Paolo Sorrentino, um mestre do grotesco
A Juventude consagra Sorrentino como um mestre do grotesco na cena “autorística” internacional.
Esqueçamos os protagonistas e reparemos numa figura secundária que anda por A Juventude a fazer não se percebe bem o quê para além de representar uma ideia de decadência, de juventude definitivamente perdida: nem mais nem menos do que um émulo de Diego Armando Maradona, gordíssimo e com problemas respiratórios, nunca nomeado mas que se refere a si próprio como “el Pibe” para não haver dúvidas. A mistura de compaixão e desprezo do olhar de Sorrentino sobre essa figura, eventualmente involuntária porque é fácil de acreditar que o realizador só queria ou a compaixão ou o desprezo, acaba por condensar o grande mistério (enfim…) de um filme como A Juventude: o que é que Sorrentino realmente pretende com este pessimismo pré-fabricado e sentencioso, sempre a ser temperado por máximas e liçõezinhas de moral que parecem saídas de um manual de auto-ajuda?
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Esqueçamos os protagonistas e reparemos numa figura secundária que anda por A Juventude a fazer não se percebe bem o quê para além de representar uma ideia de decadência, de juventude definitivamente perdida: nem mais nem menos do que um émulo de Diego Armando Maradona, gordíssimo e com problemas respiratórios, nunca nomeado mas que se refere a si próprio como “el Pibe” para não haver dúvidas. A mistura de compaixão e desprezo do olhar de Sorrentino sobre essa figura, eventualmente involuntária porque é fácil de acreditar que o realizador só queria ou a compaixão ou o desprezo, acaba por condensar o grande mistério (enfim…) de um filme como A Juventude: o que é que Sorrentino realmente pretende com este pessimismo pré-fabricado e sentencioso, sempre a ser temperado por máximas e liçõezinhas de moral que parecem saídas de um manual de auto-ajuda?
É o mesmo desconchavo de A Grande Beleza, filme de que A Juventude é uma espécie de adenda: o curto-circuito permanente do “humanismo” (pobre e simplório, mas bom, “humanismo” ainda assim) que aparenta estar no coração do filme por um olhar que é profundamente misantrópico – e que horríveis são os vários intróitos, em estilo de montagem de videoclip, que pontuam o filme mostrando os vários frequentadores das termas alpinas onde toda a acção se passa.
A Juventude consagra Sorrentino como um mestre do grotesco na cena “autorística” internacional, talvez só comparável ao von Trier dos últimos filmes no desequilíbrio entre a pose cheia de si mesma (Sorrentino baseia-se nisto, numa pose alimentada por efeitos, ornamentos e mais efeitos e ornamentos) e o grande vazio que lá está dentro, que entre outras coisas pode ser aferido pelo amontoado de clichés sobre a “criação” que acompanha as personagens de Michael Caine e Harvey Keitel, ambos “artistas”, o primeiro um compositor, o segundo um cineasta. Tudo muito mau, mas, pior ainda, mau de uma maneira especialmente desagradável e incomodativa.