Esquerda remete para Cavaco a culpa pela “crise política”
PS, Bloco, PCP e PEV reiteraram a legitimidade do Governo socialista apoiado pelo Parlamento. Para o PSD, a atitude do PS é “exactamente o oposto do que é a ideia de democracia”.
Foi uma presença inédita numa tomada de posse e que acabou por servir para dizer na rua o que António Costa não podia, a bem do relacionamento institucional, responder ao Presidente da República dentro da sala dos embaixadores. O Bloco de Esquerda remeteu para Cavaco Silva a responsabilidade pela “crise política” que o Chefe de Estado disse ter sido criada com a demissão do Governo PSD/CDS através da rejeição do seu programa no Parlamento, no que acabou por ser seguido por PCP, PEV e PS.
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Foi uma presença inédita numa tomada de posse e que acabou por servir para dizer na rua o que António Costa não podia, a bem do relacionamento institucional, responder ao Presidente da República dentro da sala dos embaixadores. O Bloco de Esquerda remeteu para Cavaco Silva a responsabilidade pela “crise política” que o Chefe de Estado disse ter sido criada com a demissão do Governo PSD/CDS através da rejeição do seu programa no Parlamento, no que acabou por ser seguido por PCP, PEV e PS.
Catarina Martins afirmou que o Presidente “continua a ter um equívoco” sobre a formação deste Governo: disse que saiu de uma crise devido à demissão do Governo PSD/CDS, mas Cavaco Silva “já sabia que ele não teria apoio da maioria parlamentar e seria rejeitado”. “Este não é um Governo saído de uma crise política, mas das eleições”, reforçou. A porta-voz, que se fez acompanhar do líder da bancada, Pedro Filipe Soares, e pelo vice-presidente da AR José Manuel Pureza, vincou que o novo Governo, que tem como principal função “travar o empobrecimento em Portugal”, se baseia num acordo com as forças de esquerda do Parlamento e que a “sua legitimidade vem das eleições”.
“Depois da crise política que o Presidente criou com a nomeação de um Governo PSD/CDS que não tinha condições para entrar em funções, agora põe-se fim a essa crise com a nomeação de um Governo que pode entrar em plenitude de funções”, defendeu o líder parlamentar do PCP. João Oliveira mostrou-se “preocupado” com o facto de o Presidente admitir que ponderou outras soluções, o que é “grave” por desrespeitarem a Constituição, como a “convocação de novas eleições que dessem um resultado diferente ou mantendo em funções um Governo de gestão”.
Manuela Cunha, dirigente do Partido Ecologista Os Verdes, foi ríspida: “Não estamos aqui para ouvir recados do sr. Presidente da República; estamos aqui para ver o que se devia ter cumprido há algum tempo.” Defendeu que o país tem agora uma “normalidade institucional e vai poder virar uma página marcada pela degradação social, ambiental e económica” e que, se o problema se arrastou tanto tempo, ele ficou a dever-se a uma situação que o próprio Presidente da República criou. “Mais do que o discurso, é preciso trabalhar para dar a volta a isto”, afirmou.
Optando por um discurso conciliador, o presidente socialista Carlos César saiu do Palácio da Ajuda defendendo que agora “é altura de reabilitar a economia, de reagrupar forças” e não de agudizar conflitos. “Este Governo não é o resultado de uma divergência, mas de convergência; não é o resultado de uma crise, mas da tentativa de fazer um país melhor e fazer confluir [vários partidos] no esforço de o desenvolver.”
O também líder da bancada parlamentar do PS disse ainda ser intenção deste Governo manter uma “boa relação” com todas as instituições, com o Presidente da República e com todos os partidos no Parlamento, parceiros sociais, iniciativa privada, associativismo e portugueses em geral. Reiterou ser intenção do executivo manter o cumprimento dos compromissos com a NATO e União Europeia, por exemplo.
“Precisamos de tempo para resolver os problemas do país e não perder tempo em conflitos institucionais que são inúteis”, respondeu Carlos César. “Hoje não é o dia do sr. Presidente da República, é o dia do novo governo constitucional”, rematou.
O oposto da moderação
Do lado da nova oposição, só o PSD se pronunciou – os dirigentes do CDS preferiram sair em silêncio. O vice-presidente social-democrata José Matos Correia disse que este Governo toma posse num momento em que o país já inverteu o rumo das dificuldades, por isso “é exigível que o PS tenha a responsabilidade suficiente para dar continuidade ao caminho que tirou o país da crise, porque tem as condições para levar o país onde ele merece estar”.
Recusou fazer qualquer leitura do discurso do Presidente da República, preferiu vincar que o PS optou pelo caminho de derrubar um Governo que tinha sido eleito nas urnas e entender-se com “as forças mais radicais”. O dirigente do PSD criticou o apelo à moderação feito por António Costa, quando a atitude do PS é “exactamente o oposto do que é a ideia de democracia”. O PS “optou pelo caminho de derrubar o Governo que ganhou as eleições e por fazer um entendimento em termos pouco claros com as forças políticas mais radicais da esquerda do parlamento”, disse Matos Correia. Agora, avisou, “terá que viver com essa opção e com os entendimentos que conseguir. Quem fez uma opção dessas tem que viver com ela e é com base nesses apoios que o PS terá que encontrar soluções.”
O candidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa considera que ontem “se virou uma página” e que “terminou um ciclo político no Governo e na Presidência da República”. O que importa agora é "ver se o Governo governa e se apresenta o orçamento rapidamente(…) Os portugueses estão um bocadinho fartos do clima de crise. Querem é ver resolvidos os seus problemas concretos", concluiu, citado pela Lusa.