Activistas angolanos consideram o seu julgamento uma “encenação teatral”
"Não tenham expectativas positivas sobre o nosso destino", dizem sete dos 17 acusados numa "tomada de posição" dirigida à "Esfera Pública Nacional e Global".
Sete dos 17 activistas angolanos que estão a responder em Luanda pela acusação de “actos preparatórios” de rebelião divulgaram uma “tomada de posição” em que afirmam que o seu “julgamento não passa de uma encenação teatral”.
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Sete dos 17 activistas angolanos que estão a responder em Luanda pela acusação de “actos preparatórios” de rebelião divulgaram uma “tomada de posição” em que afirmam que o seu “julgamento não passa de uma encenação teatral”.
No texto, divulgado na íntegra pelo site Rede Angola, Domingos da Cruz, Osvaldo Caholo, Arante Kivuko Lopes, José Gomes Hata, Inocêncio de Brito, Luaty Beirão e Albano Bingo Bingo, detidos no hospital-prisão São Paulo, deixam claro o seu entendimento de que até agora nada do que foi apresentado em tribunal desde o início do julgamento, no dia 16, os incrimina.
“Ao fim de duas semanas, em que decorre o julgamento, só assistimos à exibição de supostas provas que não provam nada, que são: livros, vídeos feitos por agentes secretos infiltrados nos debates, actas e programas de curso forjados”, dizem sete dos 15 detidos desde Junho, acusados de quererem derrubar o Presidente, José Eduardo dos Santos. Há duas arguidas em liberdade.
“Não acreditamos nas instituições angolanas sob controlo do grupo dominante, em especial os tribunais. Nunca tivemos a ingenuidade e a ilusão de esperar um julgamento conforme recomenda a civilização pós-moderna”, afirmam logo no início do texto.
O Tribunal Provincial de Luanda é acusado pelos subscritores do texto de estar a “desempenhar dupla função: acusação e arbitragem”. “Coloca-se claramente a favor do Ministério Público e em alguns momentos submete-se.”
Um exemplo desse duplo papel foi, segundo os arguidos, a exibição de uma entrevista a Manuel Nito Alves, extraída do You Tube, por iniciativa do juiz. “Mesmo que tivéssemos cometido algum crime, o ordenamento jurídico angolano não permite a exibição desses meios como prova”, dizem na sua “tomada de posição”.
“Em virtude destas e outras constatações anti-civilizacionais, propomos à esfera pública nacional e global que não tenham expectativa positiva sobre o nosso destino, uma vez que a sentença já está… pelo senhor do poder absoluto”, dizem os sete réus, antes de concluírem que “este julgamento não passa de uma encenação teatral".
Com duas semanas de julgamento, nesta sexta-feira prosseguiu a audição do quinto arguido, Afonso Matias, conhecido como Mbanza Hamza. Na quinta-feira, em resposta à pergunta recorrente sobre 'Quem é o ditador', que tem sido colocada a todos os arguidos, repondeu, segundo o site angolano:“O ditador é o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, há 36 anos no poder sem que nunca tenha sido nominalmente eleito”. Na segunda-feira deve começar a ser ouvido Inocêncio de Brito.