Porto grego com que Ongoing quis ficar servia para EUA passarem armas para o Médio Oriente
Acusado de vários crimes, incluindo violação do segredo de Estado, ex-superespião Jorge Silva Carvalho continua a ser ouvido em tribunal.
O porto grego com que a Ongoing quis ficar em 2010 servia, afinal, para os EUA passarem armas para o Médio Oriente. Foi pelo menos isso que disse esta quinta-feira o ex-superespião Jorge Silva Carvalho, que está a ser julgado no Campus da Justiça, em Lisboa, para justificar o interesse das secretas portuguesas naquele local.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O porto grego com que a Ongoing quis ficar em 2010 servia, afinal, para os EUA passarem armas para o Médio Oriente. Foi pelo menos isso que disse esta quinta-feira o ex-superespião Jorge Silva Carvalho, que está a ser julgado no Campus da Justiça, em Lisboa, para justificar o interesse das secretas portuguesas naquele local.
Silva Carvalho é acusado de violação do segredo de Estado, entre outros crimes, por alegadamente ter posto o Sistema de Informações Estratégicas de Defesa, que dirigia, a recolher informações para a Ongoing, uma vez que este grupo lhe ia arranjar emprego. Parte dessas informações diziam respeito ao porto grego de Astakos, cuja concessão a Ongoing havia de vir a tentar negociar em parceria com dois empresários russos, cujo perfil foi igualmente alvo da curiosidade das secretas portuguesas.
Mas Silva Carvalho garantiu em tribunal que desconhecia o interesse da Ongoing no porto em questão, tendo dado outra explicação para a curiosidade das secretas: "Era um porto militar usado para operações encobertas, para transporte de armas dos EUA para o Médio Oriente, que estava em vias de ser privatizado. Tinha um interesse estratégico" no equilíbrio de poderes entre a NATO e a Rússia. Sucede que a Rússia constitui "uma das principais prioridades do Estado português a nível dos serviços de informações", acrescentou.
"Nunca me vendi e certamente não era por um salário que me iria sujar. Sempre pus à frente de tudo os interesses do Estado", assegurou o arguido, que, porém, foi confrontado a seguir com o facto de ele próprio ter sugerido, por essa altura, o encerramento do posto das secretas em Moscovo, na sequência de instruções do Governo para reduzir custos. "Acreditava que não era das estações mais importantes", respondeu. Mas reconheceu também que o fez por pirraça, para desafiar o seu superior hierárquico Júlio Pereira, que entendia que não se havia batido o suficiente pelas secretas quando lhe foram ordenadas poupanças. À frente do posto de Moscovo estava um agente próximo de Júlio Pereira. "Foi um acto provocatório", admitiu Silva Carvalho.