As ideias têm consequências; o terceiro-mundismo também
As principais vítimas do terceiro-mundismo (como, aliás, em regra acontece) seremos nós próprios.
Na passada quarta-feira, o Parlamento britânico aprovou por 397 votos contra 223 a proposta de bombardeamentos contra o chamado Estado islâmico na Síria. Na passada sexta-feira, o Parlamento alemão aprovou medida semelhante por 445 votos contra 146. Ontem, o Presidente Obama terá feito um raro discurso televisivo à nação (o terceiro nos seus mandatos) acerca dos atentados terroristas islâmicos em San Bernardino.
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Na passada quarta-feira, o Parlamento britânico aprovou por 397 votos contra 223 a proposta de bombardeamentos contra o chamado Estado islâmico na Síria. Na passada sexta-feira, o Parlamento alemão aprovou medida semelhante por 445 votos contra 146. Ontem, o Presidente Obama terá feito um raro discurso televisivo à nação (o terceiro nos seus mandatos) acerca dos atentados terroristas islâmicos em San Bernardino.
Entre nós, entretanto, o assunto passou praticamente em silêncio durante a discussão do programa do novo governo no Parlamento. Tal como passou em silêncio no Parlamento — por recusa do PS, BE e PCP — o quadragésimo aniversário do 25 de Novembro de 1975.
Não se trata de meras coincidências. Como venho argumentando neste espaço há várias semanas, a presente aliança do PS com as esquerdas radicais é expressão de uma visão do mundo terceiro-mundista. E as ideias têm consequências. Os dois silêncios acima referidos são expressão disso mesmo.
Em primeiro lugar, esses dois silêncios exprimem a visão terceiro-mundista que subjaz à aliança do PS com as esquerdas radicais. Em segundo lugar, e como consequência, empurram Portugal para a irrelevância terceiro-mundista face aos nossos parceiros da NATO e da União Europeia.
Deve talvez ser acrescentado, como certeiramente observou a outro propósito Martim Avillez Figueiredo no Expresso de anteontem, que os nossos parceiros europeus e atlânticos não vão estar muito preocupados com a nossa deriva terceiro-mundista, pelo menos para já. Por outras palavras, as principais vítimas do terceiro-mundismo (como, aliás, em regra acontece) seremos nós próprios.
Também pode ser útil recordar que o terceiro-mundismo não é novo entre nós. Como certeiramente observaram Ana Mónica Fonseca, Lívia Franco, Daniel Marcos e Carlos Gaspar, (numa sessão conjunta IPRI-UNL e IEP-UCP sobre o impacto do 25 de Novembro na política externa portuguesa, na passada quarta-feira), o terceiro-mundismo era uma das propostas existentes após o 25 de Abril (eu diria, antes também). As outras duas eram a adesão ao bloco soviético, por um lado, e a plena integração na NATO e na Europa, por outro.
A opção ocidental foi na altura liderada pelo PS de Mário Soares e apoiada pelo PPD de Sá Carneiro e pelo CDS de Freitas do Amaral. O 25 de Novembro de 1975 consagrou a vitória da opção ocidental, que tinha sido obtida nas eleições de 25 de Abril de 1975.
Isso mesmo foi recordado na passada sexta-feira, na Fundação Gulbenkian, por António Barreto: “Robustecidos pela legitimidade do voto popular, alguns oficiais decidiram fechar esses caminhos não democráticos e garantir o cumprimento do voto constituinte. O Grupo dos Nove, entre os quais Melo Antunes e Vasco Lourenço, com outros oficiais, de que refiro Ramalho Eanes e Jaime Neves, e um conjunto de unidades militares disciplinadas e patriotas, fecharam as portas à via condenada por mais de oitenta por cento do eleitorado nas eleições de Abril de 1975.”
António Barreto integrou o painel que encerrou as 15 iniciativas civis de comemoração do 25 de Novembro. Artur Santos Silva, Vasco Rocha Vieira e Francisco Pinto Balsemão foram também oradores neste painel de encerramento. Imediatamente antes, Maria João Avillez, Dinis de Abreu, José Manuel Fernandes e Mário Mesquita discutiram o 25 de Novembro e a Comunicação Social.
Disse ainda António Barreto: “Numa breve lista de datas com significado, o 25 de Novembro de 1975 é a mais recente. É também uma das que mais rapidamente alguns querem apagar. A ponto de, sem precedentes, o Parlamento ter considerado que não se deveria comemorar. Nem sequer realizar uma simbólica sessão de discursos de circunstância. (…) Lamento a decisão do Parlamento. Não é grave, classifica quem tomou a decisão e satisfaz quem não defendeu, na altura, as liberdades e a democracia.”
O Reino Unido e a União Europeia foi o tema da palestra da Embaixadora britânica, Kirsty Hayes, na passada quarta-feira no IEP-UCP. O tema vai em breve estar no centro dos debates europeus. Será mais um tema central do Ocidente que os nossos terceiro-mundistas tentarão ignorar. Para eles, a aliança luso-britânica, a mais antiga do mundo ocidental, é expressão do chamado “imperialismo ocidental” que eles tanto detestam.
Entretanto, começa hoje na Torre do Tombo uma exposição com um dos originais da Magna Carta (da Catedral de Hereford). Portugal concluirá a digressão mundial da Magna Carta organizada para comemorar os seus 800 anos.