Tecnologia oferece soluções para reaproveitar resíduos dos lagares de azeite
A indústria do azeite dispõe actualmente de soluções tecnológicas para reaproveitamento de praticamente todos os resíduos, que podem ser usados para produção de biomassa e até as folhas das oliveiras podem ser canalizadas para a alimentação animal.
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A indústria do azeite dispõe actualmente de soluções tecnológicas para reaproveitamento de praticamente todos os resíduos, que podem ser usados para produção de biomassa e até as folhas das oliveiras podem ser canalizadas para a alimentação animal.
João Claro, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), disse à Lusa este sábado que o sector do azeite sofreu uma grande evolução nas últimas décadas e a tecnologia dá hoje resposta para praticamente todos os resíduos, mas ressalvou que algumas das soluções "são ainda muito caras".
Da produção de azeite resultam o bagaço de azeitona, os caroços, as folhas e as águas ruças, que são um "problema ambiental muito complexo", pois têm uma carga poluente 200 a 400 vezes superior ao do esgoto doméstico. Em média, a campanha de azeitona no país produz águas ruças equivalentes ao esgoto de 2,5 milhões de pessoas. Existem vários processos de tratamento, desde os menos onerosos, como lagoas de retenção e evaporação, a outros mais caros como os de tratamento biológico, térmico e físico-químico.
De acordo com o investigador, neste momento a maior parte dos resíduos estão a ser encaminhados para a indústria da refinaria, que retira o azeite remanescente dos bagaços húmidos para a produção de óleo de bagaço e o restante é usado para queima.
Com vista a dar uma solução mais global a estes resíduos, João Claro desenvolveu o projecto BioCombus que aproveita os subprodutos das colheitas de azeitona e os transforma em biomassa, que poderá ser utilizada como combustível sólido para caldeiras domésticas.
O protótipo deste projecto foi instalado na Cooperativa dos Olivicultores de Murça, onde está agora a ser feito o aumento da escala para produção industrial. "Esta é uma solução que há 50 anos é perseguida pelos investigadores dos países mediterrânicos. É uma solução global porque estamos a fazer um tratamento para cumprir a lei e além disso estamos a criar uma mais-valia comercial", salientou o investigador.
Uma equipa de investigadores da UTAD tem vindo a desenvolver trabalhos que visam a valorização da folha da oliveira na alimentação animal. Segundo o investigador responsável pelo projecto, Miguel Rodrigues, os resultados obtidos até ao momento indiciam "um forte potencial de aplicação em dietas para coelhos e ruminantes".
João Claro está também a desenvolver um sistema para o tratamento de efluentes dos lagares, como as águas que resultam da lavagem da azeitona, que recorre à energia solar. "Pode afirmar-se que esta actividade, nos últimos anos, tem vindo a ser mais amiga do ambiente, atendendo a vários factores preponderantes, designadamente uma maior preocupação na localização destas instalações em zonas industriais, legislação mais exigente e evolução tecnológica dos equipamentos", concluiu à Lusa Manuel Cardoso, da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN).
Em 1994 estavam em laboração em Trás-os-Montes e Alto Douro 243 lagares, tendo entretanto algumas destas unidades encerrado devido às exigências da União Europeia relativamente ao licenciamento e às novas exigências ambientais. Actualmente, estão em funcionamento cerca de 134 lagares de azeite em toda a área da DRAPN.
Nos últimos anos, a GNR tem fiscalizado os lagares de azeite e, segundo fonte policial, tem registado cada vez menos incumprimentos das normas de funcionamento, desde os licenciamentos ao tratamento de resíduos. Na região transmontana, foram fiscalizados 65 lagares em 2012 e levantados 11 autos de contraordenação. Em 2013, foram fiscalizadas 46 empresas e levantados 10 autos de contraordenação.
A operação "Lagareiro 2015", realizada pelo Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), está em curso e decorre até 31 deJaneiro.