Captagon: a qui´mica da jihad?

É desprovido de sentido querer apresentar o captagon como algo potencialmente criador de terroristas. Esta substância parece ser usada pela população em geral dos países onde se encontra em maior circulação, sobretudo em países do Médio Oriente

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Nikolay Doychinov / Reuters

O captagon (fenetilina) é uma substância estimulante que resulta da combinação de d-anfetamina e teofilina. Esta substância, à semelhança de outros estimulantes, inibe a dor e a sensação de medo, causando um estado de euforia, energia e redução do apetite. Esta substância pode ser ingerida por via oral ou intravenosa, sendo que através desta última via de utilização os seus efeitos são potenciados e fazem-se sentir de forma mais imediata.

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O captagon (fenetilina) é uma substância estimulante que resulta da combinação de d-anfetamina e teofilina. Esta substância, à semelhança de outros estimulantes, inibe a dor e a sensação de medo, causando um estado de euforia, energia e redução do apetite. Esta substância pode ser ingerida por via oral ou intravenosa, sendo que através desta última via de utilização os seus efeitos são potenciados e fazem-se sentir de forma mais imediata.

A fenetilina (captagon) foi sintetizada a primeira vez pela farmacêutica alemã Degussa AG em 1961 e foi usada cerca de 25 anos como uma alternativa à anfetamina e outras substâncias relacionadas, nomeadamente para tratamento da hiperactividade, a narcolepsia e a depressão. Uma das vantagens apontadas à fenetilina foi que não aumenta a pressão sanguínea na mesma medida que a anfetamina, podendo ser utilizada em doentes com doenças cardiovasculares. De facto, o captagon foi desenhado para ser uma "smart drug" com efeitos secundários e um potencial de adição inferior ao Adderall. No entanto, a sua utilização foi proibida pela Organização Mundial de Saúde em 1986 alegadamente por ter um elevado potencial aditivo, muito embora o seu potencial aditivo pareça ser inferior ao da anfetamina.

O captagon acabou por se difundir nos contextos recreativos em vários países do Médio Oriente, onde o consumo desta substância tem conhecido um grande aumento. A Síria aparece actualmente como um dos principais mercados de produção e consumo de captagon. Para além deste país também a Bulgária, Sérvia, Montenegro e a Eslovénia aparecem como países onde existe um forte mercado desta substância. Na verdade, não é de estranhar que o captagon seja facilmente produzido nestes países, uma vez que a sua produção é relativamente simples, com baixos custos e sem grandes exigências de equipamento e conhecimentos técnicos.

À semelhança de outras substâncias estimulantes, o captagon aumenta a energia e o poder de concentração, o vigor físico, resistência ao cansaço e inibição do sono, redução do apetite podendo ser experimentados sentimentos de euforia, determinação e inibição de auto censura. Aliás, esta substância apresenta semelhanças com o "speed", aparecendo geralmente na forma de pastilhas.

Talvez pelas suas próprias caraterísticas e pelo mercado onde se encontra mais disponível é apontada como uma substância usada por soldados e por rebeldes, estando supostamente a ser utilizada por militantes do auto-proclamado Estado Islâmico (Daesh), tendo ficado conhecida nos últimos tempos como “a droga dos jihadistas”. Contudo, querer limitar o uso desta substância ao contexto militar é muito redutor, pois ela parece ser usada pela população em geral dos países onde se encontra em maior circulação, sobretudo em países do Médio Oriente. De facto, é desprovido de sentido querer apresentar esta substância como algo potencialmente criador de terroristas. E se é certo que houve um aumento do seu consumo no Médio Oriente, não há dados fiáveis quanto à prevalência do seu consumo, parecendo haver um aumento da utilização das anfetaminas em geral nestes países. Para além disso, o consumo de anfetaminas em contextos militares não é nenhuma novidade, vindo já desde a II Guerra Mundial.

De realçar que embora haja suspeitas que os jihadistas que levaram a cabo os atentados em Paris pudessem estar sob influência desta substância, não há qualquer confirmação oficial, nem tão pouco foram ainda realizados exames toxicológicos que o possam confirmar. É importante realçar que não está confirmado que quem levou a cabo os atentados de Paris tivesse consumido esta substância e, mesmo que se venha a confirmar tal suspeita, o seu uso não deixa de ser instrumental. Na verdade, não parece haver uma razão especial para o uso de captagon em detrimento de outros estimulantes que também permitem uma inibição do cansaço, redução do apetite, aumento da energia e experimentação de estados euforizantes. Tal utilização pode dever-se mais ao facto de ser uma substância que se encontra disponível nos seus países de origem ou em países por onde circularam do que propriamente por características específicas desta substância.