Liga já assumia há um mês que centralização de direitos de TV era “muito improvável”

Documento enviado aos clubes muito antes do acordo entre Benfica e NOS falava das dificuldades de vender direitos televisivos em pacote, mas insistia na centralização dos direitos internacionais de TV.

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O acordo entre Benfica e NOS vai ser hoje detalhado na Luz Oxana Ianin

A compra dos direitos de transmissão dos jogos do Benfica pela NOS foi anunciado a 2 de Dezembro – sendo vista como o fim da hipótese da centralização dos direitos televisivos em Portugal – mas três semanas antes já a Liga de Clubes admitia “como muito improvável” que fosse possível concretizar esse objectivo, que tem sido assumido por sucessivas direcções do organismo que junta os clubes profissionais portugueses. 

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A compra dos direitos de transmissão dos jogos do Benfica pela NOS foi anunciado a 2 de Dezembro – sendo vista como o fim da hipótese da centralização dos direitos televisivos em Portugal – mas três semanas antes já a Liga de Clubes admitia “como muito improvável” que fosse possível concretizar esse objectivo, que tem sido assumido por sucessivas direcções do organismo que junta os clubes profissionais portugueses. 

Num documento enviado aos clubes com propostas sobre direitos de TV, datado de 12 de Novembro deste ano – e a que o PÚBLICO teve acesso –, lê-se: “Configura-se como muito improvável a possibilidade de centralizar na Liga Portugal a negociação da venda conjunta dos direitos de TV dos jogos da Liga NOS e II Liga”.

O PÚBLICO tentou saber junto dos responsáveis da Liga quais os motivos que os levaram a fazer tal assunção mesmo antes do acordo entre Benfica e NOS ter sido assinado, mas ninguém quis comentar o assunto. O PÚBLICO apurou, no entanto, que vários clubes já tinham dado conta da dificuldade, por razões financeiras, de não renovar os contratos que tinham com Joaquim Oliveira. Por outro lado, as movimentações da Altice (a nova dona da MEO e que foi ultrapassada pela NOS no negócio com o Benfica) também já eram conhecidas na Liga.

“O Benfica avançou para o negócio com a NOS face às dificuldades assumidas por alguns clubes em avançar para a centralização e face às negociações-relâmpago [com a operadora de telecomunicações]”, assumiu ao PÚBLICO uma fonte do clube da Luz.

A venda em pacote dos direitos televisivos dos clubes é a prática comum nos principais países europeus, tendo habitualmente duas consequências: um aumento global da receita dos clubes (que juntos valem mais do que cada um por si) e uma distribuição mais equitativa das receitas entre os grandes e os pequenos emblemas.

O contrato assinado pelo Benfica com a NOS põe fim a essa possibilidade em Portugal, tendo deixado o presidente da Liga, Pedro Proença, debaixo de muitas críticas dos pequenos clubes, preocupados com a hipótese de não assegurarem um rendimento mínimo.

Na primeira reacção pública ao acordo Benfica-NOS, Pedro Proença disse na terça-feira que o negócio é “excelente” e que “é a demonstração de que havia espaço para ser explorado pelos clubes profissionais”. O presidente da Liga defendeu ainda que a centralização de direitos “não fica hipotecada” e que se trata de “um meio para chegar a um fim”. Ao que o PÚBLICO apurou, a Liga mantém em cima da mesa a hipótese de uma venda em bloco dos direitos televisivos (de todos, menos o Benfica), embora se saiba que continua a haver movimentações no mercado da NOS e da Altice, com vista a garantir os direitos de mais clubes, além do Benfica.

Nas declarações que fez na Madeira, à margem do jantar do 105.º aniversário do Nacional, Pedro Proença falou do recurso a mecanismos de solidariedade (embora sem dizer quais) no caso de todos os principais clubes avançarem para negócios individuais de venda dos direitos televisivos: “Encontraremos de certeza absoluta, através de instrumentos de regulação interna, maneira de conseguir reduzir a diferença entre aqueles que mais recebem e os que menos recebem”, disse Pedro Proença.

Apesar de reconhecer como “muito improvável” a centralização dos direitos na Liga, o documento da Liga  a que o PÚBLICO teve acesso insiste na centralização dos direitos internacionais de TV do campeonato português, “na medida em que os operadores internacionais não estarão dispostos a investir consideravelmente num produto parcial”: “A implementação da competição em novos mercados só poderá ter sucesso se a oferta do produto for completa.” Algo que agora está completamente fora de questão, uma vez que o Benfica vendeu à NOS os direitos dos seus jogos em casa para os mercados nacional e internacional.

Sport TV mais cara?
O acordo entre o Benfica e a NOS, que é válido por três anos e pode ser estendido por mais sete, podendo atingir um valor global de 400 milhões de euros, vai ser apresentado nesta quinta-feira, às 18h, no Estádio da Luz. Há alguma expectativa para conhecer os detalhes da operação e concretamente para saber qual será o futuro formato da Benfica TV na sequência deste entendimento.

Como Marques Mendes avançou na SIC, os jogos caseiros do Benfica serão transmitidos na Sport TV (canal detido a 50% pela NOS). Ao que o PÚBLICO apurou, a forma de rentabilizar o investimento deverá passar por aumentar o valor cobrado aos outros operadores pela emissão da Sport TV e também pela subida da mensalidade do canal de desporto para um valor inferior à soma do que os clientes finais actualmente pagam pela Sport TV (mais de 26 euros) e da Benfica TV (cerca de 10 euros).