O governo e o novo PS
A escolha obedece a um luminoso critério: são, sem faltar um ou uma, criaturas de Costa.
Depois de um mês de fitas sem propósito, nem sentido, o Presidente da República acabou por encarregar Costa de formar governo: uma solução que toda a gente sabia inevitável e ele também. Mas ficou com dezenas de audiências e um molho de papéis na mão, com que ele provavelmente se pensa justificado. Não percebeu com certeza que daqui a dois meses vai desaparecer de cena para grande alívio dos portugueses, que o vêem como o grande responsável pela catástrofe que nos caiu em cima e que desmanchou o equilíbrio político da República. Mesmo no PSD não o conseguem engolir, apesar do seu longo e munificente mandato de primeiro-ministro, de que, para não variar, saiu tão mal como saiu agora, para grande desconsolo do partido e dos seus mais devotos fiéis.
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Depois de um mês de fitas sem propósito, nem sentido, o Presidente da República acabou por encarregar Costa de formar governo: uma solução que toda a gente sabia inevitável e ele também. Mas ficou com dezenas de audiências e um molho de papéis na mão, com que ele provavelmente se pensa justificado. Não percebeu com certeza que daqui a dois meses vai desaparecer de cena para grande alívio dos portugueses, que o vêem como o grande responsável pela catástrofe que nos caiu em cima e que desmanchou o equilíbrio político da República. Mesmo no PSD não o conseguem engolir, apesar do seu longo e munificente mandato de primeiro-ministro, de que, para não variar, saiu tão mal como saiu agora, para grande desconsolo do partido e dos seus mais devotos fiéis.
Entra hoje António Costa, com a esquerda radical arregimentada, à custa de manobras contra Seguro e de uma aliança que não prometeu, nem anunciou, desde que foi “eleito” secretário-geral. Anteontem, este novo patrão (para não lhe chamar coisa pior) anunciou o governo: um governo curioso. Excepto por alguns velhos cavalos de batalha em véspera de reforma, não há nele um único político de nome nacional, já para não falar em prestígio próprio. Ou, por outras palavras, ninguém que se possa opor , até em questões menores, ao dono e senhor de uma tropa desconhecida e fraca. O dr. Costa é omnipotente no PS e arredores, se por acaso o país, como de costume, suportar o vexame; e se o PSD e o CDS não arranjarem maneira de se tornar uma oposição forte e ameaçadora.
A escolha dos srs. ministros, das senhoras ministras, dos 42 Secretários de Estado (e das Sras. Secretárias, claro) obedece a um luminoso critério: são, sem faltar um ou uma, criaturas de Costa. Trabalharam com ele na Justiça, na Administração Interna ou na Câmara de Lisboa; ou foram pescados na província ou no estrangeiro e, tirando um par de “seguristas” e quatro ou cinco antigos protegidos de Sócrates, não têm qualquer ligação aos “notáveis”, nem aos corrilhos do partido. É um grupo pequeno, que serviu para a Assembleia da República, que serve neste momento para nos pastorear e servirá pouco a pouco para transformar o partido socialista no partido costista. Ou seja, num partido mais radical, mais disciplinado e com escasso respeito pela liberdade e pelas liberdades.