Sector ferroviário quer poupar 70 mil milhões de euros em custos ambientais até 2050
“A rentabilidade global do caminho-de-ferro é superior à sua rentabilidade financeira”.
Reduzir em 75% as emissões de CO2 até 2050 traduz-se – no sector ferroviário – em poupanças globais para a sociedade no valor de 72 mil milhões de dólares. E é esse o compromisso que 70 empresas de cerca de vinte países assinaram neste sábado em Paris na sede da UIC (União Internacional dos Caminhos de Ferro), no âmbito da Cimeira do Clima.
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Reduzir em 75% as emissões de CO2 até 2050 traduz-se – no sector ferroviário – em poupanças globais para a sociedade no valor de 72 mil milhões de dólares. E é esse o compromisso que 70 empresas de cerca de vinte países assinaram neste sábado em Paris na sede da UIC (União Internacional dos Caminhos de Ferro), no âmbito da Cimeira do Clima.
O sector ferroviário é aqui visto numa perspectiva global incluindo o caminho-de-ferro convencional, mas também todos os sistemas de metros, metros ligeiros e e eléctricos. Basicamente, tudo o que circula sobre carris.
Jean-Pierre Loubinoux, director-geral da UIC, diz que este objectivo não é impossível uma vez que o sector já conseguiu reduzir 40% das emissões de dióxido de carbono desde 1990. “Mil pessoas podem ser transportadas num comboio, em 20 autocarros ou em 500 carros e isto faz toda a diferença no que concerne aos ganhos ambientais do sector ferroviário”, disse, lamentando que normalmente só se façam contas ao retorno líquido dos investimentos neste sector sem ter em conta os ganhos para sociedade. Ganhos esses, não só na criação de empregos durante a construção de novas linhas, como no efeito multiplicador posterior que os mesmos têm na criação de riqueza.
O responsável da UIC diz que na análise dos projectos ferroviários é preciso comparar os benefícios financeiros com o custo da sua não construção. “A rentabilidade global do caminho-de-ferro é superior à sua rentabilidade financeira”, concluiu.
Os 70 mil milhões de euros que se espera obter de ganhos ambientais dependem do contributo dos operadores ferroviários e dos gestores de infraestruturas dos diversos países. Obviamente que a China, ao ter decidido construir 10 mil quilómetros de linhas novas tem um contributo maior que Portugal ou Luxemburgo. Mas Loubinoux fez questão de sublinhar que na UIC todos são importantes nos esforços a fazer para tornar o caminho-de-ferro ainda mais activo.
Manuel Queiró, presidente da CP, diz que, pela sua parte a empresa tem procurado reduzir as emissões de CO2 por duas vias: procurando substituir comboios a diesel por eléctricos e através do aumento da eficiência energética desses comboios. A transportadora pública tem em curso os projectos Ecodrive e Lusogate. O primeiro permite uma condução dos comboios com menos desperdício energético e o segundo é um software desenvolvido por pessoal da EMEF (empresa de manutenção da CP) vocacionado para a poupança de energia.
Mas quanto à substituição de material a diesel por material eléctrico, a empresa pouco pode fazer porque está dependente do lado da Refer (agora designada Infraestruturas de Portugal). E as notícias do lado do gestor das linhas dos comboios não são optimistas porque a optimização em curso no Plano Estratégico de Transportes e Investimentos deixa cair – ou atira para as calendas – algumas centenas de quilómetros de vias férreas por electrificar.
“Por parte da CP temos de ter a capacidade de influenciar as políticas do Estado no sentido de levar à electrificação das linhas”, disse Manuel Queiró.
A UIC é organismo criado em 1922, na sequência da I Grande Guerra destinada, na época, a ajudar a reconstruir os caminhos-de-ferro europeus, mas alargou depois a sua actuação à esfera mundial no âmbito da harmonização e interoperabilidade dos sistemas ferroviários. Tem hoje 240 empresas (públicas e privadas, operadores e gestores de infraestruturas) de 95 países.
*O PÚBLICO viajou a convite da CP e da Infraestruturas de Portugal