Paris de luta e de esperança
A Cimeira do Clima é o símbolo dos dois maiores desafios da actualidade.
Laurent Fabius, ministro dos Negócios Estrangeiros francês, sintetizou perfeitamente muito do simbolismo político que a partir de hoje se cruza na cimeira de Paris: “A luta contra as alterações climáticas e a luta contra o terrorismo são os dois principais desafios do século XXI.” O que é bem verdade: travar o aquecimento global deixou há muito de ser uma causa de meia dúzia de excêntricos que não comem bifes e são capazes de se mobilizar contra a extinção do pangolim, para se transformar numa política de Estado à escala mundial. Uns mais do que outros, é certo, têm vindo a compreender que não atacar eficazmente a emissão de gases que produzem efeito de estufa e estão a contribuir de forma dramática para as alterações climáticas na Terra é condenar a vida no planeta tal como a conhecemos.
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Laurent Fabius, ministro dos Negócios Estrangeiros francês, sintetizou perfeitamente muito do simbolismo político que a partir de hoje se cruza na cimeira de Paris: “A luta contra as alterações climáticas e a luta contra o terrorismo são os dois principais desafios do século XXI.” O que é bem verdade: travar o aquecimento global deixou há muito de ser uma causa de meia dúzia de excêntricos que não comem bifes e são capazes de se mobilizar contra a extinção do pangolim, para se transformar numa política de Estado à escala mundial. Uns mais do que outros, é certo, têm vindo a compreender que não atacar eficazmente a emissão de gases que produzem efeito de estufa e estão a contribuir de forma dramática para as alterações climáticas na Terra é condenar a vida no planeta tal como a conhecemos.
Da mesma forma, prevenir o terrorismo, indo à raiz das suas causas e perseguir e punir os criminosos onde quer que estejam e tenham os pergaminhos que tiverem, é um imperativo obrigatório para defender os valores civilizacionais caros à humanidade. Mas esse combate deve ser dirigido tanto contra quem põe bombas num comboio de Madrid, no metro de Londres ou num hotel da Tunísia, como contra quem metralha esplanadas, em Paris, destrói templos, em Palmira, ou protege e financia as actividades dos jihadistas. Esteja onde estiver, seja num apartamento, em Molenbeek, num tanque pelas ruas de Mossul ou instalado numa mansão, em Riad. Não pode haver contemplações ou obscuras razões de Estado para poupar quem quer que seja e onde quer que esteja. Não o fazer é também condenar o nosso modo de vida tal como o conhecemos e que passa por coisas tão simples como não ter medo de ir a um concerto numa sexta-feira à noite.
Não fossem os indizíveis atentados de 13 de Novembro e Paris teria ontem vivido um dia glorioso de celebração e festa, antecipando o início de uma cimeira cujo desfecho se apresenta promissor. Apesar dos interesses cruzados e contraditórios que se jogam nas negociações, há muito que não se tinha a sensação de estar tão perto o acordo que pode ajudar a salvar o nosso planeta. O terrorismo estragou a festa, mas não o suficiente para silenciar os franceses, que se desdobraram em iniciativas para enviar mensagens sobre a sua determinação em não abdicarem do direito a viver em paz no seu próprio país e a escolherem as causas que valem a pena. A mobilização em torno da defesa de um tratado pelas alterações climáticas prova que esta é uma luta pela qual estão dispostos a bater-se de forma imaginativa, como a largada de 20 mil sapatos numa praça de Paris em protesto contra o cancelamento da grande manifestação, proibida em nome da segurança. Mas o simbolismo deste gesto também é um alerta contra a tentação securitária que não pode ser um fim em si mesma, sob pena de deixar as democracias reféns dos terroristas. Fabius tem mesmo razão, mas há que ser exigente na altura de exigir resultados.