários, até porque o que restava da linha do Tua também tem vindo a ser desmantelado.

Em meados de Novembro, a Plataforma Salvar o Tua considerou “um erro e um crime contra o património nacional” o levantamento dos carris no troço de 18 quilómetros que vai ser submergido pela barragem do Tua, cuja construção está a cargo da EDP. Esta obra levantou inúmeros protestos na região pelo seu impacto ambiental negativo e pelo facto de submergir parte da linha do Tua, cuja circulação se encontrava suspensa à data do início da construção da barragem, na sequência de quatro acidentes com igual número de mortos.

A eléctrica portuguesa diz possuir um “Projecto de Mobilidade” que deverá ser uma alternativa à via férrea, mas nunca o divulgou. Contactada pela PÚBLICO, a empresa limitou-se a repetir uma informação divulgada em finais de Novembro, de que brevemente irá assinar um contrato com um operador privado — cujo nome não quis revelar —, que irá “criar uma alternativa de transporte ao troço da linha do Tua submerso pela futura albufeira”.     

Ligação rodoviária à futura estação à espera do novo Governo

A melhoria da ligação rodoviária entre Bragança e Puebla de Sanabria é essencial para garantir a acessibilidade à nova estação do AVE, mas o investimento do lado português não tem sido considerado prioritário. A obra, que para o município passaria apenas por uma correcção de traçado da via existente, e que atravessa o Parque Natural de Montesinho, não constava do plano de intervenções da antiga Estradas de Portugal, actual Infraestruturas de Portugal, o que vem deixando agastados o autarca de Bragança, Hernani Dias, e associação de municípios Eixo Atlântico.

Enquanto do lado espanhol as obras necessárias têm o apoio de autarquias e do próprio Governo Regional, em Portugal as tentativas de convencer o Governo de Passos Coelho a avançar com o investimento falharam, apesar do interesse demonstrado pelo ex-secretário de Estado do Desenvolvimento Regional Castro Almeida, e agora os esforços voltam-se para o novo ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques.

O Eixo Atlântico espera conseguir também o sim do executivo português ao lançamento dos concursos para a reabilitação da Linha do Minho, essencial para a melhoria da ligação ferroviária entre Porto, Vigo e Corunha. No lado galego, a nova ligação Vigo-Corunha, que vai passar brevemente dos actuais 80 para 70 minutos, conseguiu atrair, entre a inauguração em Abril e o mês de Outubro 1,7 milhões de passageiros, segundo dados oficiais revelados pela imprensa, explicou ao PÚBLICO o secretário-geral do Eixo Atlântico.

Xoán Mao espera conseguir do actual Governo as garantias e, acima de tudo, os passos concretos para a concretização destes dois investimentos que beneficiam as conexões na euro-região e desta para o resto da península. Com Abel Coentrão