Estado Islâmico "desafia" avanços diplomáticos com novos atentados na Síria
Pelo menos 50 pessoas morreram em ataques concertados em território dominado pelas forças curdas, no Nordeste da Síria. Grupos políticos e facções armadas da oposição a Assad constituem equipa para participar nas negociações internacionais de paz.
Os militantes do Estado Islâmico reivindicaram mais um “sucesso” na sua ofensiva contra os combatentes curdos, no Nordeste da Síria, numa mensagem tanto para o regime do Presidente Bashar al-Assad como para os mais de cem representantes de movimentos políticos e facções armadas de oposição, reunidos na Arábia Saudita para uma ronda negocial destinada a avançar o processo diplomático para a assinatura de um acordo de paz.
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Os militantes do Estado Islâmico reivindicaram mais um “sucesso” na sua ofensiva contra os combatentes curdos, no Nordeste da Síria, numa mensagem tanto para o regime do Presidente Bashar al-Assad como para os mais de cem representantes de movimentos políticos e facções armadas de oposição, reunidos na Arábia Saudita para uma ronda negocial destinada a avançar o processo diplomático para a assinatura de um acordo de paz.
A violência tomou conta da localidade de Tel Amer, na província de Hasaka, território dominado pelas forças curdas: pelo menos três veículos, ou armadilhados ou conduzidos por bombistas-suicidas, explodiram junto a um centro de saúde, um mercado e numa zona residencial, matando 50 pessoas e causando quase uma centena de feridos. “O nível de destruição é total, e todas as vítimas são civis”, confirmou à Reuters o líder das forças curdas, Redur Xelil.
Uma mensagem divulgada pelo Estado Islâmico, reclamando a autoria dos atentados, esclarecia que estes se inseriam na campanha contra “objectivos” e alvos curdos, actualmente em curso. Nos últimos dias, as milícias curdas – as chamadas Unidades de Defesa do Povo (YPG) – tinham conseguido recuperar algum terreno aos islamistas, conquistando a localidade de al Houl com o apoio aéreo da coligação internacional.
As unidades curdas são umas das mais eficientes que compõem as Forças Democráticas da Síria, a frente de oposição organizada contra o Estado Islâmico e o regime de Assad que conta com o apoio militar dos Estados Unidos e aliados ocidentais – e também da Rússia, segundo garantiu esta sexta-feira o Presidente Vladimir Putin. Na conferência anual das forças do ministério da Defesa, em Moscovo, Putin disse que a aviação russa tem garantido assistência operacional ao Exército de Assad, mas também às movimentações do Exército Livre da Síria, da oposição.
“Várias unidades, que totalizam mais de 5000 combatentes, estão actualmente envolvidas em acções ofensivas contra terroristas nas províncias de Homs, Hama, Alepo e Raqqa”, informou, referindo-se à campanha das forças de oposição contra os jihadistas. “Contam com o nosso apoio, a partir do ar, e com a nossa assistência em termos de armamento e munições, e outros materiais”, acrescentou Putin, que descreveu o envolvimento militar da Rússia na Síria como “essencial” para garantir a protecção do país dos avanços dos extremistas que circulam livremente pelo território reclamado pelo Estado Islâmico.
Em declarações à agência Efe, o Presidente sírio referiu a presença no seu território de rebeldes de “centenas de nacionalidades que lutam ao lado de extremistas e terroristas”, que entram no país pela Turquia e o Iraque e são financiados pela Arábia Saudita e o Qatar: “Temos de acabar com esse fluxo”, afirmou Bashar al-Assad.
A fragmentada oposição síria convergiu para Riad, na Arábia Saudita, para uma reunião cujo objectivo era concertar posições e nomear uma equipa de negociadores que sejam interlocutores da alternativa política ao regime de Damasco nas conversações internacionais para a paz no país, em guerra desde 2011. O processo, que foi lançado em Viena no mês passado pelos 20 países que constituem o Grupo de Apoio Internacional da Síria, prevê o início de contactos entre o Governo de Assad e os grupos (moderados) da oposição no próximo mês de Janeiro.
A conferência terminou com a assinatura de um acordo que defende a manutenção da unidade e integridade da Síria e a nomeação de um governo representativo. No entanto, o ponto de partida da oposição para as negociações de paz prevê a exclusão de Assad de qualquer processo de transição política – uma exigência que já nem os Estados Unidos consideram fundamental, e que dificilmente será aceite pela Rússia e o Irão, os principais aliados do Presidente sírio. Na próxima semana, os ministros destes países reúnem em Nova Iorque para uma nova ronda diplomática para discutir a guerra na Síria, que já matou mais de 250 mil pessoas e fez milhões de refugiados.
Para Assad, se os aliados ocidentais estiverem realmente comprometidos em encontrar uma solução que ponha fim à crise síria, “terão de pressionar os países que directamente apoiam, com milhões de dólares, armas e logística, os grupos activos [militarmente] dentro das fronteiras” do país. “Todos sabemos que esses países são a Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar”, nomeou.
Além de Assad, também Vladimir Putin apontou o dedo à Turquia, que há três semanas abateu um caça russo na fronteira com a Síria. “Quero deixar um aviso muito claro a quem quiser ensaiar provocações às nossas tropas: qualquer alvo que ameace as forças russas ou as suas infraestruturas na Síria será imediatamente destruído. Actuaremos da forma mais dura possível”, prometeu.