Trabalhistas terão liberdade de voto para aprovar missão militar na Síria
Governo de David Cameron está a ultimar moção para alargar bombardeamentos aéreos contra o Estado Islâmico a alvos na Síria. Líder trabalhista está contra, mas autoriza que bancada parlamentar vote em consciência.
Enredado na sua posição de princípio anti-guerra, mas confrontado com a hipótese de uma insurreição no Governo-sombra e na bancada parlamentar, o líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, aceitou dar liberdade de voto aos membros do Labour na Câmara dos Comuns na apreciação da proposta governamental para o envolvimento do Reino Unido na campanha de bombardeamentos contra alvos do Estado Islâmico na Síria.
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Enredado na sua posição de princípio anti-guerra, mas confrontado com a hipótese de uma insurreição no Governo-sombra e na bancada parlamentar, o líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, aceitou dar liberdade de voto aos membros do Labour na Câmara dos Comuns na apreciação da proposta governamental para o envolvimento do Reino Unido na campanha de bombardeamentos contra alvos do Estado Islâmico na Síria.
Ao desistir da imposição da disciplina de voto – uma decisão que tanto é vista como um “compromisso” que evitou uma ruptura insanável no seio do partido, como uma “reviravolta” que fragiliza a sua posição de líder –, Jeremyn Corbyn deixa a porta aberta à aprovação da proposta que vier a ser apresentada pelo Governo conservador para a participação do Exército britânico na missão aérea internacional em curso contra os jihadistas, que se intensificou após os atentados terroristas de Paris a 13 de Novembro.
A imprensa britânica antecipa que a moção de Downing Street para possa receber entre 60 e 80 votos da bancada trabalhista – um voto de consciência que vai contra a linha oficial definida pelo líder do partido, que está firmemente contra. E apesar de tolerar a dissensão interna, Jeremy Corbyn não facilitou a vida nem aos seus correligionários políticos nem ao Governo e à bancada conservadora, que também não está unida no apoio à proposta de Cameron, exigindo que o debate parlamentar venha a estender-se por dois dias.
“Até agora, ainda não conhecemos os detalhes da proposta do Governo, nem sabemos quando tenciona apresentar a sua moção para ataques aéreos na Síria ou quando pretende marcar o debate. A oposição considera que esta é uma matéria de importância crítica, pelo que deve ser guardado o tempo adequado para que todos os membros que desejam participar no debate o possam fazer”, observou Corbyn, numa carta entregue a David Cameron na tarde desta segunda-feira.
Ausente em Paris, na cimeira do clima, David Cameron respondeu ao início da noite: o debate vai decorrer na quarta-feira, e a votação também. O que quer dizer que Downing Street contou espingardas e acredita ter os votos necessários para levar a sua avante – depois de ver a sua proposta de acção militar contra o Presidente da Síria rejeitada em plenário em 2013, o primeiro-ministro tinha dito que só avançaria nova proposta com a garantia de um “apoio robusto” (leia-se, uma confortável maioria) da câmara à sua estratégia de combate ao Estado Islâmico naquele país.
Mas os assessores governamentais informaram que o rascunho de moção que está presentemente a ser trabalhada vai mais além da acção militar, e incide também sobre outros aspectos da estratégia de combate ao terrorismo, as necessidades de assistência humanitária e ainda o processo diplomático e político na região.
Segundo os comentadores políticos, o líder socialista e os seus aliados confiavam que o adiamento do debate e o atrito da opinião pública viessem dar razão à posição “pacifista” de Jeremyn Corbyn, revelando as lacunas do argumentário a favor da acção militar e expondo as consequências nefastas da proposta do Governo. Os resultados de uma consulta electrónica feita aos militantes trabalhistas, dão força ao líder, apontando para uma forte oposição de 75% dos inquiridos (uma amostragem de 1900 pessoas) ao envolvimento do Reino Unido na missão aérea na Síria (enquanto 13% concordavam e 11% estavam indecisos). Mas politicamente, a liberdade de voto não deixa de ser uma manobra arriscada: a crise interna poderá apenas ter sido debelada por uns dias.
Para George Galloway, antigo deputado expulso do Labour em 2003 por causa da sua feroz oposição à guerra do Iraque, Corbyn cometeu um “erro estratégico e moral de grave magnitude” ao abrir mão da disciplina de voto. As críticas vieram também de fora do partido. A coligação Stop the War, disse que os trabalhistas “pró-guerra” que receberam carta branca para prosseguir na trilha aberta por Tony Blair estavam, consequentemente, a desvalorizar a política oficial e a minar a liderança de Corbyn.
Pelo seu lado, a líder do Partido Nacionalista Escocês, Nicola Sturgeon, manifestou no Twitter a sua perplexidade: “Com que então um partido que diz que é contra bombardeamentos aéreos acaba de tornar uma votação a favor de bombardeamentos aéreos ainda mais provável? Vá-se lá entender…” Os nacionalistas estão unidos na sua oposição à intervenção militar na Síria. Quanto à bancada liberal democrata, esperava-se uma posição até ao fim do dia, mas já era certo que será imposta a disciplina de voto quando a moção for apresentada.