Mulheres sauditas lançam-se numa campanha eleitoral histórica

A sua participação é limitada, mas, pela primeira vez na história do reino, as mulheres vão poder votar e ser eleitas.

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A candidata Fawzia al-Harbi faz-se acompanhar de um homem para apelar ao voto Faisal Al Nasser/Reuters

Mais de 900 mulheres estão em campanha para as eleições municipais de 12 de Dezembro na Arábia Saudita. Desde que o falecido rei Abdullah aprovou o sufrágio feminino na política em 2011, esta será a primeira vez que as mulheres poderão votar e concorrer a um cargo político no país, sob fortes restrições.

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Mais de 900 mulheres estão em campanha para as eleições municipais de 12 de Dezembro na Arábia Saudita. Desde que o falecido rei Abdullah aprovou o sufrágio feminino na política em 2011, esta será a primeira vez que as mulheres poderão votar e concorrer a um cargo político no país, sob fortes restrições.

“Esperámos dez anos por esta oportunidade”, disse a candidata Fawzia al-Harbi à Reuters nesta segunda-feira, um dia depois do início da campanha. “Dez anos para fazer parte das decisões políticas e sociais do país.” Harbi é uma das 978 mulheres candidatas às eleições municipais, às quais concorrem seis mil candidatos homens.

Há eleições no reino desde 2005, e os representantes locais terão pela primeira vez acesso a dois terços dos lugares na Shura, ou Conselho Consultivo, o órgão consultivo do rei, sem poder legislativo. Até agora, metade dos membros do conselho eram eleitos, e outra metade nomeada pelo rei, que em 2013 definiu uma quota de 20% desses lugares às mulheres. Desde então, há mulheres que integram a Shura.

Apesar do impulso de Abdullah à integração das mulheres na vida pública do país, dando-lhes mais direitos laborais, nomeando uma ministra e criando a primeira universidade mista do reino, a monarquia saudita, guardiã de uma versão muito estrita do islão, poucos direitos lhes reconhece.

Para além das restrições que as impedem de conduzir, que impõem um tutor masculino para que possam viajar, trabalhar ou estudar, também terão fortes limitações na forma como podem fazer campanha.

As candidatas não podem ter contacto directo com homens, não podem ir a eventos onde eles estejam presentes ou participar em debates públicos com os candidatos masculinos.

“Se quero ganhar, tenho de me dirigir aos homens e às mulheres. Não posso ganhar se não falar com homens”, disse a ex-candidata Nassima al-Sadah em entrevista ao New York Times. A activista dos direitos das mulheres que se candidatava a Qatif foi afastada da corrida sem justificação clara. O mesmo aconteceu com Tamadour al-Yami, outra candidata que recorreu da decisão. “Não acho que vai mudar nada”, referiu à AFP.

Obedecendo à rigorosa separação de sexos, mulheres e homens irão a votos em diferentes locais, e nenhum candidato pode usar a sua imagem em cartazes de propaganda. Os candidatos que desejem apelar ao voto publicamente terão de se encontrar com eleitores masculinos num dia, e femininos no outro. No que toca à campanha eleitoral das mulheres, as candidatas terão de nomear um porta-voz masculino para se dirigirem aos homens.

Num país monárquico, sem tradição eleitoral, os partidos políticos continuam excluídos e as únicas eleições que existem servem para eleger cargos sem poder de decisão. Apenas 132 mil mulheres se registaram para votar entre as 4,5 milhões consideradas aptas para o fazer.

“Eu digo às minhas estudantes que votar é um luxo que antes não tínhamos”, disse à BBC a professora e candidata Haifa al-Hababi, em Riad. “Para a minha geração era um sonho, para elas não importa, não querem saber”, afirmou.

Texto revisto por Ana Fonseca Pereira