Graffiters: Sindicato diz que "revisor agiu dentro do que é regulamentar"
Revisor envolvido no caso que resultou na morte de três jovens terá pensado que estava a ser vítima de um assalto.
“Além das funções comerciais, o revisor tem o dever de zelar pelas condições de segurança dos passageiros e do comboio. Por isso, perante uma tentativa de assalto, o revisor agiu dentro do que é regulamentar ao afugentar os assaltantes”. Luís Bravo, do Sindicato Ferroviário de Revisão Comercial Itinerante, defende desta forma o colega que na passada segunda-feira esteve envolvido na tragédia de Águas Santas, arredores do Porto.
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“Além das funções comerciais, o revisor tem o dever de zelar pelas condições de segurança dos passageiros e do comboio. Por isso, perante uma tentativa de assalto, o revisor agiu dentro do que é regulamentar ao afugentar os assaltantes”. Luís Bravo, do Sindicato Ferroviário de Revisão Comercial Itinerante, defende desta forma o colega que na passada segunda-feira esteve envolvido na tragédia de Águas Santas, arredores do Porto.
“Perante a situação verificada, de indivíduos encapuçados que forçam as portas do comboio pela contra-via, o revisor actuou o mais rápido possível no sentido de proteger as pessoas que estavam em perigo e proteger o material circulante”, contou, lembrando que um revisor é ajuramentado, ou seja, é um autoridade dentro do comboio, com poderes para identificar e reter pessoas até à chegada da autoridade.
Luís Bravo - que tem em mente a versão do seu colega que lhe contou o sucedido - diz que na altura as pessoas pensaram que se tratava de um assalto, tendo alguns passageiros ficado em pânico. E sublinha que nada fazia prever que se tratava de graffiters pois o que as pessoas testemunharam foram indivíduos encapuzados a tentar bloquear as portas e a apedrejar o comboio. “O próprio revisor, só quando chegou a Campanhã, é que soube quer eram graffiters”, disse.
Decisivo nesta história é a confirmação de que o comboio suburbano chegou a arrancar e a circular alguns metros antes de o inter-regional vindo do Porto para Valença ter colhido os jovens no apeadeiro. Isso significa que o revisor terá conseguido repelir o assalto, fechando as portas e permitindo o arranque da composição.
Luís Bravo enfatiza ainda que toda a acção decorreu na contra-via, que é uma área de risco porque poderia aparecer um comboio em sentido contrário a qualquer momento. Foi também pela contra-via que um dos jovens conseguiu abrir as portas utilizando para o efeito uma chave da CP. Um facto que poderá estar relacionado com um assalto ocorrido há alguns meses em Penafiel (onde habitualmente ficam composições estacionadas) no qual foram roubadas chaves de portas e de cabines destas automotoras.
O maquinista, sobre o qual já há ameaças de morte nalgumas redes sociais, está neste momento retirado de funções e acompanhado por um Serviço de Apoio Psicológico que a CP activa quando há casos de vítimas colhidas por comboios.
Para o sindicalista, o colega agiu no cumprimento do dever ao evitar aquilo que todos pensavam ser um assalto. De resto, refere, os assaltos com grupos encapuzados não são tão anormais em comboios suburbanos da CP, pelo que pareceu óbvio que estava em risco a segurança dos passageiros e do material. “Imagine que um grupo assalta um banco e que está lá um agente da autoridade que os repele e eles fogem para a rua e são atropelados. O agente é culpado?”.
Nas redes sociais, por outro lado, há também quem defenda o revisor. “O que me interessa neste momento é manifestar a minha total solidariedade a esse colega, pois foi com galhardia, de forma rápida e inteligente que agarrou nos equipamentos possíveis (extintores) para tentar afugentar os agressores e assim defender os passageiros e também o património da empresa para a qual presta serviços”, lê-se num grupo de ferroviários do Facebook. “Não foi fácil ao revisor viver aquele lapso de tempo em ver-se, no escuro, surpreendidos por 'actores' que, 'vestidos de preto' e de cara tapada bloquearam as portas do seu comboio com o objectivo de este não prosseguir a sua marcha normal e lançando o pânico nos passageiros, que fazia supor o pior e trazia à recordação acontecimentos trágicos que deixaram o mundo estarrecido”.
Um outro revisor diz que o seu colega “merece todo o respeito pela forma como lidou com os meliantes e procurou defender os passageiros e património da empresa cujo símbolo ostenta ao peito”.